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Em bênção de Natal, Papa critica "vírus do individualismo radical"

Ansa

25/12/2020 09h54Atualizada em 25/12/2020 18h40

Enquanto diversos países já começam a vacinar suas populações contra o novo coronavírus, o papa Francisco alertou nesta sexta-feira (25), em sua bênção de Natal, que essa "luz de esperança" contra a pandemia precisa estar à disposição de todos.

Ao invés de pronunciar a mensagem "Urbi et Orbi" ("À cidade de Roma e ao mundo") da loggia central da Basílica de São Pedro, o líder católico escolheu a "Sala das Bênçãos", que fica sobre o pórtico da igreja vaticana e recebeu um público de apenas algumas dezenas de pessoas.

"Hoje, neste tempo de obscuridade e incerteza pela pandemia, aparecem diversas luzes de esperança, como a descoberta das vacinas. Mas para que essas luzes possam iluminar e levar esperança ao mundo inteiro, elas devem estar à disposição de todos. Não podemos deixar que os nacionalismos fechados nos impeçam de viver como a verdadeira família humana que somos. Não podemos também deixar que o vírus do individualismo radical nos vença e nos torne indiferentes aos sofrimentos de outros irmãos e irmãs", disse.

Segundo Francisco, o mundo precisa "mais do que nunca de uma fraternidade baseada no amor real", e não em "belas palavras, ideais abstratos e vagos sentimentos". "Isso também vale para as relações entre povos e nações. Todos irmãos", acrescentou, citando o título de sua última encíclica ("Fratelli tutti"), que tem forte teor social.

O Papa pediu a "todos os responsáveis dos Estados, empresas e organismos internacionais" que promovem a cooperação no lugar da concorrência e busquem levar as vacinas "para todos, especialmente para os mais vulneráveis e necessitados de todas as regiões do planeta".

"Não posso me colocar acima dos outros, colocando leis de mercado e de patentes de invenções sobre as leis do amor, da saúde e da humanidade", afirmou Jorge Bergoglio, pedindo solidariedade com doentes, desempregados e mulheres vítimas de violência doméstica nos meses de confinamento.

"Diante de um desafio que não conhece fronteiras, não se pode levantar barreiras. Estamos todos no mesmo barco", ressaltou.

Crises e conflitos - Além da pandemia, Francisco também fez um apanhado das principais crises em curso no planeta, como as crianças que "pagam o alto preço da guerra" na Síria, no Iraque e no Iêmen.

"Que seus rostos mexam com a consciência dos homens de boa vontade para que sejam enfrentadas as causas dos conflitos e para que eles tomem atitudes com coragem para construir um futuro de paz", disse.

O Papa pediu o fim das hostilidades na Líbia, a retomada do diálogo entre Israel e Palestina e apoio da comunidade internacional ao Líbano. "Que os príncipes da paz ajudem os responsáveis do país a colocar de lado os interesses particulares e a se empenhar com seriedade, honestidade e transparência para que o Líbano possa percorrer um caminho de reformas e prosseguir em sua vocação de liberdade e convivência pacífica", ressaltou.

Bergoglio ainda fez um apelo pela manutenção do cessar-fogo em Nagorno-Karabakh, teatro de conflitos entre Armênia e Azerbaijão, e no leste da Ucrânia. Além disso, pediu o "alívio do sofrimento" dos povos de Burkina Fasso, Mali e Níger, "atingidos por uma grave crise humanitária, em cujas bases estão extremismos e conflitos armados, mas também a pandemia e outros desastres naturais".

Francisco também cobrou o fim das violências na Etiópia e do terrorismo internacional no norte de Moçambique e instou os líderes de Sudão do Sul, Nigéria e Camarões a prosseguirem no caminho da "fraternidade".

O Pontífice ainda citou o continente americano, "particularmente atingido pelo coronavírus, que exacerbou os muitos sofrimentos que o oprimem, frequentemente agravados pelas consequências da corrupção e do narcotráfico".

Por fim, pediu proteção às "populações flageladas por calamidades naturais no Sudeste Asiático", principalmente nas Filipinas e no Vietnã, onde "numerosas tempestades causaram inundações com efeitos devastadores nas famílias que habitam aquelas terras".

"E pensando na Ásia, não posso me esquecer do povo rohingya.

Jesus, nascido pobre entre os pobres, leve esperança a seus sofrimentos", disse o Papa, mencionando a minoria muçulmana alvo de perseguições em Myanmar. (ANSA).