'No limite', Itália ensaia nova postura em crise migratória
ROMA, 28 JUN (ANSA) - Pressionada pelo número cada vez maior de deslocados externos que desembarcam eu seu território, a Itália ensaia uma mudança de postura em relação à crise migratória que atinge o mar Mediterrâneo Central.
Entre 1º de janeiro e 27 de junho de 2017, exatas 73.380 pessoas foram resgatadas de embarcações clandestinas e levadas a portos italianos, quantidade 14,42% maior que o registrado no mesmo período de 2016, ano que já havia batido recorde nesse índice.
A Itália é governada desde 2013 pelo Partido Democrático (PD), legenda de centro-esquerda que até então vem adotando uma postura de abertura em relação aos deslocados externos. No entanto, com o agravamento da crise e o crescimento de movimentos populistas, começam a surgir sinais de esgotamento.
Hoje chefiado pelo primeiro-ministro Paolo Gentiloni, o governo estuda inclusive a hipótese de fechar os portos italianos para navios com bandeiras de outros países. Atualmente, os resgates no Mediterrâneo são coordenados pela Guarda Costeira da Itália, mas os salvamentos são feitos pelo navio que estiver mais perto.
Mas, independentemente da origem da embarcação que efetua o socorro, os deslocados externos, por questões de proximidade, são invariavelmente levados ao território italiano. Para o governo, essa situação pode ficar "insustentável". O objetivo do fechamento dos portos não seria diminuir as operações de resgate, mas sim forçar os outros países da União Europeia a compartilharem o peso da primeira acolhida a esses migrantes.
"Se o fenômeno dos fluxos [migratórios] continuar com esses números, a situação se tornará incontrolável até para um país grande e aberto como o nosso", declarou nesta quarta-feira (28) o presidente da Itália, Sergio Mattarella, durante um encontro com o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, em Ottawa.
O chefe de Estado ainda acrescentou que é preciso também "assegurar a segurança" dos cidadãos italianos, declaração que reflete a crescente preocupação dos habitantes da península com os efeitos que a onda migratória pode causar na sociedade.
Outro indício de mudança de postura partiu do secretário e líder do PD, o ex-premier Matteo Renzi, que já está em campanha aberta para voltar ao Palácio Chigi no ano que vem. Em um debate sobre migração na última terça (27), ele usou a palavra "invasão" para falar do problema, um termo que não costuma fazer parte do léxico da centro-esquerda italiana.
"Os nossos viverão em uma sociedade multiétnica, mas não sei se podemos esperar que ela seja multicultural. Desejo o encontro com outras culturas, mas quero defender a cultura que empurra esse território. A esquerda deve se dar conta de que se você não tem documento, não vai se integrar. Você está invadindo", disse.
Nesta quarta-feira (28), o representante da Itália na União Europeia, Maurizio Massari, apresentou em Bruxelas um relatório com dados que mostram o agravamento da crise migratória no Mediterrâneo Central. No documento, Roma afirma que os portos italianos estão "no limite de sua capacidade de gestão".
O país vive um momento político de bastante incerteza, e a esquerda viu seu tamanho diminuir nas eleições municipais deste mês de junho, quando perdeu algumas de suas fortalezas históricas, como a metrópole Gênova, Sesto San Giovanni (apelidada de "Stalingrado da Itália") e a pequenina Lampedusa, mundialmente famosa por acolher milhares de deslocados externos.
Mesmo premiada pela Unesco, a prefeita desta última, Giusi Nicolini, do PD, acabou derrotada pelo conservador Salvatore Martello, que já prometeu "mudar tudo" na ilha e encerrar a "organização do acolhimento.
Em nível nacional, o Partido Democrático disputa a preferência do eleitorado com o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), que tem adotado uma postura cada vez mais refratária ao resgate de deslocados externos no mar Mediterrâneo.
Recentemente, expoentes da legenda acusaram ONGs que atuam na região de serem financiadas por traficantes de seres humanos, e a prefeita de Roma, Virginia Raggi, uma das principais estrelas do movimento, chegou a pedir que a capital e maior cidade do país não recebesse mais solicitantes de refúgio.
A expectativa é de que a Itália realize eleições parlamentares no início de 2018, quando a crise migratória será certamente um dos focos da campanha. (ANSA)Veja mais notícias, fotos e vídeos em www.ansabrasil.com.br.
Entre 1º de janeiro e 27 de junho de 2017, exatas 73.380 pessoas foram resgatadas de embarcações clandestinas e levadas a portos italianos, quantidade 14,42% maior que o registrado no mesmo período de 2016, ano que já havia batido recorde nesse índice.
A Itália é governada desde 2013 pelo Partido Democrático (PD), legenda de centro-esquerda que até então vem adotando uma postura de abertura em relação aos deslocados externos. No entanto, com o agravamento da crise e o crescimento de movimentos populistas, começam a surgir sinais de esgotamento.
Hoje chefiado pelo primeiro-ministro Paolo Gentiloni, o governo estuda inclusive a hipótese de fechar os portos italianos para navios com bandeiras de outros países. Atualmente, os resgates no Mediterrâneo são coordenados pela Guarda Costeira da Itália, mas os salvamentos são feitos pelo navio que estiver mais perto.
Mas, independentemente da origem da embarcação que efetua o socorro, os deslocados externos, por questões de proximidade, são invariavelmente levados ao território italiano. Para o governo, essa situação pode ficar "insustentável". O objetivo do fechamento dos portos não seria diminuir as operações de resgate, mas sim forçar os outros países da União Europeia a compartilharem o peso da primeira acolhida a esses migrantes.
"Se o fenômeno dos fluxos [migratórios] continuar com esses números, a situação se tornará incontrolável até para um país grande e aberto como o nosso", declarou nesta quarta-feira (28) o presidente da Itália, Sergio Mattarella, durante um encontro com o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, em Ottawa.
O chefe de Estado ainda acrescentou que é preciso também "assegurar a segurança" dos cidadãos italianos, declaração que reflete a crescente preocupação dos habitantes da península com os efeitos que a onda migratória pode causar na sociedade.
Outro indício de mudança de postura partiu do secretário e líder do PD, o ex-premier Matteo Renzi, que já está em campanha aberta para voltar ao Palácio Chigi no ano que vem. Em um debate sobre migração na última terça (27), ele usou a palavra "invasão" para falar do problema, um termo que não costuma fazer parte do léxico da centro-esquerda italiana.
"Os nossos viverão em uma sociedade multiétnica, mas não sei se podemos esperar que ela seja multicultural. Desejo o encontro com outras culturas, mas quero defender a cultura que empurra esse território. A esquerda deve se dar conta de que se você não tem documento, não vai se integrar. Você está invadindo", disse.
Nesta quarta-feira (28), o representante da Itália na União Europeia, Maurizio Massari, apresentou em Bruxelas um relatório com dados que mostram o agravamento da crise migratória no Mediterrâneo Central. No documento, Roma afirma que os portos italianos estão "no limite de sua capacidade de gestão".
O país vive um momento político de bastante incerteza, e a esquerda viu seu tamanho diminuir nas eleições municipais deste mês de junho, quando perdeu algumas de suas fortalezas históricas, como a metrópole Gênova, Sesto San Giovanni (apelidada de "Stalingrado da Itália") e a pequenina Lampedusa, mundialmente famosa por acolher milhares de deslocados externos.
Mesmo premiada pela Unesco, a prefeita desta última, Giusi Nicolini, do PD, acabou derrotada pelo conservador Salvatore Martello, que já prometeu "mudar tudo" na ilha e encerrar a "organização do acolhimento.
Em nível nacional, o Partido Democrático disputa a preferência do eleitorado com o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), que tem adotado uma postura cada vez mais refratária ao resgate de deslocados externos no mar Mediterrâneo.
Recentemente, expoentes da legenda acusaram ONGs que atuam na região de serem financiadas por traficantes de seres humanos, e a prefeita de Roma, Virginia Raggi, uma das principais estrelas do movimento, chegou a pedir que a capital e maior cidade do país não recebesse mais solicitantes de refúgio.
A expectativa é de que a Itália realize eleições parlamentares no início de 2018, quando a crise migratória será certamente um dos focos da campanha. (ANSA)
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