Novo chefe do Inpe, coronel promete transparência total
"Ninguém vai esconder nada, dado nenhum, até porque não se consegue fazer isso", afirmou Damião à reportagem durante intervalo de uma aula a alunos do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), onde é professor. O militar vai substituir no cargo Ricardo Galvão, demitido na sexta-feira após rebater publicamente críticas do presidente Jair Bolsonaro à divulgação de dados que apontam o aumento do desmatamento na Amazônia. Damião, porém, prefere não entrar na polêmica. "Quero olhar para frente, não para trás, pensando no que é melhor para o Brasil."
Segundo o novo chefe do Inpe, o órgão é "um fornecedor de informações valiosas", mas pontua que "nenhum dado de imagem é absolutamente preciso". Damião, de 57 anos, foi indicado ao cargo pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, que conhece desde os tempos de academia, há mais de 30 anos.
Embora de carreira militar, o coronel conhece bem a área. Tem mestrado em Sensoriamento Remoto pelo Inpe e doutorado em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB). Questionado se enviará os dados previamente para análise do presidente, como o próprio Bolsonaro sugeriu, disse ser direito das autoridades conhecer as informações para poder se defender de críticas. "É a questão do copo meio cheio, ou meio vazio", disse ele. "Se tem uma notícia, não custa preparar. O importante é que o inimigo comum é o desmatamento."
Sobre os problemas que poderá enfrentar na sua chegada ao órgão, depois da demissão de Galvão, o novo diretor disse que "o Inpe é um instituto de excelência", "com cientistas de alto nível". "Não podemos reduzir o trabalho a uma querela."
Ministro
À Rádio Eldorado, o ministro Pontes declarou que nomearia um militar para o cargo. E disse que o ex-diretor Ricardo Galvão tornou a situação insustentável ao procurar a imprensa para rebater o presidente Jair Bolsonaro (PSL), em vez de tentar o diálogo. "Se tivesse me procurado, tudo poderia ter sido resolvido no diálogo. O fato de ter falado direto com a imprensa causou perda de confiança", afirmou. "Tem influência do presidente (na demissão), mas tem a minha parte, porque se tornou difícil contornar a situação."
Sobre o monitoramento do desmatamento, centro da crise entre o Inpe e o governo, Pontes disse que o sistema será alterado, de modo a atender melhor o cliente final, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que responde ao Ministério do Meio Ambiente, chefiado por Ricardo Salles. "Houve uma dificuldade de comunicação. O Inpe e o Ibama não estavam conversando muito bem. Todo problema começou com o uso incorreto dos dados do Inpe. Os dados do Deter (Sistema de Detecção do Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real) são crus, não podem ser divulgados imediatamente."
Conforme o jornal O Estado de S. Paulo mostrou na semana passada, o agregado de alertas online feitos pelo Deter aponta alta de 40% no desmate em um ano. Os satélites observaram perda em 12 meses de 5.879 km² da floresta, ante 4.197 km² entre 2017 e 2018, considerando somente o desmatamento com solo exposto.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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