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Primeiro ano de governo Raggi é marcado por escândalos

22/06/2017 14h36

SÃO PAULO, 22 JUN (ANSA) - Por Tatiana Girardi - O dia 23 de junho de 2016 entrou para a história da cidade de Roma, na Itália, como a data em que a "cidade eterna" teria pela primeira vez uma prefeita.   

A advogada Virginia Raggi, na época com 37 anos, conquistou 67% dos votos no segundo turno das eleições e surgiu como a nova cara da política italiana. Representante do partido antissistema Movimento Cinco Estrelas (M5S), a nova líder municipal pregou um discurso de transparência e até de "revolução" na Prefeitura local. Naquele momento, Roma estava envolvida em um mega escândalo de corrupção e estava sem prefeito, após uma manobra do Partido Democrático (PD) tirar apoio ao eleito Ignazio Marino, sendo comandada pelo comissário especial Francesco Paolo Tronca. Em um cenário político turbulento, Raggi apareceu como uma esperança para mudar o governo da capital. As primeiras ações da prefeita foram voltadas à "degradação" da cidade, uma de suas bandeiras de campanha. Ela propôs o aumento da multa para quem jogava lixo pelas ruas e ratificou a proibição dos chamados "Gladiadores do Coliseu", pessoas que se fantasiavam para tirar fotos com turistas.   

No entanto, cerca de um mês após sua eleição, Raggi começou a enfrentar problemas com investigações - fatos que acabaram permeando todo o seu primeiro ano de mandato. Em julho de 2016, ela foi investigada por falsidade ideológica por ter supostamente escondido dois serviços prestados à Empresa Sanitária Local (ASL, na sigla em italiano) - em caso arquivado posteriormente. No entanto, foi em setembro que seu governo começou a ser fortemente abalado. Primeiro pela demissão em massa de cinco funcionários públicos, que não concordaram com a postura da prefeita em anunciar a demissão de sua chefe de Gabinete, Carla Ranieri, através de sua conta no Facebook.   

Dias depois, outro escândalo atingiu sua administração: a assessora municipal para o Meio-Ambiente, Paola Muraro, começou a ser alvo de uma investigação por abuso de poder e violação de leis ambientais na coleta e transporte de lixo. Ela acabou saindo do cargo em dezembro do mesmo ano.   

Grande parte dos problemas da prefeita também se devem ao fato de que o M5S, naquele momento, pregar que se algum membro fosse investigado por qualquer tipo de crime, deveria ser imediatamente afastado. Fato que foi alterado meses depois dos escândalos em Roma.   

Ainda naquele mês, diversos membros da sigla política começaram a pressionar a prefeita, que foi perdendo apoio interno por conta de sua "teimosia" em nomear nomes não aprovados por algumas das maiores figuras do M5S. No entanto, após uma série de reuniões que seguiam madrugada adentro, o líder da legenda, Beppe Grillo, confirmou o apoio à líder local.   

Mas, foi no dia 21 de setembro que ocorreu a maior ação de Raggi até então: alegando querer fazer investimentos voltados para a cidade, ela anunciou a desistência da candidatura olímpica de Roma para sediar os Jogos de 2024 - em atitude reprovada pelos atletas e pelo governo da Itália.   

Outra polêmica envolvendo o esporte foi a construção do estádio da Roma. A Prefeitura rejeitou o primeiro projeto, que tinha sido negociado com o governo do PD, e fez com que o clube precisasse mudar o esboço para a área ao redor do local.   

Durante os cinco meses, entre a primeira rejeição e a aprovação do novo modelo, o governo romano perdeu mais um secretário, o de Urbanismo, Paolo Berdini, que foi flagrado falando que a prefeita era "despreparada" para o cargo.   

Ainda no campo esportivo, no entanto, Raggi levará para a cidade uma prova inédita: a partir do ano que vem, Roma sediará uma das etapas da corrida de Fórmula E, a categoria de alto nível dos carros elétricos.   

- Escândalos: No entanto, nos 365 dias de mandato, os escândalos políticos deram a tônica do governo e levaram a Prefeitura sempre para as páginas policiais.   

Além de Ranieri e Muraro, Raggi viu seu chefe de Departamento Pessoal, Raffaele Marra, ser preso por corrupção em um caso de 2013. Marra era considerado o "braço-direito" da prefeita - o que acabou causando uma ação de busca e apreensão na sede do poder municipal. A prisão de Marra desencadeou outra crise, quando os procuradores descobriram que o irmão dele, Renato, foi indicado para a pasta de Turismo por Raffaele e com o conhecimento da representante do M5S, o que configuraria um claro caso de favorecimento ilegal.   

Por conta disso, Raggi foi obrigada novamente a reorganizar seu governo aceitando a "interferência" dos líderes do M5S.   

Além da pressão interna, ela prestou depoimento por mais de oito horas à Procuradoria de Roma, onde explicou o que sabia sobre as nomeações da Prefeitura.   

Há poucos dias, no entanto, a Procuradoria finalizou o processo e pode indiciar Raggi por abuso de poder e falso testemunho.   

- Turismo No campo turístico, Raggi continuou na sua luta para "ordenar" os turistas que visitam a "cidade eterna" fazendo um maior controle sobre os ônibus do tipo que entram na cidade e proibindo mergulhos e o uso da água que fica nas fontes da capital - e que são um patrimônio histórico e cultural inestimável. Apesar da justiça ter revertido a proibição dos gladiadores no Coliseu em 2017, a prefeita ainda pode comemorar a decisão do Tribunal Regional de Lazio que impediu que o governo italiano transformasse a área que envolve alguns dos principais monumentos da cidade - Coliseu, Foro Romano, Monte Palatino e a Domus Area - em um Parque Arqueológico nacional. No entanto, com o discurso de economizar dinheiro municipal, sua decoração de Natal foi duramente criticada pelos moradores e satirizada nas redes sociais, obrigando a Prefeitura a mudar a decoração, especialmente, da Árvore de Natal. (ANSA)
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