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'Para fechar acesso, teria de construir um Muro de Berlim'

Felipe Resk, enviado especial

Pacaraima (RR)

23/08/2018 07h51

Uma unidade da Polícia Federal e uma tenda do Exército para acolher imigrantes ficam lado a lado na parte brasileira. Poucos metros abaixo, ainda há um posto com agentes armados da Polícia Rodoviária Federal, cujas cancelas são mantidas abertas a maior parte do dia. Já na área da Venezuela integrantes da Guarda Nacional, com uniformes verdes e munidos de escopetas, observam os veículos. Os portões fecham às 22 horas, mas não para pedestres.

"Não adiantaria: quem está a pé passa por todos os lados, não só pelos portões. Temos as comunidades Tauraparu, Kaue, Bananal. Todas dão acesso à Venezuela", descreve o vice-prefeito de Pacaraima, Rodolfo Fernandes do Nascimento (sem partido). "Para fechar a fronteira, teria de ser no marco todinho. Ou seja, construir um Muro de Berlim, o que é inviável."

Às margens na rodovia, um monumento com as bandeiras dos dois países e bustos de D. Pedro I e Simón Bolívar, talhados em metal, marca a fronteira. Dezenas de pessoas vendem água, refrigerante, comida e praticam câmbio irregular do outro lado da pista.

Em Pacaraima, taxistas com placas do Brasil ou da Venezuela cobram R$ 12 para levar o passageiro até Santa Elena. Para os brasileiros, no entanto, o maior interesse é na gasolina venezuelana, vendida pela metade do preço - motivo pelo qual não há postos de combustível no município. "Se fechar, a gente teria de abastecer mais barato em Boa Vista (a 213 quilômetros de distância)", diz Nascimento. A energia elétrica também é fornecida pela Venezuela.

A vendedora brasileira Dejacy Lima, de 38 anos, conta que há dois anos passa pelo marco com frequência para fazer tratamento ortodôntico. "No Brasil, a manutenção do aparelho custa entre R$ 80 e 100. Lá, sai por R$ 30", conta ela.

"Exceto gasolina, brasileiro só vai comprar plástico, cadeira, maquiagem", diz o taxista venezuelano Carlos Marin, que, segundo os próprios cálculos, atravessa a fronteira, em média, seis vezes por dia. Na opinião dele, a fiscalização dos dois lados está "mais rigorosa" há um mês, antes mesmo do protesto de Pacaraima do sábado.

Com os ataques de sábado, porém, o clima entre as cidades chegou a pesar. No dia, a regente Bruna Souto Maior, de 32 anos, estava hospedada em Santa Elena, onde deveria buscar um piano recém-comprado. "Começou a chegar mensagem dizendo que, se a gente cruzasse de volta, iam queimar o carro." Ela precisou ser escoltada até a fronteira com mais 30 brasileiros. "Foi muito tenso." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.