Procuradoria da Guatemala pede retirada da imunidade do presidente Arévalo

A Procuradoria da Guatemala pediu à Suprema Corte, nesta quarta-feira (21), a retirada da imunidade do presidente Bernardo Arévalo, ao acusá-lo de autorizar pagamentos "ilegais" a empreiteiras, em um novo capítulo da longa disputa que trava com o presidente.

"Foi apresentada" à Suprema Corte a solicitação de "retirada de julgamento da denúncia contra o senhor presidente" por abuso de autoridade, usurpação de atribuições e ações que violam a Constituição, o que pode levar à retirada da imunidade, disse o promotor Rafael Curruchiche, durante coletiva de imprensa.

O julgamento da denúncia é o direito de não ser investigado até que um juiz aprove o início das investigações. No caso do presidente, a lei estabelece que se a Corte autorizar o processo, deve submetê-lo ao Congresso que tomará a decisão sobre a imunidade.

O promotor, sancionado pelos Estados Unidos e pela União Europeia por ser considerado "corrupto" e "antidemocrático", acusou o presidente social-democrata de ter mandado a ex-ministra das Comunicações, Jazmín de la Vega, efetuar pagamentos de contratos de empresas supostamente envolvidas em atos de corrupção.

- "Disparates" -

"Os disparates do senhor Curruchiche não têm cabimento em nenhuma ação penal", reagiu a Secretaria de Comunicação Social da Presidência, em mensagem enviada à imprensa.

Se uma investigação criminal for iniciada contra o presidente, a Procuradoria pode pedir uma ordem de prisão preventiva contra ele e, se a Justiça a conceder, lhe custará o cargo.

O pedido "não surpreende", disse à AFP Manfredo Marroquín, da filial local da ONG Transparência Internacional, considerando que "perseguir o novo governo tem sido a política do Ministério Público". 

"Também não surpreende a agilidade" com que atua contra Arévalo "enquanto bloqueia" as denúncias de corrupção no governo passado, do direitista Alejandro Giammattei (2020-2024), aliado da procuradora-geral, Consuelo Porras.

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O caso contra Arévalo resulta de uma denúncia apresentada em 16 de julho por Ricardo Méndez Ruiz, da ultradireitista Fundação contra o Terrorismo e também sancionado por Washington por corrupção.

"O senhor presidente [...] é a principal pessoa que fomenta a corrupção e fomenta a impunidade na Guatemala", afirmou Curruchiche, chefe da Procuradoria Especial Contra a Impunidade (FECI), responsável por casos de alto impacto.

O promotor apresentou o áudio de uma conversa entre Arévalo e a então ministra gravado em maio, que foi divulgado pela imprensa local.

Na conversa, o presidente notifica a Vega sua destituição por não cumprir a ordem de pagar empresas conforme uma lista definida. 

No início de agosto, Arévalo confirmou a autenticidade do áudio e indicou que as listas de pagamento foram elaboradas após verificar que as obras estavam em andamento.

Em 2021, Curruchiche assumiu a chefia da FECI e é acusado de perseguir ex-promotores de atuação contra máfias, além de jornalistas e críticos de Giammattei e Porras.

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- Arévalo versus Porras -

O novo pedido é mais um capítulo da tensão entre Arévalo, que tem o apoio dos Estados Unidos e da União Europeia, e a procuradora Porras, considerada "corrupta" por Washington e pelo bloco europeu.

A disputa começou em 2023, quando a Procuradoria iniciou uma investigação contra o partido Semilla, de Arévalo, após chegar ao segundo turno prometendo mão de ferro contra a corrupção.

Por esse caso, a Procuradoria mantém outro pedido para investigar Arévalo por suposta lavagem de dinheiro na formação do partido. 

Na semana passada, o juiz Fredy Orellana, também sancionado por Washington, enviou Ligia Hernández, funcionária próxima de Arévalo, para prisão preventiva pelo processo contra o Semilla.

Na terça-feira, o Ministério Público pediu a retirada da imunidade do secretário-geral da Presidência, Juan Gerardo Guerrero, para investigá-lo por suposto abuso de autoridade na destituição do presidente de um banco de capital misto.

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Arévalo, no poder desde janeiro, não tem poder para destituir Porras, cujo mandato termina em maio de 2026. Para destitui-la, apresentou um projeto de lei para que esta competência lhe seja outorgada, mas o texto está bloqueado no Congresso. 

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© Agence France-Presse

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