Estudantes palestinos em Cuba também vivem a guerra

A milhares de quilômetros de Gaza, Samar Alghoul, uma estudante de medicina em Cuba, viveu os oito meses de guerra entre Hamas e Israel no dilema de voltar à sua terra para estar ao lado de sua família ou seguir se preparando para conquistar seu sonho profissional. 

Samar, que divide quarto com outras seis meninas em uma residência estudantil em Havana, disse que muitas vezes quis voltar para ficar com sua mãe, irmã e dois irmãos a Gaza. "É mais fácil para mim estar com eles do que com todos esses pensamentos", sem saber "o que bebem, o que comem, onde dormem". 

Mas esquece essas ideias quando se lembra do que sua mãe lhe disse em raras ligações: "Estamos orgulhosos de você, de que temos um membro da família fora de Gaza, para estudar medicina", narra à AFP a jovem de 21 anos. 

Samar soube que sua família teve que se deslocar várias vezes por causa de bombardeios. Uma delas após um ataque a uma mesquita próxima à casa onde estavam. Tiveram que sair no meio dos escombros. Recentemente, se mudaram para Deir al-Balah de um local que não tinha água nem internet. 

"Abrem o Whatsapp, me enviam uma mensagem de 'estamos bem'. Não sei quando vou ter notícias", disse a jovem com um hijab sobre a cabeça.

Em seu segundo ano de medicina, Samar recuperou as forças após uma profunda depressão. Se tornou ativista e agora seu objetivo não é só estudar, mas também difundir "a causa palestina". 

A jovem está entre os 75 habitantes de Gaza dos 247 bolsistas palestinos que estão estudando medicina em Cuba com o apoio do governo cubano, diz o embaixador Akram Samhan.

A tradição cubana de receber estudantes estrangeiros em suas universidades - uma parte com bolsas de estudos - permitiu que 1.500 palestinos se formassem profissionalmente de maneira gratuita desde 1974 na ilha, revela o diplomata. 

Após a perda de seu melhor amigo no início da guerra, Motte Almashar, outro estudante de 24 anos, recorda que não conseguia se concentrar. 

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Agora, Motee e seus amigos estão tentando voltar à normalidade "para aliviar um pouco o estresse". "Mas quando você toca o telefone, você vê as notícias" e é impossível, admite ele no pequeno apartamento em que mora em Havana. 

Uma das últimas vezes que ele falou com sua mãe "ela estava muito triste" com um bombardeio no início de maio em Rafah, sua cidade natal. "Meus primos, três de meus tios, uma tia e minha avó foram mortos. Toda a família da minha mãe", lamenta. 

Quando o Hamas atacou Israel em 7 de outubro, era noite em Cuba e Mohammed Refat Almassri, que perdeu um tio e oito primos, estava conversando com seis amigos palestinos na sala de estar do apartamento onde mora em um bairro lotado de Havana. Um espaço cheio de bandeiras e kufiyuas pendurados nas paredes. 

"Eu sabia que haveria uma reação catastrófica" de Israel, diz o jovem de 26 anos, que está prestes a se formar como médico.

lp/mar/dd

© Agence France-Presse

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