Topo

Esse conteúdo é antigo

Reino Unido e EUA acusados de 'crimes contra a humanidade' nas Ilhas Chagos

ONG de direitos humanos Human Rights Watch publicou relatório com depoimentos de pessoas deslocadas do disputado arquipélago indiano. - Kirby Crawford/HRW/Divulgação
ONG de direitos humanos Human Rights Watch publicou relatório com depoimentos de pessoas deslocadas do disputado arquipélago indiano. Imagem: Kirby Crawford/HRW/Divulgação

15/02/2023 07h47

A ONG de direitos humanos Human Rights Watch acusou nesta quarta-feira (15) o Reino Unido e os Estados Unidos de crimes contra a humanidade ao deslocar pessoas do disputado arquipélago indiano de Chagos, denúncia que Londres refutou "categoricamente".

A organização publicou um relatório de mais de 100 páginas, baseado em dezenas de depoimentos e documentos oficiais, para destacar que a "perseguição racial" de Londres com o apoio de Washington neste arquipélago situado ao nordeste das Ilhas Maurício constitui "um crime colonial".

Uma porta-voz do ministério das Relações Exteriores britânico disse à AFP que "respeita o trabalho que a Human Rights Watch faz em todo o mundo", mas "rejeita categoricamente essa caracterização dos fatos".

"O Reino Unido deixou claro que lamenta profundamente a forma como o povo de Chagos foi expulso do BIOT (British Indian Ocean Territory, Território Britânico do Oceano Índico, formado por dezenas de ilhas, ndr) no final dos anos 1960 e início da década de 1970", disse ela.

E assegurou que o governo está "comprometido em apoiá-los, com um pacote significativo de apoio e uma nova via para a cidadania britânica lançada em novembro".

O arquipélago de Chagos está no centro de uma disputa que remonta a mais de cinco décadas. Desde 1965, é administrado pelo Reino Unido, que decidiu estabelecer uma base militar conjunta com os Estados Unidos na ilha principal de Diego Garcia.

O Reino Unido expulsou quase 2.000 moradores para a república de Maurício e as vizinhas Seychelles para abrir caminho para a base militar. Os mauricianos de Chagos acusam o Reino Unido de "ocupação ilegal".

Segundo a HRW, o Reino Unido e os Estados Unidos devem oferecer reparação integral à população local e permitir que voltem a viver em seu arquipélago.

"O Reino Unido agora está cometendo um terrível crime colonial ao tratar o povo de Chagos como um povo sem direitos", disse Clive Baldwin, autor do relatório.

A organização identifica três crimes contra a humanidade: um crime colonial contínuo de deslocamento forçado, a prevenção do retorno para casa pelo Reino Unido e a perseguição racial e étnica do Reino Unido.

Maurício, que conquistou a independência em 1968, reivindica o território de Chagos e sua soberania.

Uma resolução da Assembleia Geral da ONU de maio de 2019 pede, entre outras coisas, para "reconhecer o arquipélago de Chagos como parte integrante do território das Ilhas Maurício, apoiar a descolonização de Maurício o mais rápido possível e abster-se de obstruir este processo".

Essa resolução seguiu uma sentença no mesmo sentido proferida pela Corte Internacional de Justiça alguns meses antes.

No mês passado, o Reino Unido e as Ilhas Maurício iniciaram negociações sobre a soberania do arquipélago, mas, segundo o ministro das Relações Exteriores britânico, James Cleverly, os dois países concordaram que a base militar continuaria funcionando.

jj-vg-acc/mb/aa

© Agence France-Presse