Vaticano investiga 251 membros da Igreja na Espanha por supostos abusos
O Vaticano abriu uma investigação sem precedentes na Espanha para apurar acusações de pedofilia contra 251 membros do clero e alguns leigos de instituições religiosas, revelou neste domingo (19) uma reportagem do "El País".
De acordo com a publicação, o inquérito diz respeito a uma apuração feita pelo próprio jornal durante os últimos três anos.
O dossiê de 385 páginas foi entregue ao papa Francisco no dia 2 de dezembro, quando o sumo-pontífice teve contato direto com jornalistas em sua viagem à Grécia.
"Um assistente do argentino recolheu o dossiê e, ao voltar da viagem, o papa agiu rapidamente e o enviou na semana seguinte à Congregação para a Doutrina da Fé, instituição encarregada de avaliar as investigações sobre a pedofilia no mundo, dirigida pelo jesuíta espanhol Luis Ladaria", diz o texto.
O El País também entregou o documento ao presidente da Conferência Episcopal Espanhola (CEE), o cardeal Juan José Omella, arcebispo de Barcelona, onde foi registrado para dar início as investigações. A expectativa é que posteriormente os inquéritos sejam ramificados, informou a entidade. Ao todo, 31 ordens religiosas espalhadas por 31 dioceses são afetadas.
O caso mais antigo do relatório data de 1943 e o mais recente, de 2018. Todos são inéditos, exceto 13 já publicados, que foram incluídos porque surgiram novas denúncias contra esses clérigos.
Ainda de acordo com o jornal, 602 casos de supostos abusos - cada um referente a um acusado - foram registrados, e um total de 1.237 vítimas desde a década de 1930.
A maioria dos relatos denuncia religiosos pedófilos que abusaram de dezenas de crianças e de comportamentos que eram um "segredo aberto". Um caso comum é o de professores que abusaram sexualmente de toda a turma e que passaram anos em uma ou mais escolas.
A reportagem revela que estimativas como as usadas por especialistas em estudos de comissões independentes em outros países multiplicariam o número das vítimas para vários milhares.
A investigação dos casos apresentados pelo "El País" está atualmente limitada ao processo judicial canônico e, obviamente, pressupõe que as dioceses e ordens religiosas se investiguem. No entanto, a CEE continua a recusar-se a criar uma comissão independente para ouvir as vítimas e promover uma revisão total do passado.
Por fim, o jornal espanhol acrescenta que o Vaticano comunicou a "atenção" e "proximidade" do papa às vítimas dos abusos. Além disso, o pontífice instruiu a Congregação para a Doutrina da Fé a examinar as denúncias. Até o momento, porém, não há dados oficiais sobre o caso.
Os recorrentes escândalos de pedofilia em diversos países, como Áustria, Chile, Estados Unidos, Irlanda e França, mancharam a imagem da Igreja Católica no mundo e aumentaram a pressão para o Papa tomar medidas efetivas para coibir esse tipo de crime.
Uma das ações mais importantes anunciadas por Francisco é uma norma que obriga membros do clero a denunciar suspeitas de violência sexual às autoridades eclesiásticas. Além disso, Jorge Bergoglio aboliu o segredo pontifício sobre casos de pedofilia.
No entanto, muitas vítimas alegam que isso ainda é pouco, já que punições a padre pedófilos, tanto em âmbito eclesiástico quanto na esfera criminal, continuam raras.
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