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Representante da FAO defende maior participação da mulher nos espaços políticos

Andreia Verdélio - Repórter da Agência Brasil

23/03/2017 18h04

Representante da FAO no Brasil, Alan Bojanic diz o empoderamento é importante para que as mulheres assumam posições de liderançaJosé Cruz/Agência Brasil O representante da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) no Brasil, Alan Bojanic, defendeu hoje (23) maior presença das mulheres nos espaços de poder e nas tomadas de decisões, visando a proteger os seus direitos, que muitas vezes não são reconhecidos. A afirmação foi feita durante o lançamento da campanha internacional #MulheresRurais, Mulheres com Direitos. A ação, lançada hoje (23) em Brasília pela Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead), tem o objetivo de empoderar e dar visibilidade à mulheres rurais e ao trabalho que desempenham elas para o desenvolvimento socioeconômico e sustentável. Para Bojanic, o empoderamento é importante para que as mulheres assumam essa posição de liderança e consigam apoio na formulação de políticas pública para garantir a equidade de gênero. "A ideia é entender que a realidade da mulher rural é, na maioria dos casos, de não ter acessos a recursos, se tem é muito limitado, sempre vai estar em desvantagem em relação aos homens para acessar serviços, assistência técnica, crédito e titulação de terras", disse ele, ao lembrar que, em vários países da América Latina, as mulheres rurais lidam com muitas desigualdades. Segundo a FAO, as mulheres rurais cumprem uma série de funções-chave para a segurança alimentar regional, mas enfrentam altas taxas de pobreza, insegurança alimentar e obesidade. Mais de 14 milhões de mulheres que estão nas lavouras, comunidades quilombolas e indígenas, nas reservas extrativistas são protagonistas da agricultura familiar no Brasil e 45% dos produtos são plantados e colhidos pelas mãos femininas. Segundo o Censo Agropecuário de 2006, 12,68% dos estabelecimentos rurais têm mulheres como responsáveis, bem como 16% dos estabelecimentos da agricultura familiar. Falha na comunicação A agricultora Selene Hammer Tesch, de 53 anos, é uma dessa mulheres. Ela foi escolhida embaixadora da campanha na Região Sudeste. Natural de Santa Maria de Jetibá, região serrana do Espírito Santo, Selene está à frente de duas organizações de agricultores familiares da região e de uma chácara que tem mais de 300 variedades de produtos, entre hortaliças e temperos. A agricultora Selene Tesch (à direita) é embaixadora da campanha na Região SudesteJosé Cruz/Agência Brasil Selene casou-se aos 16 anos, tem oito filhos e conquistou muitos benefícios para a sua comunidade. Mas, segundo a agricultora, as informações não chegam a muitas mulheres. "A mulher está conquistando seu espaço no meio rural, mas está muito devagar, falta muita informação, nem todo mundo tem comunicação, só TV mesmo, e na TV isso não passa", disse. "Mulher nenhuma quer ser melhor que o homem, mas pelo menos a gente quer ser igual", acrescentou. Para o secretário técnico da Reunião Especializada da Agricultura Familiar do Mercosul (Reaf), Lautaro Viscay, há muito mais casos de insucesso que de sucesso. "O maior problema é que ainda tem muitas mulheres a que as políticas não chegam. Não chegam as políticas nem os direitos nem a possibilidade de ser uma cidadã", disse. Segundo Viscay, a campanha é um complemento para essas políticas, para informar e sensibilizar, mas o desafio é ter uma construção participativa e mais qualidade de políticas públicas nos territórios, nos municípios e nas organizaçãoes de mulheres. Incentivos aos jovens Para a agricultora Bruna Dariva, de 28 anos, a sucessão familiar no campo está caminhando a passos lentos. "O tempo da agricultura é um tempo diferente, precisamos respeitar o tempo orgânico das coisas, mas acredito que é preciso mostrar aos jovens que é possível ter a mesma qualidade de vida, ou até mais, no interior do que na cidade, com o mesmo acesso à tecnologia. Assim a agricultura familiar vai se fortalecer cada dia mais", disse. Bruna, embaixadora da Região Sul na campanha, assumiu há cinco anos a agroindústria da família, que produz cerca de 3 mil quilos de queijo por mês. Ela chegou a deixar a casa da família no interior, mas acabou voltando e hoje também é presidente da feira do produtor de Erechim (RS). No local, 45 famílias expõem seus produtos, 70% dessas famílias são geridas por mulheres. "Encontramos bastante preconceito por parte dos homens por estar na agricultura, a mulher tem que provar todos os dias que é melhor no que faz. A mulher sendo valorizada vai conseguir cada dia mais alcançar mais pessoas", disse Bruna. A campanha #MulheresRurais, Mulheres com Direitos é liderada pela FAO e pela Reaf e abrange a América Latina e o Caribe. No Brasil, a Sead vai realizar ações e publicar uma série de reportagens que darão visibilidade ao trabalho feminino no campo, além de oficinas, encontros de capacitação e empreendedorismo feminino, mutirões de serviço e atividades culturais. A Sead já oferece programas específicos para fomentar a autonomia social e econômica. As iniciativas incluem a emissão de documentos civis e trabalhistas, assistência técnica e acesso diferenciado a financiamentos de projetos e à comercialização para os mercados institucionais. A campanha segue até novembro e as ações podem ser acompanhadas no site www.mulheresrurais.com.br.