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Protestos contra governo peruano recomeçam com bloqueio de estradas

04/01/2023 15h50

Os protestos no Peru contra a presidente Dina Boluarte, sucessora do deposto Pedro Castillo, foram retomados nesta quarta-feira (4), com bloqueios de estradas e manifestações em várias regiões.

O governo já esperava, conforme antecipou na semana passada, o retorno das manifestações, que exigem a renúncia de Dina, o fechamento do Congresso e a convocação imediata de eleições.

Os protestos acontecem em regiões onde Castillo, um professor rural de esquerda, conta com amplo apoio. "Existem dez pontos de bloqueio, especialmente em Puno" (sudeste), afirmou mais cedo o chefe do gabinete de ministros, Alberto Otárola, depois da instalação, em Lima, de um centro de monitoramento e controle de crises.

A Defensoria do Povo reportou posteriormente manifestações, paralisações e bloqueios em 30 das 195 províncias peruanas.

Em Arequipa (sul), a polícia desbloqueou uma estrada usando gás lacrimogêneo para dispersar dezenas de pessoas. Um confronto entre manifestantes e as forças de ordem foi registrado nos arredores do aeroporto, segundo a Defensoria.

No Centro de Lima, a polícia dispersou com gás lacrimogêneo dezenas de cidadãos que tentavam chegar ao Congresso após se manifestarem na Praça 2 de Maio.

Bloqueios de estradas com pedras e pneus também ocorreram nas regiões de Junín (centro), Cusco e Apurímac (sudeste).

Em Puerto Maldonado, região amazônica de Madre de Dios (sudeste), manifestantes bloquearam um trecho da via Interoceânica, que liga o Peru ao Brasil.

No entanto, "os aeroportos estão funcionando normalmente", observou Otárola.

- Sem trens para Machu Picchu -

Por precaução, o trem entre Cusco e a cidadela inca de Machu Picchu, joia do turismo do país, foi suspenso nesta quarta por tempo indeterminado, a fim de garantir a segurança dos turistas, informou a empresa que administra o serviço.

Além disso, cerca de 2.000 turistas estrangeiros e peruanos foram evacuados voluntariamente de Machu Picchu para Cusco, indicou a polícia. Aqueles que preferiram ficar, podiam entrar na cidadela, informou o Ministério da Cultura.

"Implementamos procedimentos para a evacuação imediata, se necessário, até áreas seguras, para a proteção dos turistas", disse a pasta no Twitter.

Nos protestos do fim de 2022, milhares de visitantes ficaram presos em Machu Picchu e Cusco, com a interrupção da via férrea e o fechamento do aeroporto, após uma tentativa de tomada pelos manifestantes.

Como vice-presidente, Boluarte substituiu Castillo, que em 7 de dezembro de 2022 tentou, sem sucesso, dar um golpe de Estado. Acabou sendo destituído pelo Congresso e, então, preso para ser investigado por rebelião.

Após a queda de Castillo, teve início uma onda de protestos violentos no centro e no sul do Peru, onde o ex-governante tem mais apoiadores. Foram reprimidos pelas forças de segurança, deixando 22 mortos e mais de 600 feridos, vários deles baleados.

O governo prometeu uma investigação para identificar os responsáveis, em meio a críticas por um suposto uso excessivo da força.

- Apelo à paz -

As manifestações haviam encolhido muito por cerca de duas semanas, mas sindicatos e organizações indígenas e camponesas as retomaram nesta quarta.

Prédios públicos e aeroportos nas regiões onde foram anunciados protestos amanheceram resguardados por policiais e militares. Estes últimos foram autorizados a intervir após a declaração, em dezembro, de um estado de emergência.

"Queremos que o Congresso seja fechado e que haja uma solução logo (...) Não queremos mais mortes, queremos tranquilidade", afirmou à AFP Rita Suaña, residente das ilhas de Uros, em Puno, na fronteira com a Bolívia. 

De Lima, Boluarte pediu o fim da violência, alertando que gera "atraso, dor, perdas econômicas". "Faço um apelo pela paz, a calma, a unidade para promover o desenvolvimento da pátria", disse.

Em uma tentativa de aplacar as reivindicações, em dezembro, o Parlamento antecipou as eleições de 2026 para abril de 2024. Mas Milan Knezvich, presidente da Frente de Luta da cidade de Abancay, em Apurímac, garantiu que os protestos continuarão.

"Ninguém vai querer dialogar com ela. Enquanto a senhora Dina Boluarte não renunciar, isso vai seguir em frente", declarou à rádio Exitosa.

Por outro lado, membros de grupos sociais, políticos e religiosos também marcharam ontem em várias regiões do Peru contra a reativação dos protestos. A chamada "Marcha pela Paz, Violência Nunca Mais", promovida principalmente pelos movimentos de direita e centro-direita do país, reuniu centenas de pessoas.

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© Agence France-Presse