Especial/Entenda a crise no maior partido da Itália
ROMA, 24 FEV (ANSA) - Comandando o governo da Itália desde 2013, primeiro com Enrico Letta, depois com Matteo Renzi e agora com Paolo Gentiloni, o Partido Democrático (PD) passa por uma crise política que ameaça seu status de maior legenda do país. Fruto de anos e anos de desavenças e disputas por poder, o racha dentro da sigla paralisou os debates sobre a possibilidade de eleições antecipadas e colocou em alerta o gabinete chefiado pelo primeiro-ministro Gentiloni para uma iminente cisão.
Confira abaixo algumas perguntas e respostas sobre a crise que pode ser decisiva para o futuro da Itália: Como nasceu o PD? - O Partido Democrático nasceu no segundo semestre de 2007, com o objetivo de unir sob o mesmo guarda-chuva diversas alas da centro-esquerda italiana, desde comunistas e socialistas até egressos da antiga Democracia Cristã e sociais-democratas. Sua plataforma é progressista, europeísta e contrária à "antipolítica". Dos grandes partidos da Itália, é sem dúvidas o mais heterogêneo, com alas ligadas a sindicatos, ao mundo empresarial, à Igreja Católica, entre outros. Também é o único a realizar primárias para escolher seu líder, o que sempre fomentou uma intensa disputa por poder.
Como o partido chegou à beira da divisão? - As brigas internas são uma frequente na curta história do PD, mas ganharam força com a ascensão de Renzi à liderança da legenda, no fim de 2013.
Impetuoso e com o apelido de "reciclador", o então prefeito de Florença, na época com 38 anos, venceu a disputa pelo cargo de secretário ao derrotar alas mais tradicionais, se aproveitando do desencanto dos cidadãos com a "velha política". Sustentado por um amplo apoio popular, Renzi passou a pressionar o então primeiro-ministro Enrico Letta, próximo aos caciques do partido, para acelerar as reformas estruturais que se exigia do país. O secretário chegou a dizer para Letta "ficar sereno", mas, em fevereiro de 2014, articulou para o PD retirar o apoio ao premier, levando-o a ser nomeado como chefe de governo. Desde então, ele vive às turras com as facções "puristas" da legenda, que passaram a ser minoria, porém muitas vezes deram mais trabalho ao governo do que a oposição, acusando Renzi de afastar a sigla de suas raízes de esquerda, principalmente ao flexibilizar as leis trabalhistas. Contudo, a duras penas, o primeiro-ministro vinha conseguindo aprovar suas reformas, até o referendo constitucional de 4 de dezembro, que rejeitou um projeto para reduzir o tamanho do Senado e concentrar poderes nas mãos do governo nacional. O resultado levou à renúncia de Renzi e aumentou a pressão para que ele também abandonasse o cargo de secretário do PD, fato que acabou se confirmando no último fim de semana.
Como será feita a escolha do novo líder do PD? - O partido convocou primárias para 30 de abril, quando seus filiados elegerão quem deve guiar a legenda. O principal candidato a secretário é o próprio Renzi, que enfrentará, por enquanto, o governador da Puglia, Michele Emiliano, e o ministro da Justiça Andrea Orlando. Os postulantes precisam se inscrever até 6 de março. Segundo as pesquisas, o ex-premier é favorito, com 56% das intenções de voto. Orlando tem 15%, e Emiliano, 9%.
Quem está com quem? - A maior parte do governo deve apoiar Renzi, incluindo os ministros Graziano Delrio (Transportes), Marianna Madia (Administração Pública), Roberta Pinotti (Defesa), Luca Lotti (Esportes), Maurizio Martina (Políticas Agrícolas), Dario Franceschini (Bens Culturais) e Marco Minniti (Interior). O ex-premier também deve contar com boa parte do segundo escalão e os governadores Vincenzo De Luca (Campânia), Catiuscia Marini (Úmbria) e Stefano Bonaccini (Emilia-Romana).
Já os chamados "pais nobres" do PD - figuras históricas na trajetória do partido - formam a categoria menos "renziana" de todas. Os ex-primeiros-ministros Romano Prodi e Enrico Letta, por exemplo, não devem declarar voto publicamente, mas seus aliados tendem a apoiar Orlando, assim como o ex-presidente da República Giorgio Napolitano, que foi crucial para a ascensão de Renzi, mas é amigo e mentor do ministro da Justiça.
Quem deve sair do partido? - Uma ala minoritária encabeçada pelo ex-primeiro-ministro Massimo D'Alema, pelo ex-secretário Pier Luigi Bersani e pelo governador da Toscana, Enrico Rossi, está de malas prontas para abandonar o Partido Democrático.
Insatisfeito com a conduta de Renzi no comando da sigla e a falta de voz para seus membros, esse grupo deve fundar um novo movimento, mais próximo da esquerda tradicional.
E onde entra Paolo Gentiloni? - Por enquanto, em lugar nenhum.
Apesar de ser próximo a Renzi, o primeiro-ministro tem se mantido longe das discussões sobre o futuro do PD, até porque precisa lidar com o dia a dia do governo e manter a unidade de sua base aliada. Gentiloni sabe que foi escolhido para liderar a Itália por um período específico e tenta não se envolver em disputas internas.
Como a crise no PD pode determinar o futuro da Itália? - A atual legislatura tem mandato até 2018, mas existe uma forte pressão da oposição para o presidente Sergio Mattarella convocar eleições antecipadas. Contudo, o chefe de Estado descarta atender a esse desejo enquanto o país não tiver leis eleitorais homogêneas para a Câmara e o Senado. Um novo modelo de voto deve começar a ser discutido no Parlamento nas próximas semanas, mas é pouco provável que um texto seja aprovado em definitivo enquanto não for definido o próximo líder do PD. Com isso, crescem as possibilidades de Gentiloni governar até o fim da legislatura. Vale lembrar que a Itália ainda luta para sair da crise econômica e tem compromissos importantes pela frente, como a cúpula do G7 em Taormina, na Sicília. (ANSA)Veja mais notícias, fotos e vídeos em www.ansabrasil.com.br.
Confira abaixo algumas perguntas e respostas sobre a crise que pode ser decisiva para o futuro da Itália: Como nasceu o PD? - O Partido Democrático nasceu no segundo semestre de 2007, com o objetivo de unir sob o mesmo guarda-chuva diversas alas da centro-esquerda italiana, desde comunistas e socialistas até egressos da antiga Democracia Cristã e sociais-democratas. Sua plataforma é progressista, europeísta e contrária à "antipolítica". Dos grandes partidos da Itália, é sem dúvidas o mais heterogêneo, com alas ligadas a sindicatos, ao mundo empresarial, à Igreja Católica, entre outros. Também é o único a realizar primárias para escolher seu líder, o que sempre fomentou uma intensa disputa por poder.
Como o partido chegou à beira da divisão? - As brigas internas são uma frequente na curta história do PD, mas ganharam força com a ascensão de Renzi à liderança da legenda, no fim de 2013.
Impetuoso e com o apelido de "reciclador", o então prefeito de Florença, na época com 38 anos, venceu a disputa pelo cargo de secretário ao derrotar alas mais tradicionais, se aproveitando do desencanto dos cidadãos com a "velha política". Sustentado por um amplo apoio popular, Renzi passou a pressionar o então primeiro-ministro Enrico Letta, próximo aos caciques do partido, para acelerar as reformas estruturais que se exigia do país. O secretário chegou a dizer para Letta "ficar sereno", mas, em fevereiro de 2014, articulou para o PD retirar o apoio ao premier, levando-o a ser nomeado como chefe de governo. Desde então, ele vive às turras com as facções "puristas" da legenda, que passaram a ser minoria, porém muitas vezes deram mais trabalho ao governo do que a oposição, acusando Renzi de afastar a sigla de suas raízes de esquerda, principalmente ao flexibilizar as leis trabalhistas. Contudo, a duras penas, o primeiro-ministro vinha conseguindo aprovar suas reformas, até o referendo constitucional de 4 de dezembro, que rejeitou um projeto para reduzir o tamanho do Senado e concentrar poderes nas mãos do governo nacional. O resultado levou à renúncia de Renzi e aumentou a pressão para que ele também abandonasse o cargo de secretário do PD, fato que acabou se confirmando no último fim de semana.
Como será feita a escolha do novo líder do PD? - O partido convocou primárias para 30 de abril, quando seus filiados elegerão quem deve guiar a legenda. O principal candidato a secretário é o próprio Renzi, que enfrentará, por enquanto, o governador da Puglia, Michele Emiliano, e o ministro da Justiça Andrea Orlando. Os postulantes precisam se inscrever até 6 de março. Segundo as pesquisas, o ex-premier é favorito, com 56% das intenções de voto. Orlando tem 15%, e Emiliano, 9%.
Quem está com quem? - A maior parte do governo deve apoiar Renzi, incluindo os ministros Graziano Delrio (Transportes), Marianna Madia (Administração Pública), Roberta Pinotti (Defesa), Luca Lotti (Esportes), Maurizio Martina (Políticas Agrícolas), Dario Franceschini (Bens Culturais) e Marco Minniti (Interior). O ex-premier também deve contar com boa parte do segundo escalão e os governadores Vincenzo De Luca (Campânia), Catiuscia Marini (Úmbria) e Stefano Bonaccini (Emilia-Romana).
Já os chamados "pais nobres" do PD - figuras históricas na trajetória do partido - formam a categoria menos "renziana" de todas. Os ex-primeiros-ministros Romano Prodi e Enrico Letta, por exemplo, não devem declarar voto publicamente, mas seus aliados tendem a apoiar Orlando, assim como o ex-presidente da República Giorgio Napolitano, que foi crucial para a ascensão de Renzi, mas é amigo e mentor do ministro da Justiça.
Quem deve sair do partido? - Uma ala minoritária encabeçada pelo ex-primeiro-ministro Massimo D'Alema, pelo ex-secretário Pier Luigi Bersani e pelo governador da Toscana, Enrico Rossi, está de malas prontas para abandonar o Partido Democrático.
Insatisfeito com a conduta de Renzi no comando da sigla e a falta de voz para seus membros, esse grupo deve fundar um novo movimento, mais próximo da esquerda tradicional.
E onde entra Paolo Gentiloni? - Por enquanto, em lugar nenhum.
Apesar de ser próximo a Renzi, o primeiro-ministro tem se mantido longe das discussões sobre o futuro do PD, até porque precisa lidar com o dia a dia do governo e manter a unidade de sua base aliada. Gentiloni sabe que foi escolhido para liderar a Itália por um período específico e tenta não se envolver em disputas internas.
Como a crise no PD pode determinar o futuro da Itália? - A atual legislatura tem mandato até 2018, mas existe uma forte pressão da oposição para o presidente Sergio Mattarella convocar eleições antecipadas. Contudo, o chefe de Estado descarta atender a esse desejo enquanto o país não tiver leis eleitorais homogêneas para a Câmara e o Senado. Um novo modelo de voto deve começar a ser discutido no Parlamento nas próximas semanas, mas é pouco provável que um texto seja aprovado em definitivo enquanto não for definido o próximo líder do PD. Com isso, crescem as possibilidades de Gentiloni governar até o fim da legislatura. Vale lembrar que a Itália ainda luta para sair da crise econômica e tem compromissos importantes pela frente, como a cúpula do G7 em Taormina, na Sicília. (ANSA)
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