ChatGPT e IA conversacional continuam incapazes de raciocinar, diz estudo

Os grandes modelos de linguagem (LLM, na sigla em inglês), como o ChatGPT, um dos sistemas de inteligência artificial (IA) mais populares do mundo, ainda seguem tendo dificuldades para raciocinar usando a lógica e cometem erros frequentes, de acordo com um estudo.

Estes robôs conversacionais refletem os preconceitos de gênero, éticos e morais dos humanos presentes nos textos dos quais se alimentam, recorda o estudo publicado na quarta-feira (5) na revista Open Science da Royal Society britânica.

Mas eles também refletem estes preconceitos nos testes de raciocínio?, questionou Olivia Macmillan-Scott, doutoranda do departamento de Ciências da Computação da University College de Londres (UCL).

O resultado da pesquisa é que os LLM mostram "um raciocínio muitas vezes irracional, mas de uma forma diferente da dos humanos", explica a pesquisadora à AFP.

Sob a supervisão de Mirco Musolesi, professor e diretor do Machine Intelligence Lab da UCL, Macmillan-Scott apresentou sete modelos de linguagem ? duas versões do ChatGPT (3.5 e 4), da OpenAI, Bard, do Google, Claude 2, da Anthropic, e três versões de LLaMA, da Meta ? a uma série de testes psicológicos desenvolvidos para humanos.

Como esta tecnologia aborda o preconceito que leva a privilegiar soluções com um maior número de elementos, em detrimento daquelas com uma proporção adequada? 

Um exemplo: se tivermos uma urna com nove bolinhas brancas e uma vermelha e outra urna com 92 bolinhas brancas e 8 vermelhas, qual devemos escolher para ter a melhor chance de obter uma bolinha vermelha?

A resposta correta é a primeira urna, visto que há 10% de possibilidades frente a 8% da segunda opção. 

As respostas dos modelos de linguagem foram muito inconsistentes. Alguns responderam corretamente ao mesmo teste seis em cada dez vezes. Outros apenas duas em cada dez, embora o teste não tenha mudado. "Cada vez obtemos uma resposta diferente", diz a pesquisadora.

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Os LLM "podem ser bons para resolver uma equação matemática complicada, mas logo te dizem que 7 mais 3 é igual a 12", constatou.

- "Não tenho muita certeza" -

Estes modelos "não falham nestas tarefas da mesma forma que um humano", afirma o estudo. É o que Musolesi chama de "erros de máquina".

"Existe uma forma de raciocínio lógico que é potencialmente correta se a considerarmos por etapas, mas que é errada tomada como um todo", ressalta.

A máquina funciona com "uma espécie de pensamento linear", diz o professor, e cita o modelo Bard (atual Gemini), capaz de realizar corretamente as diferentes fases de uma tarefa, mas que obtém um resultado final incorreto por não ter uma visão geral.

Sobre esta questão, o professor de ciências da computação Maxime Amblard, da University of Lorraine, na França, recorda que os LLM, como todas as inteligências artificiais generativas, não funcionam como os humanos".

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Os humanos são "máquinas capazes de criar significado", o que as máquinas não conseguem, explica à AFP.

Existem diferenças entre os diferentes modelos de linguagem e em geral, o GPT-4, sem ser infalível, obteve resultados melhores que os demais.

Macmillan-Scott suspeita que os modelos "fechados", cujo código operacional permanece secreto, "incorporam mecanismos em segundo plano" para responder a questões matemáticas.

De toda forma, neste momento é impensável confiar uma decisão importante a um LLM. Segundo o professor Musolesi, eles deveriam ser treinados para responder "não tenho muita certeza" quando necessário.

pcl/juc/pc/acc/yr

© Agence France-Presse

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