O que se sabe sobre o acordo entre Ucrânia e EUA para explorar recursos minerais

Após um impasse entre Donald Trump e Volodimir Zelensky, Kiev e Washington estão perto de chegar a um acordo sobre a exploração dos recursos minerais da Ucrânia, cujos valores econômicos e contrapartidas de segurança são desconhecidos. 

O presidente ucraniano disse publicamente nesta quarta-feira (26) que o compromisso com os Estados Unidos sobre a exploração dos recursos minerais de seu país é mais um "acordo-quadro" que pode se transformar em um pacto mais ambicioso dependendo de suas conversas com o presidente Donald Trump. 

"Pode ser um grande sucesso ou simplesmente desaparecer", acrescentou.

Segue o que que se sabe até o momento.

- Um fundo comum 

O presidente americano insiste que quer "recuperar o dinheiro" da ajuda concedida à Ucrânia desde o início da invasão russa, há três anos. 

Fontes ucranianas disseram que a proposta inicial de Washington equivalia a "nos extorquir 500 bilhões de dólares (2,88 trilhões de reais)", quatro vezes o valor da ajuda de Washington até agora, de 120 bilhões de dólares (693 bilhões de reais), segundo dados do Instituto Kiel para a Economia Mundial (IfW Kiel). 

O presidente ucraniano rejeitou o acordo, recusando-se a assinar um documento que pesaria sobre "dez gerações de ucranianos". 

Segundo uma fonte ucraniana informada sobre o conteúdo do acordo e contatada pela AFP na noite de terça-feira, a reivindicação financeira dos EUA não está mais no texto. 

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O documento prevê a exploração conjunta dos recursos minerais da Ucrânia pelos americanos e ucranianos e que seu lucros sejam aplicados em um fundo comum aos dois países. 

Segundo a autoridade ucraniana, os americanos concordaram em remover "todas as cláusulas que não nos convinham, em particular a referente aos 500 bilhões".

- Uma formulação vaga em relação à segurança

Como condição, Kiev pede a seus aliados garantias de segurança, ou seja, um mecanismo político-militar que desestimule a Rússia de lançar um novo ataque no futuro. 

A Ucrânia acredita que a melhor garantia seria a adesão à Otan, um cenário rejeitado por Washington e considerado uma linha vermelha pelo Kremlin. 

Outra exigência ucraniana é o envio de tropas de manutenção da paz, assim que um cessar-fogo for acordado com a Rússia. 

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Os Estados Unidos deixaram claro que não enviarão suas próprias tropas, embora acolham com satisfação o envio de soldados de países europeus. 

O texto do acordo sobre minerais incluiria uma referência à segurança da Ucrânia, mas nenhuma garantia concreta. A questão está atualmente em negociação, segundo a autoridade ucraniana contatada pela AFP. 

"Esta é uma cláusula geral, que indica que os Estados Unidos investirão em uma Ucrânia soberana, estável e próspera, e trabalharão por uma paz duradoura", disse. 

- Quais são os minerais? 

A Ucrânia é responsável por cerca de 5% dos recursos minerais do mundo. Aqueles nos quais Trump está particularmente interessado não estão sendo explorados, são de difícil acesso ou estão localizados em território ocupado pela Rússia. 

A Ucrânia produz três minerais essenciais em particular: manganês (oitavo maior produtor mundial, segundo o World Mining Data), titânio (11º maior produtor do mundo) e grafite (14º maior produtor), essencial para baterias elétricas. 

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A Ucrânia é responsável por "20% dos recursos mundiais estimados desse mineral", segundo o Serviço Geológico Francês (BRGM, na sigla em francês). 

Segundo a mesma fonte, a Ucrânia é também "um dos principais países da Europa em termos de potencial" para a exploração de lítio, essencial na fabricação de baterias para carros elétricos. 

A Ucrânia afirma ter "uma das maiores reservas" de lítio da Europa, embora não esteja sendo explorada atualmente. Explorar esses depósitos exigiria investimentos colossais. 

Como exemplo, o governo ucraniano aponta que somente a exploração da mina de Novopoltavske, na região de Zaporizhzhia, exigiria um investimento de cerca de 300 milhões de dólares (1,7 bilhão de reais). 

Estima-se que haja apatita, tântalo, nióbio, estrôncio, terras raras e até urânio. Mas tudo isso está em território ocupado pelos militares russos, e o Kremlin descartou ceder áreas sob seu controle. 

Vladimir Putin disse, no entanto, que é a favor de os americanos invistam nessas zonas ocupadas. 

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Outro exemplo é a mina de Shevchenkivske, que contém lítio, tântalo, nióbio e berílio e está localizada a menos de 10 km da frente de batalha, em um setor, Pokrovsk, onde o Exército russo ganha terreno das forças ucranianas há meses.

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© Agence France-Presse

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