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Por 'agenda positiva', Dilma inicia viagem à Suécia e à Finlândia

Dilma Rousseff desembarca na Suécia para visita oficial - Agência Brasil
Dilma Rousseff desembarca na Suécia para visita oficial Imagem: Agência Brasil

Luís Guilherme Barrucho

Enviado especial da BBC Brasil à Suécia e à Finlândia

18/10/2015 09h59

Para mostrar que o "governo não está parado", segundo afirmaram interlocutores do governo à BBC Brasil, a presidente Dilma Rousseff dá início neste domingo (18) a uma série de compromissos oficiais na Suécia e na Finlândia.

O objetivo da visita, segundo o Ministério das Relações Exteriores, é aprofundar as relações bilaterais com os dois países.

Na prática, porém, a viagem segue na esteira do que o governo convencionou chamar de "agenda positiva", um conjunto de ações - de investimentos em infraestrutura a programas sociais - que tenham repercussão favorável na mídia.

Fontes próximas à presidente afirmaram que a intenção é reverter a queda de popularidade da presidente, hoje em 10%.

Nos últimos meses, Dilma tem intensificado as viagens ao exterior. Ela esteve recentemente na Colômbia e, até o final do ano, a presidente deve sair do país pelo menos mais três vezes, à Turquia, para a reunião do G-20 (grupo das 20 maiores economias do mundo), à França, para a Conferência do Clima (COP-21), e ao Japão.

Dilma também chega à Suécia, sua primeira parada de uma viagem oficial de quatro dias, embalada por "duas vitórias" em meio à crise política que assola seu governo, acreditam interlocutores do Planalto.

Na semana passada, o Supremo Tribubal Federal (STF) suspendeu o rito de impeachment definido pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). As regras estabeleciam, entre outras situações, que uma eventual rejeição por ele de um dos pedidos de impeachment poderia ser questionada por qualquer deputado.

Nessa hipótese, caberia ao plenário da casa a palavra final para a abertura do processo pedindo o afastamento da presidente. Dessa forma, a decisão não ficaria apenas nas mãos de Cunha.

Em outro desdobramento, o ministro do STF Teori Zavascki autorizou a abertura de um novo inquérito para investigar o peemedebista, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. O esquema envolveria quatro contas secretas na Suíça atribuídas ao parlamentar. Cunha nega as acusações.

Segundo fontes próximas à presidente, apesar da crise política, Dilma teria decidido manter a visita à Suécia e à Finlândia para mostrar que o "governo não está parado". "Ela não veio para cá (Suécia e Finlândia) para fugir da pressão (da crise), mas sim para mostrar que o governo não está parado (por causa dos últimos acontecimentos em Brasília)", afirmou um interlocutor do governo.

A comitiva da presidente inclui os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Aldo Rebelo (Defesa), Armando Monteiro Neto (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), Celso Pansera (Ciência, Tecnologia e Inovação), André Figueiredo (Comunicações) e o secretário-executivo do Ministério da Educação, Luiz Cláudio Costa.

Suécia

A primeira parada é a Suécia, aonde Dilma chegou no fim da tarde de sábado. Do aeroporto, ela seguiu para o hotel sem falar com a imprensa.

Neste domingo, a presidente se reúne com o Rei Carlos 16 Gustavo e com empresários brasileiros. O ponto alto da visita, contudo, vai ocorrer na segunda-feira, quando Dilma será recebida pelo primeiro-ministro da Suécia, Stefan Löfven, e visita à tarde as instalações da fábrica da empresa Saab, em Linköping, onde estão sendo fabricados os 36 caças Gripen NG adquiridos pelo governo brasileiro em outubro do ano passado, como parte do Programa FX-2, de modernização da frota das aeronaves militares brasileiras.

Estimado em 39 bilhões de coroas suecas (R$ 18,5 bilhões), trata-se do maior contrato de exportação da história da Suécia.

No mesmo dia, mais cedo, a presidente participa de reunião do Conselho Empresarial Brasil-Suécia e da abertura do Fórum Empresarial Brasil-Suécia. Estão previstas ainda visitas ao Instituto Real de Tecnologia (KHT), onde Dilma deve se encontrar com alunos brasileiros do programa 'Ciências sem Fronteiras', e à empresa Ericsson.

Segundo o Itamaraty, a visita à Suécia tem como objetivo "dinamizar" as relações bilaterais, por meio da adoção do "Novo Plano de Ação da Parceria Estratégica", e discutir a cooperação em áreas como investimentos, comércio, energia renovável e educação.

Segundo apurou a BBC Brasil, o convite para a visita de Dilma à Suécia partiu pessoalmente do primeiro-ministro sueco, Stefan Löfven, quando os dois se encontraram em Nova York para a abertura da Assembleia-Geral da ONU, no fim do mês passado. A Suécia lidera um grupo de nove países, entre eles o Brasil, para assegurar que os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável sejam atingidos até 2030.

Em 2014, o intercâmbio comercial entre os dois países somou US$ 2,1 bilhões (R$ 8,2 bilhões). De janeiro a setembro deste ano, a Suécia foi o 52 parceiro comercial do Brasil. Mais de 200 empresas suecas operam atualmente em solo brasileiro, em especial no setor de tecnologia, empregando cerca de 70 mil pessoas.

Finlândia

Da Suécia, Dilma segue na noite de segunda-feira para a Finlândia. No dia seguinte, ela se encontra, na capital finlandesa, Helsinque, com o presidente Sauli Niinistö e com o primeiro-ministro Juha Sipilä. Também estão previstos encontros com empresários finlandeses.

Segundo o Itamaraty, um dos principais objetivos da visita é ampliar acordos entre os dois países na área de educação básica. A Finlândia possui um dos melhores sistemas educacionais do mundo e o Brasil quer trocar experiências a fim de importar iniciativas que deram certo no país, acrescentou o órgão.

Também devem ser abordados temas regionais e globais, como as negociações Mercosul-União Europeia e a reforma do Conselho de Segurança (CS) da ONU.

No ano passado, o intercâmbio comercial entre Brasil e Finlândia somou US$ 1 bilhão (R$ 3,9 bilhões). De janeiro a setembro deste ano, a Finlândia foi o 67 parceiro comercial do Brasil. Cerca de 50 empresas finlandesas atuam em solo brasileiro, nas áreas de energia, tecnologia marítima, telecomunicações e papel e celulose.

De acordo com a agenda oficial, Dilma deve retornar ao Brasil na noite de terça-feira.