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Ataque na Tunísia: qual é o tamanho da ameaça?

18/03/2015 20h57

Homens armados invadiram museu; pelo menos 19 pessoas morreram, muitas delas turistas

Outrora considerada bastião do secularismo no mundo árabe, a Tunísia viu militantes radicais ganharem força desde a deposição do então presidente Zine Al-Abidine Ben Ali por meio de um levante popular em 2011.

O ataque ao famoso Museu Nacional do Bardo na capital Túnis, nesta quarta-feira (18), foi o mais sangrento desde a revolução. Pelo menos 19 pessoas morreram --a maioria turistas europeus.

Nenhum grupo reivindicou a autoria do atentado, mas as suspeitas recaem sobre grupos muçulmanos salafistas ligados à Al Qaeda ou ao grupo autodenominado Estado Islâmico, que está combatendo no Iraque e na Síria e já tem um pé na vizinha Líbia.

As autoridades dizem que cerca de três mil tunisianos viajaram ao exterior para combater com grupos extremistas --incluindo à Síria e ao Iraque-- tornando-se o grupo mais numeroso de combatentes estrangeiros a se juntar às fileiras do EI, segundo especialistas.

Contudo, o retorno desses militantes à Tunísia pode representar uma ameaça à segurança nacional.

O ataque é um duro golpe ao novo governo secular da Tunísia, que se comprometeu a endurecer o combate aos militantes depois de derrotar o partido moderado islâmico Ennahda nas eleições no ano passado, as primeiras democráticas do país.

Tendo vencido a primeira eleição pós-revolução, o Ennahda foi acusado de não enfrentar fortemente os grupos jihadistas --uma percepção que ganhou corpo após os assassinatos dos políticos Chokri Belaid e Mohamed Brahmi, duas lideranças seculares do país.

A Tunísia também combateu a Al Qaeda no Maghreb Islâmico (AQIM) ao longo da fronteira com a Argélia.

O grupo realizou uma série de ataques às forças de segurança na região montanhosa da Tunísia --pelo menos 14 soldados foram mortos em um atentado contra dois postos de controle em julho de 2014, a maior baixa registrada pelo Exército desde a luta pela independência da França em 1956.

O ataque ocorreu apesar de o fato de que as Forças Armadas vêm realizando ofensivas por ar e por terra desde 2012 para eliminar militantes radicais.

Revés

Mas este novo revés não é surpreendente --a Tunísia possui uma das menores Forças Armadas na região, com pouca experiência de contraterrorismo, embora os militares tenham recebido treinamento e equipamento da Europa e dos Estados Unidos.

Dentro da Tunísia, o principal grupo islâmico radical é Ansar al-Sharia. Classificado como um grupo terrorista pela ONU, o Ansar al-Sharia foi acusado de atacar a embaixada americana em Túnis em setembro de 2012.

O grupo é liderado por Abu Ayadh Al-Tunisi, que foi perdoado e libertado da prisão após a derrubada do regime do ex-presidente Ben Ali como parte dos esforços para promover reconciliação.

Um novo alerta de prisão foi emitido pelas autoridades após alegações de que o grupo estaria envolvido em episódios de violência, incluindo o ataque à embaixada americana e aos assassinatos de Belaid e Brahmi.

Al-Tunisi nega as acusações e diz que defende pacificamente a promulgação da lei islâmica na Tunísia.

O grupo ganhou apoio por meio do trabalho humanitário, especialmente em bairros onde os níveis de emprego e pobreza são elevados.

Alguns analistas acreditam que, embora sua base de apoio seja pequena, a raiz da mobilização de Ansar al-Sharia o torna a maior ameaça à Tunísia, considerado o único país árabe a ter alcançado uma transição política bem-sucedida após os protestos que se espalharam pela região em 2011.