Chocado com declarações de Pezão, Temer manda ministros ao Rio para discutir segurança
Depois do reconhecimento público do governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (MDB), sobre falhas de planejamento na cobertura policial e diante das demonstrações de falta de controle das forças públicas estaduais em relação à segurança pública no Rio no Carnaval, o governo federal entrou em alerta e está decidido a agir no Estado. Ontem (14), quarta-feira de cinzas, um dia tradicionalmente de quase feriado, o presidente Michel Temer se reuniu com os principais ministros ligados a ele e a este problema para discutir, não só a situação dos venezuelanos, em Roraima, mas também do domínio do crime no Rio, que tem aterrorizado a população.
Em busca de uma solução, Temer despachou os ministros da Defesa, Raul Jungmann, e da Secretaria-Geral, Moreira Franco, na manhã desta quinta-feira (15), para terem uma conversa com o governador do Estado, Luiz Fernando Pezão.
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Um interlocutor do presidente disse que a situação que se verificou lá era o caso, sem dúvidas, de uma intervenção clássica do governo federal no Estado. Isso, no entanto, teria sérias implicações políticas, porque travaria a aprovação da reforma da Previdência. Por conta disso, o primeiro passo poderia ser uma espécie de intervenção branca e aí entra a discussão sobre a criação ou não do Ministério da Segurança Pública, porque poderia ser um caminho, a curto prazo, para o governo federal tentar começar a agir mais cirurgicamente no Rio.
No entanto, a simples menção de qualquer palavra como "intervenção", ainda que seja "intervenção branca", assusta integrantes do governo, que rechaçam a ideia e limitam-se a dizer que o presidente quer resolver o problema em parceria com o Rio, para evitar maiores novos problemas políticos.
As declarações do governador Pezão, antes do Carnaval, dizendo que não tinha tido tempo para ler o plano de segurança para o Estado e, depois, em sua cidade natal, Piraí, no interior do Rio, simplesmente dizendo que faltou planejamento durante os últimos dias, foram consideradas "absurdas" e "inaceitáveis" por interlocutores do presidente. Temer e seus ministros ficaram "chocados" com o que viram, não só em relação à violência, protagonizada pelo arrastar em um supermercado do Leblon, mas também pelo que chamaram de degradação moral, que se viu em inúmeras imagens veiculadas em mensagens de WhatsApp e que foram levadas ao Palácio da Alvorada, onde o presidente passou o dia tratando de questões de segurança com seus ministros.
Um dos graves problemas detectados neste episódio, de acordo com avaliação de interlocutores do presidente, é a "falência" do sistema de inteligência do Rio de Janeiro. Como o Rio tem protagonismo na condução deste processo de combate à violência, o governo federal, mesmo com a decretação da GLO - Garantia da Lei e da Ordem, está muito incomodado de estar sendo atacado por todos os lados, sem poder reagir, expondo a todos, inclusive as Forças Armadas, que só agem quando são demandas.
Ontem, em entrevista ao sair da reunião com Temer, os comandantes militares e vários ministros, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, alertou para a grave preocupação do governo com o que se passa no Rio, e citou que deveria ir ao Estado para uma reunião importante, sem detalhar do que se tratava especificamente. Depois da reunião com Pezão, no Rio, Moreira Franco e Jungmann voltam a Brasília, para relatarem o que ouviram e suas avaliações sobre o que deve ser feito. O fato, para integrantes do governo federal, é que "não dá mais para ficar parado".
Ao sair do Alvorada ontem à noite, depois de mais uma reunião com o presidente, o ministro da Defesa anunciou que "novas medidas" poderão ser tomadas pelo governo federal para tentar controlar o quadro de gravidade do Rio de Janeiro, que enfrentou mais um grave problema de segurança durante o Carnaval, sem, no entanto, detalhar nenhuma medida. "A situação do Rio, durante o Carnaval, foi lamentável e as imagens que se viram impactaram o governo", desabafou Jungmann. Para o ministro, "as cenas vistas durante o carnaval são inadmissíveis e inaceitáveis".
Ao reiterar que o governo federal poderá "ampliar a ajuda" ao Rio, o ministro Jungmann afirmou que as Forças Armadas "agem por demanda" e "não foi demandado nada adicional" para ajudar na segurança do Estado. Ainda segundo o ministro, "por determinação do presidente Temer, nossa avaliação, devemos ver e pensar como podemos ajudar mais". E reiterou: "não temos deixado de cumprir nada que nos tem sido solicitado. Agimos por demanda e em parceria com o governo do Rio, que tem a liderança do processo".
A discussão sobre a criação do ministério da Segurança Pública, em separação do Ministério da Justiça, é objeto de discussão dentro do governo e há duas correntes, uma que apoia e acha que essa é a solução para o momento, e outra que é contra, alegando que não há tempo hábil para executar esta divisão e ela ter algum efeito prático. O próprio presidente Temer inicialmente reconhecia que a divisão "não resolveria" o problema da segurança pública no Rio, ou no resto do País e que ela demandaria muitos recursos, que não estão disponíveis. Mas o assunto está em pauta, embora falte bater o martelo.
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