Lei não pode "transigir" por conveniências, diz general
O general de Exército Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira, comandante militar do Sudeste, citou a proximidade das eleições para afirmar na sexta, 27, que "a lei tem de ser cumprida, independentemente de quem está sendo atingido por ela". "Não podemos transigir com as leis vigentes, buscando atender a interesses pessoais ou até mesmo político-partidários. Todos nós, militares ou civis, estamos sob o jugo do império da lei", disse na solenidade do aniversário do Comando Militar do Sudeste.
A 20 dias do início da campanha eleitoral, o pronunciamento do general vai na mesma linha da manifestação feita pelo comandante da Força, o general Eduardo Villas Bôas, na véspera da análise pelo Supremo Tribunal Federal (STF) de um habeas corpus apresentado pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Operação Lava Jato.
Em abril, Villas Bôas afirmou no Twitter que compartilhava "o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição".
A fala de Ramos indica preocupação com eventual revisão pelo Supremo da autorização para a prisão após condenação em segunda instância. Mesmo preso e potencialmente atingido pela Lei da Ficha Limpa, Lula é mantido como pré-candidato à Presidência pelo PT.
Ramos discursou de improviso na cerimônia. "Na preparação da cerimônia, eu disse; ‘não vou escrever nada, quero falar com o coração’. Os senhores que estão em forma são descendentes de heroicos militares que no passado defenderam os ideais democráticos", disse o general. Era o começo de um pronunciamento sobretudo político. "As tropas do Comando Militar do Sudeste sempre nortearam os seus valores, como diz o general Villas Bôas, pela legalidade, pela legitimidade e pela estabilidade."
Próximo do comandante do Exército, Ramos citou o chefe três vezes em seu discurso, uma fala que, segundo auxiliares, era dirigida à tropa bem como à população do Estado. "Estamos nos aproximando de um período muito importante para o nosso País, o das nossas eleições. Esse é o regime democrático em que nós temos de respeitar o resultado das urnas. Todos nós, do soldado ao general mais antigo", continuou o general antes citar o comandante do Exército pela última vez e se encaminhar para o discurso de nove minutos.
"Nosso comandante, o general Villas Bôas afirma: ‘Não há atalho fora da democracia ou da nossa Constituição.’ Não temos lado. Quando me perguntam, general, qual o seu partido, qual o seu candidato? Eu digo: meu partido é a Pátria; meu candidato é o Exército brasileiro."
Políticos
Ramos desceu do palanque das autoridades e se dirigiu ao prédio da sede do Comando Militar do Sudeste sem dar entrevistas. Ao seu lado, na solenidade, havia três deputados federais - Baleia Rossi (MDB-SP), Arnaldo Faria de Sá (PP-SP) e major Olímpio (PSL-SP) - este último saiu antes do discurso. A fala foi ainda acompanhada por dois deputados estaduais: Salim Curiati (PP) e o coronel Telhada (PP).
"Achei importante ele (Ramos) falar sobre as eleições para que ela seja pacífica e tranquila. Ele disse que a decisão do povo tem de ser respeitada", disse o líder do MDB na Câmara, Baleia Rossi. O deputado destacou o fato de o general ter deixado claro o caráter apartidário do discurso. "Para que ninguém tente usar a credibilidade que a instituição tem em favor de A, B ou C." Questionado se entendia que o recado atingiria o candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL), Baleia Rossi sorriu. "Não acho que ele mandou recado para ninguém. Foram considerações felizes e oportunas."
Para Telhada, o pronunciamento do general Ramos reforçou a defesa da legalidade. "Muitos cobram atitude dos generais querendo intervenção militar ou uma ação mais enérgica contra o governo. Isso não acontecerá, pois nossa lealdade à lei não será quebrada. O povo vota errado e depois quer que a situação seja resolvida à força. Isso não pode acontecer." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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