Em emergência orçamentária, universidades desafiam cortes de Milei na Argentina

Estudantes universitários convocaram, nesta terça-feira (23), uma manifestação na Argentina em repúdio à falta de financiamento do ensino público superior, da pesquisa e da ciência no âmbito do ajuste econômico do presidente de direita Javier Milei, uma reivindicação apoiada por sindicatos e partidos da oposição. 

Nas principais cidades do país, estudantes, licenciados, docentes e auxiliares das 57 universidades federais sairão às ruas "em defesa do ensino universitário público gratuito" em manifestações que, segundo as previsões, serão massivas. 

As universidades declararam emergência orçamentária depois que o governo decidiu prorrogar para este ano o mesmo orçamento que recebeu em 2023, apesar da inflação interanual que atingiu 290% em março.

Milei recusou-se a adaptar o orçamento em favor da sua política de déficit zero comprometida com o Fundo Monetário Internacional. "Não esperem que perca a mão no gasto público", alertou na segunda-feira ao anunciar na televisão nacional que as contas públicas registraram um superávit no primeiro trimestre, embora com milhares de demissões, um colapso da atividade econômica e do consumo. 

Na semana passada e no calor dos protestos universitários, concedeu-lhes "aumentar as rubricas de despesas operacionais em 70% em março e outros 70% em maio", além de uma quantia extraordinária para os hospitais universitários, disse o porta-voz presidencial Manuel Adorni, na segunda-feira.

As despesas operacionais excluem os salários docentes, que representam 90% do orçamento universitário. 

Os reforços contrastam com o custo das tarifas de energia, que aumentaram 500% este mês, colocando as universidades à beira da paralisação, disseram as autoridades. 

"Pelo ritmo que estão nos dando dinheiro, só poderemos funcionar de dois a três meses", disse o reitor da Universidade de Buenos Aires (UBA), Ricardo Gelpi.

Milei questionou a transparência do uso de fundos e a qualidade do ensino ao sugerir que as universidades públicas "são usadas para negócios obscuros e doutrinação", escreveu ele na rede X no fim de semana. 

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Cerca de 2,2 milhões de pessoas estudam no sistema universitário público, escolhido por 80% dos estudantes em vez de instituições privadas, em um país com quase metade da sua população na pobreza. 

O sistema de ensino superior federal goza de grande prestígio acadêmico e foi o berço dos cinco ganhadores do Prêmio Nobel da Argentina, três deles em ciências exatas, além de inúmeros pesquisadores premiados, de desenvolvimentos científicos e tecnológicos reconhecidos mundialmente. 

A maioria dos líderes argentinos formou-se no sistema público, assim como metade do atual gabinete de ministros, enquanto Milei é economista pela universidade privada de Belgrano.

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© Agence France-Presse

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