Topo

'Luta pela vida', povos indígenas pedem a palavra na ONU para solucionar crise climática

17/04/2023 15h38

A luta contra a crise climática passa pelo reconhecimento dos direitos dos povos indígenas, reivindicaram, nesta segunda-feira (17), seus representantes na abertura do Fórum de Povos Indígenas da ONU em Nova York, que contou com a presença do presidente colombiano, Gustavo Petro, e da ministra brasileira dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara.

Com o título "Povos indígenas, saúde humana, saúde planetária e territorial e mudança climática: uma abordagem baseada em direitos", este fórum, que está sendo realizado presencialmente pela primeira vez desde o início da pandemia de covid-19 há três anos, centenas de representantes de todo o mundo querem ser parte do debate mundial pelo clima.

A crise climática pode ser solucionada com o fim da extração "de petróleo, carvão e gás", disse o presidente colombiano no Fórum de Povos Indígenas das Nações Unidas, primeira etapa de sua visita aos Estados Unidos, onde se reunirá com o presidente Joe Biden.

"Acreditar que se possa resolver a crise climática com reflorestamento, com revitalização das florestas [...] não é verdade", afirmou o governante colombiano, para quem a solução é "parar de extrair petróleo, carvão e gás" e trocar a "dívida [dos países] pela ação climática".

Assim, acrescentou Petro, será criado "um espaço financeiro público" que ajude a "planejar as ações concretas para solucionar os eixos centrais que estão sendo provocados pela crise climática", um discurso recebido com aplausos pelos representantes indígenas de todo o mundo reunidos na Assembleia Geral.

"Não é que esteja pregando a grande revolução contra o grande capital", observou, mas "não podemos esperar do mercado, do capital, a solução para a crise climática" porque levou "40 anos [...] para nos convencer de que o mercado pode resolver tudo". 

- Agenda indígena -

Por sua vez, a ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sônia Guajajara, pediu que o debate global sobre a crise climática acrescente na agenda "a pauta indígena [...] para garantir a demarcação dos territórios indígenas, a proteção desses territórios, a segurança dos indígenas dentro dos seus territórios".

Além disso, pediu proteção e respeito aos "direitos culturais e aos modos de vida" desses povos originários, que representam 5% da população mundial, e que os tratados internacionais, como o Acordo de Paris, "sejam efetivados em políticas locais".

"Nunca mais um Brasil sem nós, nunca mais uma Nações Unidas sem nós, os povos indígenas", disse a ministra brasileira, que abriu as portas para que o Brasil possa sediar o próximo encontro global de povos indígenas, Alta+10, para "discutir e definir as nossas estratégias".

"É uma luta por direito, é uma luta por respeito, mas, sobretudo, é uma luta pela vida", disse Guajajara em uma coletiva de imprensa.

"Contar com os povos indígenas é uma necessidade global", disse, por sua vez, o presidente do fórum, o colombiano da nação Zenú, Darío José Mejía Montoya.

Como lembrou o secretário-geral da ONU, António Guterres, os povos indígenas "vivem na linha de frente da emergência climática", apesar de "não terem feito nada para causar a crise climática".

Guterres também pediu que esses povos sejam ouvidos porque têm "muitas soluções para a crise climática", além de serem "guardiões da biodiversidade do mundo".

- Linha de frente da crise climática -

Os povos indígenas "vivem na linha de frente da emergência climática", apesar de "não terem feito nada para causar a crise climática", ressaltou, por sua vez, o secretário-geral da ONU, António Guterres, que discursou neste fórum pela primeira vez em mais de uma década.

Guterres também pediu que esses povos sejam ouvidos porque têm "muitas soluções para a crise climática", além de serem "os guardiões da biodiversidade do mundo".

Segundo a ONU, 80% da biodiversidade do planeta está nos territórios dos povos originários.

Eles "podem cuidar melhor da terra do que qualquer outra cultura", destacou Petro, que mencionou a cúpula dos dez países que compartilham a floresta amazônica que acontecerá em agosto no Brasil, em Belém do Pará, para construir um programa comum que permita "possibilitar o fluxo do dinheiro que é necessário para construir um patrimônio comum"

CA Colômbia, que tem 4,4% de população indígena, dedicará mais de 150 milhões de dólares (R$ 741 milhões na cotação atual) para revitalizar a parte colombiana da Amazônia, anunciou.

Os povos indígenas - mais de 5.000 culturas que falam mais de 4.000 idiomas - representam 5% da população do planeta, mas compõem 15% dos mais pobres, segundo a ONU, que lembra que os mesmos estão perdendo suas terras, seus direitos e seus recursos. 

af/gm/db/dga/ic/mvv/rpr

© Agence France-Presse