Aliados não acompanham PT em oposição radicalizada
Os dois partidos tentam se livrar da imagem de linha auxiliar dos petistas e dizem estar elaborando uma estratégia própria de atuação. Na Câmara, a ideia do PDT é tentar se diferenciar de uma eventual oposição "a qualquer custo" do PT. À frente de uma bancada de 20 parlamentares, o líder do partido na Casa, deputado Weverton Rocha (MA), defende que a legenda deve construir uma linha oposicionista "construtiva, e não irresponsável igual ao PT". "Não é inteligente, por exemplo, o PT fazer obstrução a medidas provisórias que eles próprios editaram. Não acho coerente isso."
Nas últimas votações na Casa, o PDT já deu sinais dessa nova estratégia. Na terça-feira passada, por exemplo, o PT obstruiu por seis horas a votação na Câmara de uma medida provisória editada por Dilma que autorizava a União a reincorporar trechos da malha rodoviária federal transferidos aos Estados e ao Distrito Federal. Na madrugada do dia seguinte, o partido da presidente afastada tentou obstruir a votação da alteração da meta fiscal. Nos dois casos, o PDT não acompanhou a sigla petista.
O PDT está preocupado com as eleições de 2018, quando pretende lançar o ex-ministro Ciro Gomes (CE) candidato à Presidência da República. "Como o PDT tem projeto próprio em 2018, vamos tentar protagonizar uma frente de oposição. Temos que ter uma postura diferenciada, para deixar claro que temos caminho próprio", disse o líder pedetista.
'A reboque'
Embora tenha tentado obstruir a votação da revisão da meta fiscal como o PT, o PC do B também passou a adotar o discurso de que é preciso fazer uma oposição "inteligente" no Congresso. "Não é oposição a qualquer custo. Não adianta fazer oposição igual ao PT", afirma o deputado Orlando Silva (PC do B-SP). Segundo ele, a legenda pretende se aproximar mais do PDT, para fazer uma "estratégia de oposição comum". "Não ficaremos a reboque do PT."
No caso do PC do B, esse distanciamento do PT teve um motivo adicional. Nas últimas semanas, as duas siglas disputaram a liderança da minoria na Câmara. O PC do B queria emplacar a deputada Jandira Feghali (RJ). O PT, contudo, não abriu mão da indicação, que cabia ao partido, por ter a maior bancada. "Como pode o (José) Guimarães (CE), ex-líder do governo, assumir a minoria? Foi uma sinalização negativa de que já aceitamos que seremos definitivamente minoria", afirmou Silva.
Para o líder do PDT, o PCdoB começou a perceber que é possível ter posturas diferenciadas na Casa, sem precisar ter a marca de que toda a oposição é vinculada ao PT. Na avaliação do pedetista, isso não significa que os partidos estão isolando o PT. "Eles que acabam se isolando em vários momentos", disse. "Talvez está na hora de o PT fazer uma autocrítica e ter humildade de reconhecer que no campo político deles tem outras opções e que eles podem apoiar."
Essa posição dos principais aliados do PT pode fragilizar a estratégia do partido diante do governo Temer. Segundo o líder da sigla na Câmara, Afonso Florence (BA), a ordem na legenda é fazer uma "obstrução global" à nova gestão no Congresso, por considerar o governo do peemedebista "ilegítimo". Segundo ele, apenas em votações de matérias consideradas urgentes para a sociedade, como a MP que previa ações para o combate ao mosquito Aedes aegypti, o PT poderá retirar a obstrução.
O isolamento do PT também tem potencial de diminuir a pressão da oposição sobre Temer. A oposição ao peemedebista na Câmara tem ao menos 80 deputados. O PT tem a maior bancada, com 58 parlamentares, seguido pelo PC do B (11). No grupo oposicionista, estão ainda PSOL (6) e Rede (4), cujo comportamento em votações sempre foi mais de independência, desde o governo Dilma. Há ainda o deputado Silvio Costa (PT do B-PE). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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