Meta encerra abruptamente seu programa de 'fact-checking' nos EUA
A gigante das redes sociais Meta anunciou, nesta terça-feira (7), que encerrará o seu programa de fact-checking (verificação digital de fatos) nos Estados Unidos, uma reviravolta em suas políticas de moderação de conteúdo, que se alinha com as prioridades do futuro presidente americano, Donald Trump.
"Vamos eliminar os fact-checkers [checadores] para substitui-los por notas da comunidade semelhantes às do X [antigo Twitter], começando nos Estados Unidos", escreveu nas redes sociais o fundador e CEO da Meta, Mark Zuckerberg.
O diretor-executivo afirmou que os verificadores de fatos "têm sido muito parciais politicamente e destruíram mais confiança do que construíram, especialmente nos Estados Unidos".
Essa função será substituída "por notas comunitárias semelhantes às do X", acrescentou, referindo-se a um tipo especial de comentário que permite que os próprios usuários colaborem adicionando contexto a outras publicações. Um sistema que busca garantir a confiabilidade das informações por meio do consenso, em vez da moderação de conteúdo.
Trump comemorou a decisão. Em declarações à imprensa em sua residência em Mar-a-Lago, na Flórida, o presidente eleito dos Estados Unidos expressou sua satisfação com o anúncio da Meta, e quando questionado se ele acreditava que a mudança teria sido uma resposta às suas ameaças a Zuckerberg, respondeu: "Provavelmente, sim".
O diretor-executivo da Meta anunciou que os sites da companhia, incluindo o Facebook e o Instagram, "simplificariam" suas políticas de conteúdo para se livrar de "muitas restrições sobre tópicos como imigração e gênero que simplesmente não se conectam com o discurso dominante".
Atualmente, a Agence France-Presse (AFP) trabalha com o programa de verificação de conteúdo do Facebook em 26 idiomas. O grupo paga para usar as verificações de cerca de 80 organizações de todo o mundo em suas redes sociais, incluindo WhatsApp e Instagram.
Angie Drobnic Holan, diretora da International Fact-Checking Network, organização que reúne checadores de todo o mundo, alertou que a mudança ocorre após uma "pressão política extrema".
A decisão "vai afetar os usuários de redes sociais que buscam informações precisas e confiáveis para tomar decisões em sua vida cotidiana e em interações com amigos e familiares", disse.
- Recompor a relação -
O anúncio da Meta ressalta muitas das críticas dos republicanos e do proprietário do X, Elon Musk, sobre os programas de verificação de fatos que muitos conservadores consideram censura.
O fundador da Tesla e da SpaceX, Musk, comemorou a decisão nesta terça-feira. "É legal", disse nas redes, junto com uma captura de tela de um artigo intitulado "Facebook dispensa os 'fact-checkers' em uma tentativa de 'restaurar' a liberdade de expressão".
Zuckerberg afirmou no anúncio que "as eleições recentes [de 5 de novembro] parecem ser um ponto de inflexão cultural para, mais uma vez, priorizar a liberdade de expressão".
Esta mudança de estratégia ocorre no momento em que o CEO tem feito esforços para se reconciliar com o presidente eleito dos EUA, incluindo uma doação de US$ 1 milhão (R$ 6,1 milhões na cotação atual) para seu fundo de posse. O republicano assumirá o cargo na Casa Branca em 20 de janeiro.
Trump tem sido um crítico severo da Meta e de Zuckerberg nos últimos anos, acusando a empresa de apoiar políticas liberais e de ter uma visão tendenciosa contra os conservadores.
O magnata republicano foi expulso do Facebook depois que seus partidários invadiram o Capitólio em 6 de janeiro de 2021, em Washington, em uma tentativa de impedir a certificação da vitória do rival democrata Joe Biden. No entanto, a empresa restabeleceu sua conta no início de 2023.
- Gestos corporativos -
Zuckerberg também jantou com o futuro presidente na residência de Trump em Mar-a-Lago, em novembro, em outra tentativa de consertar o relacionamento da empresa com o candidato republicano após sua vitória eleitoral.
Outro gesto recente do CEO da Meta para com o governo Trump foi a nomeação, na semana passada, de Joel Kaplan, um membro do partido republicano, para chefiar os assuntos públicos da companhia, substituindo Nick Clegg, ex-vice-primeiro-ministro britânico.
"Muito conteúdo inofensivo é censurado, muitas pessoas são injustamente presas na 'cadeia do Facebook'", disse Kaplan em um comunicado, insistindo que a abordagem atual da moderação de conteúdo "foi longe demais".
Zuckerberg também nomeou Dana White, diretor do Ultimate Fighting Championship (UFC), um aliado próximo de Trump, para a diretoria da Meta.
Como parte da reestruturação, a Meta disse que transferirá suas equipes de confiança e segurança da Califórnia (oeste), onde as opiniões liberais são generalizadas, para o Texas (sul), um estado mais conservador.
"Isso nos ajudará a criar confiança para fazer esse trabalho em lugares onde há menos preocupação com os preconceitos de nossas equipes", disse Zuckerberg.
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© Agence France-Presse
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