Os 4 desafios na 'lista de tarefas' de Temer, segundo o 'Financial Times'
O vice-presidente Michel Temer (PMDB) terá quatro desafios "intimidadores" pela frente caso assuma o governo após o provável afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT).
O primeiro item da "lista de tarefas" é recuperar a confiança dos investidores e estabilizar uma economia tomada pela recessão, avalia John Paul Rathbone, editor de América Latina do jornal britânico "Financial Times", em artigo publicado nesta terça-feira (10).
Nesse ponto, diz o jornalista, a experiência do Brasil guarda paralelos com a da Argentina: ambos países enfrentam o "fim do superciclo (de alta) das commodities e o legado de mais de uma década de liderança populista".
Rathbone diz que o vice-presidente já "começou a reunir um time confiável de conselheiros" e manifesta otimismo sobre o possível desempenho da economia sob Temer. "Se eles conseguirem injetar uma dose de expectativas positivas no surrado setor privado brasileiro, a economia, que atingiu o fundo do poço, poderia dar sinal de vida nova."
O segundo desafio de Temer, afirma o editor do "FT", é "evitar agitação social enquanto promove um ajuste fiscal impopular". "Impostos terão que ser elevados e custos cortados para impedir a dívida pública do Brasil de crescer ainda mais."
Rathbone diz que tal tarefa é "difícil porém não impossível", e não precisa privilegiar impostos regressivos (que beneficiam os mais ricos, pois a alíquota diminui à medida que os valores sobre os quais incide são maiores).
Lava Jato e Congresso
O terceiro desafio da lista de Temer é mais pessoal: evitar cair na investigação da Operação Lava Jato. Para o jornalista, "não dá para saber" se o peemedebista terá o mesmo destino de congressistas como o presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), réu no caso.
"Mas até essa investigação sobre a Petrobras não durará para sempre", diz o editor, citando o desejo de Sérgio Moro, que o juiz da Lava Jato teria manifestado a interlocutores, de encerrar a investigação em primeira instância até dezembro.
O quarto e último desafio é também o mais difícil, afirma o jornalista: construir maioria parlamentar.
"Embora Temer seja um negociador astuto, essa talvez seja sua tarefa mais difícil, sobretudo porque o escândalo de corrupção na Petrobras fraturou o Congresso em uma miríade de facções em ebulição, não apenas entre partidos mas dentro deles."
Rathbone sugere que Temer se inspire na experiência do novo presidente argentino, Maurício Macri, para encaminhar tal "lista proibitiva de tarefas".
"Após cinco meses na Presidência, Macri, que também não tem maioria no Congresso, lançou um programa de ajuste macroeconômico duro, mas suas taxas de aprovação continuam acima de 60%."
A lição nos dois países, diz Rathbone, é que "a maioria dos cidadãos pouco se importam para a política partidária, apenas querem que seus países sejam razoavelmente bem governados e estão dispostos a dar uma nova chance a novos líderes para fazer isso, ao menos por um tempo".
Nesse sentido, diz o editor de América Latina do "FT", Temer tem, "contra todas as probabilidades", "uma boa chance de estabilizar o Brasil."
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