Invasores armados ameaçam indígenas em região de isolados, no Vale do Javari
Um grupo de homens armados invadiu uma aldeia do povo indígena Kanamari, na região do Vale do Javari, no Amazonas, a mesma área onde ocorreu o assassinato dos indigenistas Bruno Pereira e Maxciel Pereira e do jornalista Dom Philips.
A informação foi divulgada pelo Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI) nesta quarta-feira, 19. Segundo a organização, lideranças Kanamari do Vale do Javari registraram boletim de ocorrência na delegacia de polícia no município de Atalaia do Norte, no Amazonas, relatando a invasão de uma de suas aldeias pelos homens armados.
A situação ocorreu no domingo, 16. Os criminosos, armados de fuzis, chegaram na aldeia em um bote de alumínio. A OPI informou que eles falavam espanhol e que fizeram ameaças de morte a uma liderança da aldeia. Nesta segunda-feira, 19, agentes da Polícia Federal se dirigiram até a região, acompanhados por indígenas.
Em carta enviada à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), os Kanamari pediram a presença urgente da PF, da Funai e do Ibama. "Estamos cansados de informar ao estado brasileiro", dizem as lideranças na carta. "A retirada de madeira e a pesca ilegal feita por criminosos dentro das nossas aldeias têm nos tornado reféns do medo".
As lideranças pediram que o estado brasileiro cumpra suas atribuições constitucionais, "olhe para o que está acontecendo na TI Vale do Javari" e promova ações "assertivas e coordenadas" para proteção e vigilância territorial na região, que é assolada por organizações criminosas. "A morosidade do estado brasileiro tem nos causado grandes perdas e não estamos dispostos a perder mais nenhum dos nossos", dizem os Kanamari no documento enviado à Funai.
A carta é um pedido de ajuda. "Estamos com medo que uma nova tragédia aconteça em nossa região e, portanto, pedimos que esta solicitação seja atendida o mais breve possível", dizem as lideranças indígenas.
Em outubro do ano passado, uma liderança Kanamari recebeu ameaças de morte por pescadores ilegais quando navegava na mesma região em que Bruno e Dom foram assassinados.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos determinou, também em 2022, medidas cautelares para proteger 11 pessoas ameaçadas na região.
Após o ataque aos Kanamari, a Justiça Federal do Amazonas atendeu pedido da Defensoria Pública da União (DPU) e determinou a realização de operação conjunta com Funai, Ibama, Força Nacional e Forças Armadas, para coibir os criminosos que seguem ameaçando a vida de indígenas e servidores públicos na região.
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