Topo

Esse conteúdo é antigo

'Execução a sangue frio', diz ouvidor das Polícias de SP sobre morte de Genivaldo

Genivaldo foi morto asfixiado após abordagem da PRF - Arquivo pessoal
Genivaldo foi morto asfixiado após abordagem da PRF Imagem: Arquivo pessoal

Pepita Ortega

São Paulo

27/05/2022 19h05Atualizada em 27/05/2022 19h49

O ouvidor das Polícias de São Paulo, Elizeu Soares Lopes, afirmou nesta sexta-feira, 27, que considera uma 'execução' a morte de Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos, asfixiado após uma viatura da corporação ser transformada em 'câmara de gás' em Umbaúba, no interior do Sergipe. Lopes indicou que o vídeo que registra a abordagem dos PRFs a Genivaldo contém 'cenas de horror similares ao holocausto', classificando o episódio como 'barbárie'.

"Qualquer ser humano que viu aquela cena não tem como não tratá-la como deplorável, injustificável. Porque tratou-se de uma execução, a sangue frio. E usando de uma das piores marcas, que foi inclusive resultante da Segunda Guerra Mundial, câmara de gás. A viatura evidentemente não é uma câmara de gás. Mas ela se assemelha a uma câmara de gás dado as cenas que nós ali", afirmou ao Estadão.

O ouvidor é um dos subscritores de pedido endereçado aos órgãos de controle da atividade policial e do sistema de segurança pública federal pela prisão preventiva dos policiais rodoviários federais envolvidos na morte de Genivaldo. A solicitação já foi enviada ao Ministério Público e ao Supremo Tribunal Federal, e também será remetida à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e à Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Também assinam o ofício os ouvidores do Pará, Maria Cristina Fonseca de Carvalho, de Pernambuco, Jost Paulo Reis e Silva, de Mato Grosso, Lucio Andrade Hilário do Nascimento, do Maranhão, Elivânia Estrela Aires e do Rio Grande do Norte, Dimitri Sinedino Costa de Oliveira.

A avaliação de Lopes é a de que a prisão dos PRFs envolvidos deveria ter sido decretada em flagrante, em razão da 'barbárie'. A avaliação dos ouvidores é a de que o episódio consistiu em crime hediondo: "Por essa razão resolvemos fazer essa representação", explicou.

Para Lopes, a representação feita pelo grupo é uma reação, 'de forma contundente, sem tangiversar, levando em conta os elementos da lei e as provas robustas que estão circulando pelo Brasil'.

"Não nos restou outra alternativa de que não pedido da prisão preventiva desses agentes. Sem prejuízo evidentemente de eles responderem pelo direito do devido processo legal que todo mundo tem. Mas, repugnante a cena. E é o mínimo que as autoridades tem que fazer. Porque esse crime não afeta só a família. Ele afeta Humanidade. É um crime que é repudiado no mundo. Isso vai ficar uma mácula na história do nosso País", afirmou o ouvidor.

Questionado sobre o teor da comunicação de ocorrência policial sobre o caso, na qual cinco agentes da PRF classificaram a morte de Genivaldo como uma 'fatalidade desvinculada da ação policial legítima', Lopes diz que trata-se de uma 'mentira'.

"Basta ver as cenas. Eles além de tudo estão mentindo. Eles têm a obrigação de falar a verdade. São agentes públicos e as imagens demonstram exatamente o contrário. E nós nos reunimos com esses ouvidores porque eles deveriam imediatamente serem presos. Eles cometeram um crime hediondo", reforçou.

Como mostrou o blog, o documento dos PRFs atribuiu à Genivaldo supostos 'delitos de desobediência e resistência' e alegou que foi empregado 'legitimamente o uso diferenciado da força' no caso, com uso de gás de pimenta e gás lacrimogêneo para 'conter' a vítima.

"A justificativa do uso de gás, spray, naquela situação é um tapa na cara da sociedade. O que aconteceu ali é muito desumano. Eu não consegui pensar em outra cena que não fosse da câmara de gás. Não me veio na minha mente uma outra cena. E a pessoa gritando", ressaltou ainda o ouvidor.