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Ex-premiê japonês Shinzo Abe é assassinado a tiros durante comício

08/07/2022 13h49

Kashihara, Japão, 8 Jul 2022 (AFP) - O ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe morreu nesta sexta-feira (8) no hospital, poucas horas depois de ser vítima de um ataque com arma de fogo durante um ato de campanha em Nara (oeste do país), um crime que provocou grande comoção no Japão e no exterior.

"Shinzo Abe foi transportado (para o hospital) às 12h20. Ele estava em estado de parada cardíaca na chegada. A reanimação foi administrada. No entanto, infelizmente, ele faleceu às 17h03" (5H03 de Brasília), afirmou Hidetada Fukushima, coordenador de Medicina de Emergência no hospital da Universidade de Medicina de Nara.

O ataque contra o político mais famoso do país, de 67 anos, aconteceu durante um comício para as eleições do Senado de domingo, apesar das rígidas leis no país contra a posse de armas.

A notícia do crime desencadeou uma onda de mensagens de condolências no mundo todo. No Brasil, que abriga a maior comunidade japonesa fora do arquipélago, com cerca de 1,9 milhão de migrantes e descendentes, o presidente Jair Bolsonaro decretou três dias de luto em sinal de solidariedade.

O atual primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, abandonou a campanha eleitoral e viajou a Tóquio de helicóptero.

"Estava rezando para que ele pudesse ser salvo e acabo de tomar conhecimento da notícia de sua morte", disse Kishida, emocionado.

"Não tenho palavras (...) que sua alma descanse em paz" acrescentou.

- Tiros em ato eleitoral -O ataque aconteceu pouco antes do meio-dia em Nara, onde Abe discursava como parte da campanha, quando foram ouvidos tiros, informaram o canal NHK e a agência de notícias Kyodo.

A polícia disse que o assassino confesso de Abe era um desempregado de 41 anos, Tetsuya Yamagami, que alegou ter usado uma arma de fabricação caseira.

"O suspeito afirmou que tinha rancor contra uma determinada organização e confessou ter cometido o crime porque acreditava que (...) Abe estava associado a ela", disse a polícia.

De acordo com vários veículos de comunicação locais, o suspeito já integrou a Força de Autodefesa Marítima Japonesa, a Marinha do país.

Imagens da NHK mostraram policiais usando equipamentos de proteção entrando em um prédio identificado pela emissora como a residência do suspeito em Nara na tarde desta sexta-feira.

A televisão também exibiu imagens mostrando Abe de pé em um palco quando é possível ouvir um grande barulho e observar fumaça.

"Ele estava fazendo um discurso e um homem chegou por trás", disse uma jovem que acompanhava o comício.

"O primeiro tiro soou como uma arma de brinquedo. Ele (Abe) não caiu, mas então aconteceu um estrondo alto. O segundo tiro foi mais visível, dava para ver a explosão e a fumaça", acrescentou.

Abe caiu e sangrava pelo pescoço, afirmou uma fonte de seu partido, o Partido Liberal Democrata (PLD), à agência Jiji.

"Depois do segundo tiro, as pessoas o cercaram e ele recebeu uma massagem cardíaca", disse a testemunha.

Líderes locais do PLD afirmaram que não receberam nenhuma ameaça antes do ataque.

- O primeiro-ministro mais jovem -Abe tinha 52 anos quando assumiu o cargo de primeiro-ministro em 2006 e se tornou a pessoa mais jovem a ocupar a posição.

Seu primeiro mandato foi turbulento, marcado por escândalos e disputas, e terminou com sua renúncia abrupta após um ano.

Ele voltou a ser candidato e retornou ao cargo de primeiro-ministro como um salvador do país em dezembro de 2012.

Afetado pelos efeitos do tsunami em 2011 e o desastre nuclear de Fukushima, o Japão encontrou em Abe um líder considerado confiável.

Abe ficou famoso no exterior por sua estratégia de recuperação econômica, conhecida como "abenomics", iniciada em 2012, na qual misturou flexibilização monetária, grande recuperação orçamentária e reformas estruturais.

- "Grande democrata" -O ataque e a morte de Abe provocaram diversas reações internacionais.

A rainha Elizabeth II enviou uma mensagem de condolências ao imperador Naruhito, afirmando estar "muito triste" com a notícia.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse estar "atônito, emocionado e profundamente entristecido" com um assassinato que classificou como uma "tragédia para o Japão e todos os que o conheceram".

O presidente russo, Vladimir Putin, citou uma "perda irreparável", enquanto os líderes da União Europeia se declararam chocados com a morte "brutal" do ex-primeiro-ministro japonês, que chamaram de "grande democrata".

"No Japão não acontecia algo do tipo há mais de 50 ou 60 anos", declarou à AFP Corey Wallace, especialista em política japonesa da Universidade de Kanagawa.

De acordo com o analista, o último ataque parecido no país foi o assassinato em 1960 de Inejiro Asanuma, o líder do Partido Socialista Japonês, esfaqueado por um estudante ligado à extrema-direita.

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