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Giorgia Meloni, a líder pós-fascista que luta contra sua 'demonização'

10/08/2022 13h53

Giorgia Meloni pode se tornar a primeira mulher a ser nomeada chefe de governo na Itália. Presidente do Fratelli d'Italia (Irmãos da Itália), partido de extrema direita, ela luta contra a "demonização" de seu movimento pós-fascista.

Essa romana de 45 anos se orgulha de sua popularidade nas pesquisas, já que domina as intenções de voto para as eleições legislativas de 25 de setembro com mais de 23%, à frente do Partido Democrático de centro-esquerda.

Um fenômeno surpreendente, já que nas eleições legislativas de 2013 ela não chegou a obter 2% dos votos.

Em dez anos, Meloni conseguiu canalizar o sentimento de descontentamento e as esperanças frustradas dos italianos em relação às "ordens" da União Europeia, ao alto custo de vida e à incerteza dos jovens sobre o futuro.

Seu lema é "Deus, pátria e família". Suas prioridades são fechar as fronteiras para proteger a Itália da "islamização" e renegociar os tratados europeus para que Roma recupere o controle de seu próprio destino.

Outra prioridade é lutar contra os grupos de defesa dos direitos LGBTQIA+ e contra o "inverno demográfico", o envelhecimento de sua população, em um dos países com mais idosos do mundo.

Em 6 de outubro de 2016, ela denunciou em seu perfil no Facebook o que chamou de "substituição étnica" na Itália.

"Meloni representa um ponto de referência para os que protestam, para quem está desiludido", afirma Sofia Ventura, professora de ciências políticas da Universidade de Bolonha.

Hoje, ela representa os que estão fartos do sistema, aqueles que pedem a saída de todos. O partido antissistema Movimento Cinco Estrelas acabou fazendo parte de todos os governos desde a vitória alcançada em 2018, assim como a Liga de Matteo Salvini, uma formação de extrema direita que despertou o desejo de mudança.

- 'Uma relação serena com o fascismo' -

A líder do partido herdeiro do Movimento Social Italiano (MSI), uma legenda neofascista fundada após a Segunda Guerra Mundial, tentou esclarecer, nesta quarta-feira (10), sua relação controversa com o fascismo.

"A direita italiana relegou o fascismo à história de décadas atrás, condenando inequivocamente a privação da democracia e as infames leis antijudaicas", disse Meloni em um vídeo enviado em vários idiomas para a mídia estrangeira credenciada na Itália.

No entanto, o emblema do Fratelli d'Italia ostenta a chama tricolor verde, branca e vermelha, um símbolo inventado em 1946 pelo grupo de veteranos fascistas que fundaram o MSI.

"Tenho uma relação serena com o facismo", explicou Meloni alguns meses atrás, após afirmar que Benito Mussolini "fez muito", embora tenha cometido "erros", entre os quais listou as leis raciais, a entrada na guerra como aliado da Alemanha nazista e seu estilo de governo autoritário.

Para ampliar seu eleitorado e tranquilizar os setores moderados, a líder romana se apresenta como fiadora da "emancipação ideológica" dos italianos contra "princípios e símbolos fascistas". 

Entretanto, para o jornal de centro-esquerda La Repubblica, "os fatos contradizem sua história", já que tanto a base de seu partido quanto alguns de seus líderes permanecem muito apegados às suas raízes.

"Não há lugar para os nostálgicos do fascismo, do racismo e do antissemitismo", proclamou em outra ocasião.

- 'Sou italiana, sou cristã' -

Nascida no dia 15 de janeiro de 1977 na Roma, Giorgia Meloni é militante desde os 15 anos em associações estudantis classificadas como de extrema direita, enquanto trabalhava como babá e garçonete.

Em 1996, tornou-se líder do sindicato Azione Studentesca, cujo emblema era a Cruz Celta.

Em 2006, obteve o certificado de jornalista e também foi eleita deputada e vice-presidente da Câmara dos Deputados.

Dois anos mais tarde, foi nomeada Ministra da Juventude no governo de Silvio Berlusconi.

Sua juventude, tenacidade e a linguagem direta conquistaram as redes. Seu discurso ficou famoso em 2019, quando ela se definiu: "Sou Giorgia. Sou mulher, sou mãe, sou italiana, sou cristã".

Zelosa com sua vida privada, é mãe de uma filha nascida em 2006 e vive separada do pai da criança, um jornalista da televisão.

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© Agence France-Presse