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Equipes de Lula e Bolsonaro iniciam transição e protestos perdem força

03/11/2022 15h25

A transição de governo já começou: representantes do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e do atual incumbente, Jair Bolsonaro (PL), se reuniram pela primeira vez nesta quinta-feira (3), enquanto os bloqueios rodoviários de parte de apoiadores do presidente eram cada vez menos numerosos.

"A transição já começou", disse a jornalistas o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, após manter uma conversa "bastante proveitosa" e "objetiva" com o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira.

Encarregado por Lula para coordenar a transição de governo, o moderado Alckmin (PSD), ex-governador de São Paulo, reuniu-se com Bolsonaro nesta quinta em reunião fora da agenda do Palácio do Planalto.

"(O encontro) foi positivo. O presidente me convidou para que eu fosse até o seu gabinete e reiterou (...) a disposição do governo federal de prestar todas as informações, colaborações, para que se tenha uma transição pautada pelo interesse público", declarou Alckmin.

O vice-eleito já tinha dialogado anteriormente com representantes de Bolsonaro, em meio às incertezas provocadas pelo silêncio de quase dois dias do presidente após sua derrota no domingo e pelos bloqueios viários que se seguiram.

Alckmin, de 69 anos, afirmou que vai definir os integrantes da equipe de transição após se reunir nos próximos dias com o presidente eleito, de 77 anos, que - disse - está descansando após meses de uma intensa campanha eleitoral.

A equipe de Lula, que por lei pode incluir até 50 funcionários, vai trabalhar a partir de segunda-feira e durante os próximos dois meses nos escritórios do Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília.

Também participou da reunião a presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffman, e o coordenador do programa de governo de Lula, Aloizio Mercadante.

Anteriormente, Alckmin se reuniu com o relator do orçamento no Senado a fim de encontrar formas de incluir nas despesas federais de 2023 as promessas de campanha de Lula, que assume o cargo em 1º de janeiro.

Lula terá que enfrentar ventos contrários para conseguir aprovar suas reformas no Congresso: os conservadores conseguiram resultados notáveis nas legislativas e o Partido Liberal (PL) de Bolsonaro será a principal força nas duas Câmaras.

- "Última chance!" -

A primeira reunião entre representantes de Lula e Bolsonaro ocorreu enquanto os protestos nas ruas e bloqueios rodoviários de apoiadores do presidente, indignados com a vitória de Lula, diminuíam.

Alckmin denunciou duramente os bloqueios, destacando que podem comprometer "a saúde das pessoas", o "abastecimento de hospitais" e trazer "prejuízos" para a economia. "O direito de ir e vir é sagrado".

Após a vitória apertada de Lula, apoiadores de Bolsonaro bloquearam estradas em todo o país, provocando problemas no transporte de mercadorias e nos deslocamentos.

Na quarta-feira, dia de Finados, milhares de bolsonaristas se reuniram em frente a quartéis nas principais cidades do país para pedir uma intervenção militar.

No Rio de Janeiro, apenas algumas dezenas de pessoas permaneciam na manhã desta quinta-feira em frente ao Comando Militar do Leste, no centro da cidade, algumas delas após terem passado a noite acampadas no local.

"Eu acredito que a gente vai ter uma ditadura comunista" com Lula, disse à AFP Jéssica dos Santos Ferreira, de 31 anos. "É um ladrão, não é um exemplo para o meu filho de 11 anos", afirmou a empresária disposta a permanecer no local até uma suposta intervenção militar.

Autoridades rodoviárias informaram que nesta quinta-feira havia 32 bloqueios parciais ou totais - frente aos mais de 250 na terça -, depois que Bolsonaro, que não admitiu abertamente sua derrota nas eleições, pediu que seus seguidores pusessem um fim a estas ações.

- Polêmicas -

Presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro Alexandre de Moraes denunciou essas manifestações. "Aqueles que, criminosamente, não estão aceitando os resultados e, criminosamente, estão praticando atos antidemocráticos serão tratados como criminosos, e as suas responsabilidades serão apuradas".

"Não há como se contestar resultado democraticamente divulgado com movimentos ilícitos e movimentos antidemocráticos", afirmou.

Alguns casos geraram polêmica, como um vídeo que viralizou e mostra bolsonaristas supostamente fazendo uma saudação nazista durante um protesto contra a vitória de Lula em Santa Catarina.

o vídeo - que teve dois milhões de visualizações nas redes sociais desde a terça-feira, segundo a equipe de checagem da AFP - suscitou a condenação do embaixador alemão e da Confederação Israelita do Brasil (Conib).

No entanto, uma investigação oficial estabeleceu de forma preliminar que não há provas de que tenha se tratado de um ato de apologia ao nazismo.

raa-rsr/app/mr/mvv/am

© Agence France-Presse