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Júri estava contaminado ao condenar casal Nardoni, afirma defesa

O casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, condenados pela morte de Isabella - Folhapress
O casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, condenados pela morte de Isabella Imagem: Folhapress

Felipe Resk

São Paulo

24/03/2018 11h20

O júri estava contaminado ao condenar Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá. A repercussão do caso fez com que os réus virassem culpados antes do julgamento. É o que propõe o advogado de defesa do casal, Roberto Podval, que recorre ao Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar reduzir a pena dos dois e já prepara o próximo habeas corpus pedindo um novo júri que, em tese, poderia acontecer em 2019. "Os jurados foram para lá tendo de condenar, ou seriam condenados pela sociedade", defende.

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Na prisão, Nardoni e Jatobá trabalham e têm comportamento "exemplar", diz Podval. Apesar de estarem em unidades diferentes, os dois continuam juntos. Ela, no regime semiaberto, pode deixar o presídio em datas comemorativas - a primeira foi no Dia das Crianças. O benefício pode ser concedido a Nardoni pela Justiça até o fim do ano, estima a defesa.

No júri, a estratégia da defesa foi apontar falhas na investigação e sugerir a tese de que outra pessoa matou Isabella?

Eu tinha uma limitação, absoluta e indiscutível: a negativa de autoria do casal. Não tenho o direito de pedir para contarem uma história que não é a que me dizem ser a verdadeira. Como estratégia, poderia pensar que se um deles assumisse a responsabilidade, o outro estaria solto. Mas os dois, até hoje, negam categoricamente. Isso é forte e coloca uma dúvida: eles não podem estar falando a verdade? Então só podem ter acontecido duas coisas. Ou a menina cortou a tela, foi olhar pela janela e caiu - o que, embora possível, não era provável. Ou alguém pode ter feito isso, uma terceira pessoa.

E como seria a cena do crime?

Não sei o que aconteceu, mas posso assegurar que a acusação, montada daquela forma, não é verdadeira. Fizeram maquete, laudo, descrição do crime. E não bate. O grande problema é que não tínhamos ambiente para contestar. As pessoas estavam fechadas. Se a gente tivesse colhido os votos antes do júri, o resultado seria o mesmo. Esse é o peso que vamos trazer no próximo habeas corpus: é possível validar um júri feito nessas condições? Nos Estados Unidos, pessoas conseguiram anular o júri por força da pressão midiática. No Brasil, esse assunto nunca foi questionado no tribunal.

Tecnicamente, quais seriam as falhas de investigação?

Os peritos partiram do convencimento de que o casal cometeu o crime e foram buscar as provas criminais. Não partiram do fato para buscar o que aconteceu.

O senhor chegou a ser agredido no fórum por defender os Nardoni. Foi ameaçado depois?

A gente era muito mal visto. Tenho uma filha que era da idade dela (Isabella). Era duro chegar em casa e tentar explicar, com o colégio inteiro falando que o pai dela defendia alguém que jogou uma criança pela janela. Imagina eu, que sou pai separado, e minha filha pedir para um amiguinho dormir lá em casa. Eu ia pedir autorização, me olhavam torto. Ia ao supermercado, as pessoas batiam o carrinho em mim. Clientes não entendiam. Muitos advogados negaram a causa.

A ida de Anna Jatobá para o semiaberto causou repercussão negativa. O senhor credita a quê?

A sociedade ainda não está preparada para viver em uma democracia. Um caso muito parecido com esse é o de Madeleine (criança inglesa que desapareceu quando passava férias com os pais em Portugal, em 2007). A polícia acusa os pais de terem matado a filha e os pais negam. E a sociedade inglesa abriu uma conta para depositar dinheiro e ajudar com advogado. Todos entendiam que eles deveriam ser considerados inocentes porque ninguém sabia o que aconteceu. Essa é uma sociedade mais madura.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.