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Cabral admite compra de joias para a mulher com sobras de campanha

Flávia Villela - Repórter da Agência Brasil

24/05/2017 16h02

O ex-governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral prestou depoimento durante 20 minutos ao juiz da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, Marcelo Bretas, responsável pela Operação Calicute, um desdobramento da Lava Jato. Ao ser interrogado, Cabral respondeu apenas as perguntas da própria defesa. Este foi o último interrogatório de Cabral no processo. Cabral ficou em silêncio durante quase toda a audiência realizada no auditório da Justiça Federal, centro da capital fluminense. Ele respondeu apenas uma pergunta do juiz Bretas, quando negou ter desafetos entre as testemunhas e réus que se pronunciaram no processo. O ex-governador admitiu que comprava joias da joalheria Antônio Bernades à esposa, Adriana Ancelmo, em espécie, em datas festivas e voltou a admitir que o dinheiro vinha de sobras de campanha eleitoral. Ele voltou a negar, como fez em outras audiências, que a esposa soubesse de esquemas de caixa 2 orquestrados por ele. "Sempre respeitamos nossas individualidades. Jamais interferi no dia a dia do escritório dela e jamais ela interferiu no meu dia a dia. Nunca recebi nenhum valor do escritório de Adriana", declarou. Propina O ex-governador afirmou que nunca recebeu vantagens indevidas por parte das empreiteiras Andrade Gutierrez e Carioca Engenharia. Cabral disse que se reuniu com representantes da Andrade Gutierrez apenas para tratar de temas técnicos relacionados às obras contratadas pelo governo do estado. Cabral negou ainda saber da existência de caixa 2 na campanha à reeleição do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), em 2014, confirmado pelo ex-secretário de Obras de seu governo, Hudson Braga. Segundo Braga, que está preso, a Andrade Gutierrez pagou 1% de propina para autoridades públicas sobre o contrato do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Favelas em Manguinhos, na zona norte do Rio, e que o suborno era conhecido como "taxa de oxigênio". Ministério Público O Ministério Público Federal (MPF) terá três dias para fazer diligências. O procurador Leonardo Cardoso de Freitas informou que o MP não tem dúvidas de que Cabral chefiou organização criminosa e desviou milhões dos cofres do estado e da União. "Nada do que foi dito hoje pelo senhor Sergio Cabral foi capaz de abalar nossa convicção na prova produzida e nos fatos imputados a ele e aos demais réus. O Ministério Público vai pedir sua condenação", disse o procurador que lamentou o fato de Cabral ter se negado a responder as perguntas do juiz e do MP. "Várias pessoas corroboraram tudo que foi dito na denúncia, réus confessaram o crime. Gostaria de saber se todas essas pessoas fizeram um complô contra ele. Essa é uma indagação que gostaria de ter feito a ele", disse o procurador. A defesa também terá três dias para se manifestar. A sentença da Justiça deve sair em julho, após as considerações finais da defesa de Cabral e do MP, que devem durar pelo menos uma semana. Denúncia Ontem, a Justiça aceitou nova denúncia do Ministério Público Federal (MPF) contra o ex-governador e outras nove pessoas. Eles são acusados de receber quase R$ 47 milhões de propina da Carioca Engenharia em troca de fraudes em licitações e superfaturamento de obras públicas. Esta foi a nona denúncia contra Cabral. Cabral foi preso preventivamente em novembro do ano passado e aguarda decisão da Justiça, no presídio Bangu 8, no Complexo de Gericinó. Ele é acusado de ter liderado esquema de corrupção, quando era governador, com superfaturamento de obras públicas.