Topo

Sem "El Chapo", México vive disputa por controle do narcotráfico

O mexicano Joaquín "El Chapo" Guzmán desembarca em Nova York (EUA) após ser extraditado do México - U.S. officials/Divulgação
O mexicano Joaquín "El Chapo" Guzmán desembarca em Nova York (EUA) após ser extraditado do México Imagem: U.S. officials/Divulgação

Na Cidade do México

04/07/2017 16h41

A extradição em janeiro do ano passado do ex-chefe do narcotráfico mexicano Joaquín "El Chapo" Guzmán aos Estados Unidos deixou o Cartel de Sinaloa com um vazio na sua liderança, mas a disputa para sucedê-lo está incendiando o país e ameaça a se estender.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) estima que ao menos 10 células da organização, que exerce a sua influência em mais de 50 países, estão brigando entre si para conseguir o controle do cartel. Apenas no último fim de semana, 30 pessoas foram assassinadas no departamento de Sinaloa, que há décadas não convive com a paz, já que as menores disputas podem ser resolvidas com balas.

No entanto, a situação agora está piorando exponencialmente principalmente a partir da prisão de El Chapo em janeiro de 2016 após sua inacreditável fuga de uma prisão de segurança máxima próxima da Cidade do México através de um túnel de 1,5 quilômetro e 15 metros de profundidade.   

Na última sexta-feira (30), outras 17 pessoas morreram em um confronto entre policiais e homens armados em uma perseguição em Villa Unión, no porto de Mazatlán, e outras 13 morreram em trágicos episódios no sábado (1º) nas cidades de Culiacán, El Fuerte, Ahome e Navolato.

Para as autoridades, não há nenhuma dúvida de que a "guerra sem quartel" entre os grupos que querem se apoderar do Cartel de Sinaloa, entre eles os filhos de El Chapo, Alfredo e Iván Archivaldo, está por detrás do aumento da violência no país.

Em fevereiro do ano passado, os filhos do ex-narcotraficante denunciaram terem sido atacados por Dámaso López, "El Minilic", filho do homem que ajudou Joaqín Gusmán a escapar da prisão pela primeira vez em 2001.

Dámaso López pai, apelidado de "El Licenciado", era o chefe de segurança do presídio quando ajudou El Chapo fugir em um carrinho de lavanderia e foi preso em maio deste ano em um bairro luxuoso da capital mexicana.

Já em agosto de 2006, os filhos de Guzmán foram sequestrados em uma casa de veraneio de Puerto Vallarta, enquanto estavam em uma festa de aniversário. As suspeitas indicam que El Minilic teria organizado o plano.

Segundo um relatório divulgado nesta segunda-feira (3) pelo Centro Nacional de Planejamento, Análise e Informação para o Combate da Delinquência da PGR, as células criminais que disputam a liderança do narcotráfico no México operam em nove departamentos do país.

A luta principal acontece, como se pode imaginar, entre Dámaso López e os filhos de El Chapo junto ao seu irmão Aureliano Gusmán Loera, "El Guano", que já ignoraram todos s acordos anteriores dos cartéis e agora buscam expandir ainda mais seu território.

O presidente do Senado mexicano, Pablo Escudero, advertiu que a violência em Sinaloa "vai piorar" e acusou o governador do departamento, Quirino Ordaz, de "evitar suas responsabilidades em relação ao aumento da segurança".

Já o especialista em segurança Alejandro Hope afirmou que apenas em junho deste ano foram registrados 182 assassinatos em Sinaloa, um pouco menos que no último mês de maio, mas o dobro em relação ao mesmo período de 2016.

"Sinaloa, departamento que deu nome a maior e mais sofisticada organização criminal da história e que enfrenta um problema de violência endêmica há décadas, existe quase sem policiais", comentou Hope.

"E os que existem estão com trabalhos acumulados, sob assédio constante, em risco permanente, com inimigos fora e dentro da própria entidade, prontos para atirar tanto quanto puder quando o medo mandar", explicou.

Para o especialista mexicano, o problema da região se resume em duas palavras: "cumplicidade" e "pura negligência de todos os governos do último meio século".