Primeiro-ministro desiste de formar governo e abre crise na Itália
O jurista Giuseppe Conte desistiu neste domingo (27) de formar um novo governo na Itália. Após uma reunião no Palácio do Quirinal, Conte devolveu a missão ao presidente Sergio Mattarella. A renúncia veio após a recusa de Mattarella de aceitar o eurocético Paolo Savona como ministro da Economia. A situação abre caminho para novas eleições.
Conte tinha sido indicado pelos partidos vencedores das eleições de março - o Movimento 5 Estrelas (M5S) e a Liga Norte - e aceito por Mattarella para criar um novo governo. Na função de primeiro-ministro desde a última quarta-feira (23), Conte logo enfrentou uma série de polêmicas e embates políticos que o impediram de concluir a formação de um gabinete.
"Dei o máximo de esforço, a máxima atenção para essa missão. Realizei-a em um clima de plena colaboração com os expoentes de força política que trabalhei", disse Conte em seu único pronunciamento sobre a renúncia.
A primeira polêmica com Conte envolveu seu currículo. O jurista disse que havia feito um curso na New York University, mas a instituição negou que seu nome estivesse na lista de ex-alunos. Em defesa de Conte, amigos e políticos afirmaram que ele havia cursado uma especialização, sem título de máster ou graduação, mas a polêmica começou a minar sua credibilidade como líder político.
O maior embate, porém, veio nos últimos dias, quando a Liga Norte, partido conhecido por sua posição ultranacionalista e contrária à União Europeia (UE), indicou o nome de Paolo Savona ao cargo de Ministro da Economia.
Savona, que já foi ministro da Indústria e Comércio entre 1993 e 1994, protagonizou, durante sua carreira, algumas controvérsias políticas, com comentários como uma comparação da Alemanha atual com o nazismo, além de ser um crítico da União Europeia e defender a saída da Itália do euro.
Em uma coletiva de imprensa, o presidente da Itália admitiu que rejeitou o nome de Savona. "Nesta tarde, o professor Conte, que aprecio e respeito, apresentou uma lista de ministros para formar um governo. Recebi e aceitei todas as propostas de ministros, com exceção do ministro de Economia."
Já afastando críticas de que teria impedido um novo governo italiano, Mattarella afirmou que agiu pensando nos interesses nacionais.
"Superando toda perplexidade da circunstância de um governo político ser guiado por um premier não-eleito pelo Parlamento, acompanhei com toda atenção o trabalho para formar o governo.
Ninguém pode dizer que nós criamos obstáculos para a formação de um governo chamado 'de mudança'", disse o presidente.
"A indicação de um ministro de Economia é sempre uma mensagem imediata de confiança ou de alarme aos investidores e ao mercado", argumentou, ressaltando que Savona "é visto como apoiador de uma linha que poderia provocar a saída da Itália do euro".
Segundo Mattarella, ele pediu para o Ministério da Economia um nome coerente que pudesse seguir os compromissos da Itália com a União Europeia. "A Itália é um fundador da União Europeia e um ator ativo", disse. "A adesão ao euro é uma escolha fundamental para a construção do nosso país".
Reações
Matteo Salvini, da Liga Norte, imediatamente ameaçou abandonar o acordo de governo com o M5S.
"Se o professor Savona não pode ser ministro porque tem o defeito de defender os cidadãos italianos colocando em discussão as regras europeias, então, se eu for primeiro-ministro, levo Savona", disse Salvini, em um comício em Terni.
Já o líder do M5S, Luigi Di Maio, disse que a rejeição de Mattarella por Savona é "incompreensível" e que a Itália é "um grande problema que se chama democracia".
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