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Há um ano do impeachment de Dilma, o que mudou no Brasil?

31/08/2017 09h06

SÃO PAULO, 31 AGO (ANSA) - Por Tatiana Girardi - O dia 31 de agosto de 2016 entrou para a história do Brasil como aquele em que a presidente Dilma Rousseff (PT) sofreu um impeachment e deixou o poder, após cumprir menos da metade de seu segundo mandato.   


No Senado, por 61 votos favoráveis e 20 contrários, Dilma foi cassada do cargo, mas não perdeu os direitos políticos. Desde então, seu vice-presidente, Michel Temer, assumiu o comando do país com promessas de reformas e de estabilidade política. Mas, o que mudou com o representante do PMDB no poder? "Imediatamente após a saída de Dilma, nós tivemos um surto de expectativas quanto à economia. Mas foi apenas um surto, pois as denúncias que vieram sucessivamente, envolvendo o próprio presidente e expoentes de seu governo, refrearam essas expectativas", afirma o especialista em política da Universidade Presbiteriana Mackenzie Rogério Baptistini, em entrevista à ANSA.   


Sobre a economia, Baptistini destaca que, "apesar de alguns indicadores de melhora na economia, não temos a melhora desejada". "A saída da presidente não serviu para atenuar o desemprego, com a crise econômica continuando a ser muito grave", observa. Já o professor do departamento de Ciência Política da Universidade de Brasília Ricardo Caldas disse que é necessário "fazer uma separação entre a pessoa física e o governo Temer".   


"O Temer pessoa física é muito impopular e mal visto pela sociedade, sendo que a imagem que prevalece é a de 'um golpista', não no sentido de algo ilegal, mas que assumiu o poder de maneira oportunista", destaca o especialista à ANSA.   


"Mas, ao analisar sem emoção, o governo tem tomado medidas que têm dado resultados, como no combate à inflação, ao atrair investimentos. Ele colocou o mercado em funcionamento de novo.   


Porém, do ponto de vista fiscal, certamente, não houve um equilíbrio e os problemas persistem", ressalta Caldas.   


Ao assumir o cargo, Temer destacou que seu governo faria uma série de reformas para recolocar o Brasil "nos trilhos" e tirar o país da grave recessão econômica em que se encontrava. No entanto, uma série de denúncias contra ele mesmo e contra alguns dos principais expoentes de seu governo acabaram atrasando ou até paralisando os debates.   


"Essas denúncias atrasaram a agenda de reformas, mas não a impediram. A trabalhista saiu, mas em um ritmo mais lento. Já a da Previdência, certamente, para ser aprovada. Temer vai ter que fazer muitas concessões", diz Caldas à ANSA.   


Baptistini, no entanto, lembra que as reformas demoraram a sair também por falta de habilidade de negociações do novo governo.   


"O presidente Temer não se mostrou um líder à altura do momento.   


É lamentável para a sociedade brasileira, mas ele não soube costurar as alianças necessária para sair da crise. Para implementar reformas, era necessário ter feito uma grande coalizão, mas com o sistema de partido e políticos que nós temos, e com as denúncias se avolumando, o momento passou", enfatiza o professor à ANSA.   


Segundo Baptistini, "o ímpeto reformista é falso, é da boca pra fora, porque não tem atores que sustentem isso - e a sociedade desconfia do governo".   


- PT e a perda do poder: A saída de Dilma da Presidência do Brasil também encerrou um ciclo de 13 anos de poder do Partido dos Trabalhadores (PT) no cargo. Primeiramente com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, depois com a sua sucessora, o PT tornou-se a principal força política dos últimos anos.   


Porém, com a saída do poder, a sigla acabou se apequenando nas eleições municipais do ano passado e luta para tentar mostrar força. "O PT perdeu a possibilidade de fazer uma atualização. Nesse um ano fora do poder, mostrou ser extremamente dependente da personalidade do Lula, com as bases sem poder de difusão. Foi um partido que não se reformou e não apresentou para a sociedade uma autocrítica", diz Baptistini à ANSA, ressaltando que se essa postura continuar, a sigla "segue para insignificância".   


Para Caldas, a situação do partido também se divide em duas partes: o PT em si tem uma grande rejeição, mas "se Lula for candidato, ele tem 30% das intenções dos votos".   


"Mas, ele não é o partido todo. Se Lula concorrer, o que não acredito que irá acontecer, o PT pode voltar ao poder", destaca o professor da UNB.   


- Eleições 2018: Até mesmo por conta desse momento político, com as principais legendas envolvidas em escândalos como a Lava Jato, o cenário para as eleições presidenciais do ano que vem está completamente indefinido.   


"A gente enfrenta um momento bastante confuso e o horizonte é de penumbra, sobretudo porque os partidos estão em descrédito.   


Alguns estão tentando se reinventar, alguns fazendo mudanças estéticas, como mudar o nome numa tentativa de iludir os eleitores. É muito provável que surja um aventureiro, que surja alguém sem experiência, o que seria ruim para todos nós", finaliza Baptistini. (ANSA)
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