'Ondas de soldados': a estratégia 'zumbi' de Putin após fracasso de blindados
Depois do fracasso dos ataques blindados, o Exército russo envia agora os seus homens "em ondas" para tentar cercar Avdiivka, com perdas massivas, como em Bakhmut, segundo soldados ucranianos que defendem esta cidade do leste.
"Todos os campos estão cheios de cadáveres. [Os russos] tentam esgotar as nossas linhas com ondas constantes de ataques" de combatentes a pé, disse Oleksandre, subcomandante de um batalhão ucraniano da 47ª brigada mecanizada, quando questionado sobre esta cidade industrial do Donbass.
Com quase 30 mil habitantes antes da guerra, Avdiivka está agora em grande parte destruída e apenas 1.500 pessoas ainda vivem lá, apesar dos incessantes combates e bombardeios.
Durante nove anos, as forças ucranianas estiveram entrincheiradas atrás de sólidas fortificações, especialmente no sul, cujos últimos subúrbios ficam a apenas 5 km dos de Donetsk, a capital controlada pela Rússia da região com o mesmo nome.
A cidade marca a linha de frente nesta região e simboliza a resistência ucraniana. No início de outubro, as forças de Moscou lançaram uma ofensiva em grande escala para cercá-la e conquistá-la.
"Colunas de tanques e veículos blindados de transporte de tropas avançaram, mas saltaram para campos minados, foram atingidos por drones ucranianos ou mísseis antitanque", indica "Trauma", seu nome militar, de 29 anos, operador de drones na 47ª brigada.
De acordo com uma fonte ocidental entrevistada recentemente, o Exército russo perdeu mais de 200 veículos blindados nestes ataques, com baixas ucranianas "consideravelmente inferiores" às dos russos nesta área.
Após os ataques de outubro, as forças de Kiev tiveram que ceder terreno, mas as suas defesas resistiram.
Desde então, os russos "mudaram para táticas de infantaria, avançando exclusivamente às custas da força humana", especialmente no nordeste de Avdiivka, afirma o subcomandante do batalhão.
Como nos filmes de zumbi
O Estado-Maior ucraniano indicou, na manhã desta quinta-feira, que em 24 horas os defensores do "eixo Avdiivka" repeliram "trinta ataques".
A Infantaria russa "se move em grupos de 5 a 7 combatentes, às vezes mais", à noite até sua última posição, detalha. "Depois, de manhã cedo, eles lançam ataques", acrescenta o operador do drone.
"Nossa artilharia os atinge. Alguns morrem, outros seguem em frente. É como nos filmes de zumbi", continua o jovem, que diz que é "muito parecido com o que aconteceu em Bakhmut".
A cidade de Bakhmut, 50 km ao norte, foi tomada pelos russos em maio, após meses de combates sangrentos. Ondas de combatentes, muitas vezes recrutados nas prisões com a promessa de indulto se sobrevivessem, invadiram as linhas ucranianas.
Aqueles que caíram sob os disparos foram imediatamente substituídos por outros.
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Quero receberA mesma coisa acontece em Avdiivka. Os russos "veem inúmeros cadáveres [de camaradas], mas não desistem", enfatiza Oleksandre.
Ao nordeste da cidade, soldados de Moscou aproximaram-se da maior fábrica de coque da Ucrânia, que se estende por 340 hectares, e da aldeia de Stepoveh, a 2 km de Berdichi, por onde passa a última rodovia de acesso a Avdiivka.
"Esta estrada é vital. Se a cortarem, vai complicar as entradas, evacuações e abastecimentos. Mas isso não significa que vão parar, pois procuram a oportunidade de tomar a cidade", avalia o subcomandante do batalhão.
Os russos ocupam os flancos leste e sul de Avdiivka. Entre eles, os ucranianos controlam uma faixa com cerca de oito quilômetros de largura, da cidade ao noroeste.
O oficial garante que as forças ucranianas destacadas são suficientes para "manter a defesa" da cidade. "Não há razão para retirar as tropas e desistir da cidade", insiste.
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