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Alckmin e Doria inauguram obra habitacional no centro com confusão na Cracolândia

Isabela Palhares

29/03/2018 17h58

O governador Geraldo Alckmin e o prefeito João Doria inauguraram nesta quinta-feira, 29, os primeiros 170 apartamentos do Complexo Júlio Prestes e a revitalização da Praça Júlio Prestes, no centro da capital, enquanto a poucos metros a Guarda Civil Municipal (GCM) entrava em confronto com dependentes químicos da cracolândia. O prefeito não deu entrevistas e não foi à inauguração da praça após a confusão ter começado.

Na tarde desta quinta, os tucanos inauguraram a primeira torre residencial em um terreno que abrigava a rodoviária da Luz, no coração da Cracolândia, em frente à estação Júlio Prestes. No total, o Complexo, construído por uma Parceria Público-Privada (PPP), compreende 1.202 unidades habitacionais, 60 lojas, uma creche e a sede da Escola de Música Tom Jobim. Quando foi anunciado, em janeiro do ano passado, Estado e Prefeitura diziam que, levar moradores para a região, era um passo para o fim da cracolândia.

Enquanto prefeito e governador discursavam sobre a importância do projeto dentro do salão de festas do prédio inaugurado, a uma quadra, a GCM entrava em confronto com dependentes químicos da cracolândia. Segundo Marcos Ferreira, inspetor da corporação, a confusão começou após a prisão de um traficante na alameda Cleveland, em frente à Estação Júlio Prestes.

"Toda vez que a gente prende um traficante é isso, ele vem pra tentar resgatar o traficante preso. Foi o que aconteceu, a gente prendeu um traficante e eles se rebelaram. Nós os contivemos", disse o inspetor ao Estado. Segundo ele, os dependentes lançaram pedras contra os guardas, que revidaram com bombas de gás.

No entanto, militantes do movimento Craco Resiste disseram que não houve reação dos dependentes e que a ação da GCM foi "desproporcional". "É a violência diária e cotidiana que acontece no fluxo. Não tinha acontecido nada e eles agiram dessa maneira, como sempre fazem. A violência aqui piorou muito por causa da revitalização e da especulação imobiliária. Querem camuflar, tirar os indesejados da região com violência", disse Marcos Vinicius Maia, integrante do movimento.

O Estado procurou a Prefeitura para comentar sobre a ação da GCM, mas até as 16h50 não teve resposta. A administração também não comentou sobre o prefeito não ter ido à inauguração da praça e não falar com a imprensa.

Projeto. A entrega desta quinta faz parte da PPP da Habitação que prevê a construção de 3.683 moradias, sendo 2.260 de interesse social - as unidades são destinadas a pessoas que trabalham no centro. Segundo Alckmin, 190 mil pessoas se inscreveram para o sorteio dos apartamentos. "Nosso objetivo é aproximar a moradia do trabalho, essa era a única exigência para o sorteio. Essa região em alguns anos terá uma nova cara, vamos devagarinho recuperando a região", disse o governador.

Segundo a Secretaria do Estado de Habitação, as outras sete torres residenciais do complexo, além da creche e da escola de música, serão entregues até agosto.

Doria destacou os outros equipamentos do complexo como sendo importantes para dar qualidade de vida aos novos moradores. "A creche para 200 crianças é um trabalho excepcional. O nível da creche é igual ao de uma creche privada, não fica devendo a nenhuma creche privada. [Tem] qualidade no acabamento, apresentação, ambientação, luz", disse.

Já em clima de campanha eleitoral, os tucanos trocaram elogios e comemoraram a parceria entre Estado e Prefeitura. "É uma tabelinha que funciona muito bem entre eu e o governador. E continuará a funcionar porque Geraldo Alckmin será presidente do Brasil. Começamos a caminhada juntos e vamos iniciar uma caminhada pelo País no próximo dia 7 [de abril] para preservar o legado do governador, do PSDB, que é motivo de honra e orgulho para todos nós do Estado de São Paulo", disse Doria.

"Nós [Alckmin e Doria] fizemos boas parcerias em benefício da população. Há uma sinergia e quem ganha é a população", disse o governador ao se referir à PPP.