Chacina no Rio: Policiais prestam depoimento e armas são apreendidas
Policiais que participaram da operação na Vila Cruzeiro, no Rio, prestaram depoimento à Delegacia de Homicídios da capital. A ação resultou em uma chacina com ao menos 23 mortos, na terça-feira (24).
Ao todo, 12 policiais militares e rodoviários federais foram ouvidos. Eles admitiram participar dos confrontos que terminaram em dez mortes. A DH investiga as circunstâncias dos outros 13 óbitos.
De acordo com a instituição, as armas dos agentes foram apreendidas e periciadas. Testemunhas também prestaram depoimento. A previsão é que outras pessoas sejam chamadas a depor ao longo da próxima semana.
"As investigações estão em andamento" e "seguem para apurar todas as circunstâncias que envolveram o fato", informou a Polícia Civil através de nota.
Entre as vítimas estão Gabrielle Cunha, morada da Chatuba, favela vizinha à Vila Cruzeiro, que foi baleada dentro de casa; e um ex-militar da Marinha, Douglas Costa Donato, morto após deixar uma festa onde estava na companhia de amigos de infância.
Segundo a PM, a operação tinha como objetivo prender chefes do CV (Comando Vermelho), facção responsável pelo tráfico de drogas na localidade. No grupo, segundo a corporação, havia também suspeitos vindos de outros estados que estariam escondidos na favela.
Ainda de acordo com a PM, a operação estava sendo planejada há meses, mas foi deflagrada de modo emergencial para impedir o deslocamento de um grupo de 50 traficantes para a Rocinha, comunidade da zona sul.
Após operação, PM culpa STF
Na manhã de quinta (26), a Secretaria Estadual da Saúde havia informado que 26 pessoas morreram na chacina —de acordo com dados das unidades de saúde e da Polícia Militar. Mais tarde, no entanto, a Polícia Civil confirmou 23 óbitos e alegou que três outras vítimas eram de um confronto entre traficantes no Morro do Juramento, a 5,5 km da Vila Cruzeiro.
Nenhum dos mortos identificados até o fim da semana era do Bope (Batalhão de Operações Especiais) ou da PRF (Polícia Rodoviária Federal), que participaram da ação.
Na terça, ainda com a ação em andamento, a Polícia Militar atribuiu ao STF (Supremo Tribunal Federal) a responsabilidade pelo aumento de traficantes de outros estados em comunidades do Rio em referência à limitação de operações policiais no Rio de Janeiro.
"A gente começa a perceber essa movimentação, essa tendência de ligação com o Rio de Janeiro a partir da decisão do STF. Isso vem se acentuando nos últimos meses e essa tendência, esses esconderijos nas nossas comunidades são fruto da decisão do STF. A gente está estudando isso, mas provavelmente é fruto dessa decisão que limitou as ações das forças policiais do estado na comunidade", avaliou o coronel Luiz Henrique Marinho.
Após declaração, o presidente da Corte, o ministro Luiz Fux, disse que está esperando satisfações da PM. Já o ministro Gilmar Mendes lembrou que foi graças a outras decisões do STF que o Rio de Janeiro não sofreu um colapso financeiro.
R$ 5,2 milhões de prejuízos ao tráfico
De acordo com a PM, foram apreendidos 14 fuzis automáticos usados em guerras convencionais —todos seriam de fabricação estrangeira, com capacidade de disparar até 800 tiros em apenas um minuto.
O alcance dessas armas de guerra chegaria a 1,5 km, com precisão no tiro de 500 metros.
"Isso explica, por exemplo, porque um desses disparos, efetuados do alto da Vila Cruzeiro, atingiu mortalmente a cabeleireira Gabrielle [Ferreira da Cunha, 41] na comunidade da Chatuba. Explica também por que disparos efetuados do mesmo complexo de comunidades atingiram na semana passada um helicóptero comercial, que voa a cerca de 300 metros de altura em relação ao solo", informou a corporação.
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