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Argentina torturou seus próprios soldados na guerra das Malvinas, diz documento

David Fernandez/EFE
Imagem: David Fernandez/EFE

15/09/2015 07h09

Soldados argentinos foram submetidos a abusos e torturas por seus próprios superiores durante a guerra das Malvinas contra a Grã-Bretanha em 1982, revelam documentos liberados pelas Forças Armadas da Argentina.

Esses são os primeiros documentos oficiais com essas revelações que vêm a público. Depoimentos de soldados relatam o uso de equipamentos precários mediante frio intenso.

Eles também dizem ter sido espancados por oficiais ao deixarem as trincheiras em busca de comida.

O conflito em torno das ilhas deixou mais de 900 mortos.

Durante anos, veteranos de guerra argentinos denunciaram ter experimentado condições terríveis durante o conflito, incluindo a ausência de calçados e casacos apropriados, afirma o correspondente da BBC em Buenos Aires Ignacio de los Reyes.

Os documentos até então secretos descrevem ameaças de execução e soldados sendo amarrados dentro de covas vazias.

Um tenente relata como outro oficial amarrou suas mãos e pernas às costas e o deixou por oito horas com o rosto na areia molhada de uma praia gelada das Malvinas.

Um sargento disse que teve de ser operado após sofrer um chute nos testículos.

"Esses documentos levantam a cortina sobre fatos que foram escondidos por muitos anos pelas Forças Armadas", diz Ernesto Alonso, de um grupo de veteranos da cidade de La Plata.

'Exercício de colonialismo'

A guerra das Malvinas (ou Falklands, na nomeação oficial britânica) começou em abril de 1982, quando tropas da Argentina invadiram o território ultramarino britânico.

Em abril, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, determinou a liberação de todos os documentos militares secretos produzidos durante o conflito

Uma força tarefa britânica foi enviada à área e retomou o controle das ilhas em junho. Três cidadãos das ilhas e 255 militares britânicos morreram no conflito.

O número de argentinos mortos é estimado em cerca de 650.

A derrota da Argentina precipitou o fim da brutal ditadura militar no país, que já enfrentava problemas econômicos graves e falta de apoio popular.

Apesar de a invasão ter sido alvo de críticas generalizadas na Argentina, muitos cidadãos continuam a reivindicar a posse das ilhas.

A presidente Cristina Kirchner já descreveu a presença britânica como um "flagrante exercício de colonialismo do século 19".

O governo britânico diz que defenderá a autodeterminação dos habitantes das ilhas.

A maioria esmagadora dos moradores das Malvinas votou em março de 2013 pela manutenção do status de território britânico. Atualmente, cerca de 2,9 mil pessoas vivem nas ilhas.