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Orçamento secreto: 'Emenda ajuda a acalmar o Parlamento', admite Bolsonaro

Brasília

11/04/2022 15h34

O presidente Jair Bolsonaro assumiu que oferece cargos e recursos federais ao Centrão em troca de apoio político no Congresso. O chefe do Executivo disse ainda que as emendas, no esquema do "orçamento secreto" revelado pelo Estadão, "acalmam" os congressistas.

"Para aprovar qualquer coisa, em especial Emenda Constitucional, passa por eles (parlamentares do Centrão). Agora, nosso relacionamento não é como no passado. Alguns cargos foram dados para partidos de centro, sim, não vou negar isso aí. Agora, nós temos filtros", disse o chefe do Executivo em entrevista a um podcast veiculada nesta segunda-feira, 11. Bolsonaro comentou ainda os R$ 16,5 bilhões destinados ao orçamento secreto deste ano. "Essa outra parte de emenda ajuda a acalmar o Parlamento. O que eles querem, no final das contas, é mandar recursos para sua cidade".

Eleito com o discurso da antipolítica apesar de ter sido deputado federal por 28 anos, Bolsonaro se aliou de vez ao Centrão no ano passado, levando o senador Ciro Nogueira, cacique do grupo presidente do Progressistas, para o coração do governo. Hoje, Ciro é ministro-chefe da Casa Civil e controla o Orçamento.

Como revelou o Estadão, Ciro Nogueira também comanda, por meio do aliado Marcelo da Ponte, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). O fundo autorizou uma licitação de ônibus escolares com preços inflados mesmo após alertas de órgãos técnicos. O pregão só teve os valores reduzidos após a publicação das reportagens.

Na última sexta-feira, 8, a Polícia Federal enviou relatório ao Supremo Tribunal Federal (STF) em que diz que o ministro da Casa Civil recebeu propinas do grupo J&F para apoiar a reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2015. De acordo com a PF, Ciro Nogueira cometeu os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Segundo mandato

Na mesma entrevista, Bolsonaro afirmou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, "a princípio" continua no cargo em um eventual segundo mandato dele. "Ele tem muito crédito. Tem que ver se ele quer continuar, como qualquer outro ministro. A princípio, ele continua, sem problema nenhum", declarou o presidente. "Não tenho críticas a nenhum ministro no momento, logicamente a gente vai fazer pequenas alterações (no caso de outro mandato). O Paulo Guedes é pessoa que foi fantástica por ocasião da pandemia, não sei como Brasil estaria se não fosse uma pessoa da firmeza dele", acrescentou, em novo afago ao auxiliar.

O principal arrependimento de Bolsonaro neste mandato, disse o presidente, é ter trocado muitos ministros. Dias. "Não teria demitido tantos. Escolhi bem grande parte dos ministros, faltou tempo para escolher melhor alguns outros", disse o presidente na entrevista.

Entre os principais nomes demitidos por Bolsonaro está Henrique Mandetta (União Brasil), que comandou o Ministério da Saúde no início da covid-19 e foi exonerado por divergências com o Palácio do Planalto sobre a condução da pandemia. Já o ex-ministro da Justiça Sergio Moro (União Brasil) pediu demissão e acusou o presidente de querer interferir na Polícia Federal.

Bolsonaro ainda reforçou sua defesa em vetar a lei Paulo Gustavo, que destinava recursos para o setor cultural. "Tem muitas pontes por fazer, não justifica ir para a cultura. A cultura é importante? É. Repito, tem a lei Rouanet moralizada (para captar recursos)".