Conteúdo publicado há 8 meses

Oposição venezuelana anuncia candidata presidencial em meio a cerco judicial

A liberal María Corina Machado, que venceu as primárias oposicionistas, foi anunciada, nesta quinta-feira (26), como candidata única da oposição às eleições presidenciais da Venezuela de 2024, um dia após o Ministério Público anunciar uma investigação contra os organizadores desta eleição interna.

Machado, inabilitada para exercer cargos públicos por 15 anos, recebeu 92% dos votos dos 2,4 milhões registrados pela Comissão Nacional das Primárias (CNP) e que o governo rejeitou, classificando-os como fraudulentos.

"As primárias são uma conquista democrática, cidadã, pacífica, constitucional e eleitoral", afirmou o presidente da CNP, Jesús María Casal, na cerimônia de anúncio, sem fazer referência direta à investigação aberta pela Justiça.

"Alcançamos uma elevada taxa de participação" e "com alegria proclamamos a candidatura única e damos lugar a uma etapa também pacífica e democrática para o bem da Venezuela", completou.

O procurador Tarek William Saab anunciou na quarta-feira a abertura de uma investigação contra Casal, sua vice-presidente Mildred Camero e outros integrantes da organização das primárias da oposição.

Saab, de linha pró-governo, designou dois magistrados para a realização desta investigação por suposta usurpação de funções eleitorais e de identidade, além da lavagem de dinheiro e associação criminosa. 

"Estarei presente quando me convocarem ao Ministério Público", disse Camero à AFP. "Não me sinto mal, não tenho complexo de culpa. O que [o procurador] diz é diferente do que realmente fizemos, mas esses serão assuntos que serão discutidos no tribunal", declarou.

"As acusações não têm fundamento, mas como eles têm o poder e fazem um exercício autoritário do poder, é possível que tomem alguma medida fora do marco do direito", disse, por sua vez, Víctor Márquez, também integrante da CNP.

- 'Contradição' -

As primárias foram organizadas pela própria oposição, sem a gestão do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) que, após meses de evasivas, finalmente propôs no último minuto o adiamento do processo por um mês para que conseguisse administrá-lo.

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O processo, que contou com a votação e a apuração de forma manual, foi muito criticado por dirigentes chavistas, que citaram manipulação dos números.

Machado condenou a "ofensiva" contra a CNP, que também descreveu como uma "contradição". 

"É totalmente ineficaz, o processo foi realizado, o resultado e o efeito político foram extraordinários [...], e todos os venezuelanos confiam nesses resultados", afirmou.

A ONU também informou que acompanha de perto "os acontecimentos" na Venezuela e pediu às autoridades para "garantir a plena adesão e o respeito aos direitos políticos e eleitorais" dos venezuelanos.

O porta-voz do secretário-geral da ONU, Stéphane Dujarric, pediu a implementação de "boa-fé" do acordo assinado na mesa de diálogo entre governo e oposição, que marca as eleições presidenciais para o segundo semestre de 2024, com observação internacional.

O chefe do Parlamento de maioria chavista, Jorge Rodríguez, convocou o corpo diplomático nesta quinta-feira para a apresentação de provas da "fraude brutal montada" no domingo - quando, garante, participaram menos de 600.000 pessoas -, e pedir "respeito à dinâmica interna do país" após a reunião realizada por Machado com representantes estrangeiros credenciados na Venezuela.

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As primárias foram realizadas cinco dias após a assinatura de um acordo em Barbados entre a oposição e o governo, que definiu as eleições presidenciais para o segundo semestre de 2024 com observação internacional, com a questão das desqualificações de opositores como Machado ainda pendente. 

O presidente Nicolás Maduro, por sua vez, convocou, também para esta quinta, uma "Conferência nacional pelo diálogo, a paz e a convivência", que reuniu parlamentares, empresários, acadêmicos e membros da delegação chavista na mesa, chefiada por Jorge Rodríguez.

Durante o encontro, foi aprovado um documento pedindo a suspensão das sanções e para "desconsiderar e rejeitar ameaças e chantagens que põem em risco o acordo de Barbados".

"Quando assinamos [o acordo] em Barbados, o fizemos livres de condicionamento e chantagem, o fizemos por consciência", disse o presidente.

Os Estados Unidos flexibilizaram por seis meses um embargo petroleiro contra a Venezuela, mas condicionaram a medida à suspensão das inabilitações como a de Machado, um tema espinhoso para o chavismo.

"O problema da inabilitação foi resolvido por dois milhões e meio de venezuelanos", insistiu a candidata, evitando comentar como vai conseguir inscrever sua candidatura.

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© Agence France-Presse

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