Mais de 50 países adotam restrições de deslocamento contra opositores, denuncia Freedom House

Mais de 50 países, incluindo Nicarágua, Cuba e Venezuela, adotam medidas repressivas contra a liberdade de deslocamento dos opositores, com a retirada da nacionalidade, a proibição de viagens, retenção dos documentos de identidade ou rejeição de serviços consulares, alertou a organização Freedom House nesta quinta-feira.

Em seu relatório anual sobre a "repressão transnacional", a ONG americana recorda que estes tipos de restrições integram uma coerção "menos visível" que os assassinatos ou sequestros.

O fenômeno da "repressão transnacional" ganhou evidência com o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi no consulado do seu país em Istambul em 2018, quando ele pretendia obter os documentos para casar com sua noiva turca.

Cinquenta e cinco Estados utilizam pelo menos um destes quatro tipos de restrição à liberdade de deslocamento de seus cidadãos, segundo o relatório, que se baseou em entrevistas com 31 pessoas da Arábia Saudita, Belarus, Índia, Nicarágua e Ruanda.

As medidas visam tanto dissidentes individuais como ativistas pró-democracia, como os de Hong Kong exilados no Reino Unido, ou grupos inteiros, como os eritreus que vivem no exterior, destaca a ONG.

Em 2023, o governo do presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, retirou a nacionalidade de 222 opositores presos pouco depois de deportá-los para os Estados Unidos.

Os opositores foram obrigados a assinar um formulário em que consentiam com a deportação. "É como uma arma na cabeça: ou você assina ou fica aqui e volta para a prisão", explicou Juan Lorenzo Holmann.

Outros 94 nicaraguenses, a maioria no exílio, perderam a cidadania e seus bens.

Félix Maradiaga, ativista político exilado, declarou à Freedom House, da qual é integrante do conselho diretor, que na Nicarágua as proibições de viagens também afetam parentes de opositores, que não podem comprar passagens de avião ou ônibus porque o governo compartilha os dados com as empresas de transporte. 

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As medidas têm um forte impacto, explica Carlos Fernando Chamorro, fundador do site de notícias Confidencial. "Não tenho uma identidade válida na Nicarágua e meus filhos não têm pai nem mãe porque o pai e a mãe não existem", disse.

A retirada da nacionalidade é uma medida generalizada no Oriente Médio e afetou centenas de pessoas na última década no Bahrein, Egito, Kuwait e Emirados Árabes Unidos.

Dos 55 Estados, ao menos 40 impõem proibições de saída ou entrada no país, segundo o relatório.

Em muitos países, como Índia e Arábia Saudita, não existe uma lista oficial de pessoas afetadas, o que significa que a relação não é oficial e os afetados tomam conhecimento das proibições no aeroporto ou por meio de rumores.

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© Agence France-Presse

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