Com 4 enchentes e 100 mortes em um ano, RS sofre com ocupação perto de rios
Em menos de um ano, mais de 100 pessoas morreram no Rio Grande do Sul, vítimas de grandes enchentes e eventos climáticos menores. Foram 81 mortes no ano passado, segundo o governo gaúcho, e mais de 30 neste ano.
O que aconteceu
Desastres naturais evidenciam enfraquecimento de políticas ambientais, diz especialista. O climatologista e professor na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Francisco Eliseu Aquino entende que os governos —municipais, estadual e federal— fragilizaram na última década a preservação do meio ambiente ao diminuir áreas de preservação.
Isso favorece a ocupação de regiões ribeirinhas. Além disso, os pesquisadores afirmam que o sistema de alerta pode ser aprimorado.
Nos últimos anos, os desastres naturais têm ocorrido em intervalos menores; só em 2023, foram registradas três grandes enchentes. O fenômeno ocorreu em junho, setembro e novembro —uma diferença de até três meses entre um e outro. Passados cerca de seis meses das últimas inundações, o estado volta a registrar uma grande enchente.
É preciso planejamento urbano e territorial, diz o professor. "O atual cenário de mudança do clima já é sabido por nós, cientistas. Em 2040 e 2050, seguirá mais intenso do que nós vemos hoje", diz Aquino.
Alternativa seria realocar moradores de bairros mais atingidos para outras áreas dos municípios. "É o indicado. Sair das áreas de inundação é uma necessidade não só no Brasil, como no mundo", diz o professor Aquino.
Em alguns casos, seria preciso deslocar a cidade inteira, o que é inviável financeiramente, argumenta Jaime Federici Gomes, professor de engenharia civil na Escola Politécnica da PUCRS.
População deve ser avisada —o que aconteceu— e abrigada em locais seguros, afirma Gomes. "Isso deve ser feito em conjunto com a Defesa Civil, para procurar áreas seguras para realocação da população no momento em que o problema começa a ocorrer", diz.
Sistema de alertas de enchentes é bom, mas pode ser aprimorado, afirmam especialistas. Aquino diz que hoje cerca de 60% dos países não possuem sistemas de alerta. "É uma prioridade internacional". Já Gomes entende que os sistemas de alerta precisam ser bem pensados para evitar a ocorrência de alarmes falsos. "Às vezes, as pessoas saem e não acontece nada. Aí quando têm que sair, acabam não saindo", diz o professor.
Desastres naturais dessa magnitude são difíceis de se prever. "São eventos muito excepcionais, os últimos que ocorreram são de grande magnitude e rara ocorrência", diz Gomes. Uma ponte, por exemplo, tem probabilidade anual de vir a ruir de 1%, ou seja, uma a cada 100. Já o rompimento de uma barragem tem uma probabilidade de ocorrer na ordem de 1 evento a cada 10 mil anos, segundo o professor. No caso da enchente deste ano, as duas situações aconteceram.
Os desastres pelas chuvas no RS
Enchente de agora supera a registrada em 1941. Na época, mais de 200 pessoas morreram, conforme a Brigada Militar. Só em Porto Alegre, choveu 791 milímetros, e um quarto dos 272 mil habitantes da capital na época ficaram desabrigados. Não havia ainda o Muro da Mauá —parte do sistema de contenção de cheias—, que só foi construído entre 1971 e 1974. Na enchente de 1941, o rio Taquari atingiu 29,9 metros.
Rio tem maior nível em mais de 80 anos. Uma das regiões mais atingidas agora é o Vale do Taquari —a pouco mais de 100 km de Porto Alegre. Por lá, o nível do rio Taquari chegou a 33 metros às 12h30 de ontem, em Estrela. A cota de inundação ocorre a partir dos 19 metros, já a de alerta é de 17 metros, segundo o SGB (Serviço Geológico do Brasil).
Só em setembro do ano passado, 54 pessoas morreram no estado por causa de enchentes. Inúmeras casas foram destruídas e levadas com a força da água, e cidades ficaram submersas. Na época, o nível do Taquari atingiu 29,53 metros —o mais alto até agora.
Em novembro de 2023, ao menos oito pessoas morreram em razão de fortes chuvas. Na época, o rio Taquari atingiu a marca de 28,94 metros. Em Porto Alegre, a água tomou conta de algumas ruas após uma comporta vazar —a cidade tem um sistema de contenção para cheias.
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Quero receberEm junho do ano passado, um ciclone que passou pela região Sul provocou a morte de ao menos 16 pessoas. Uma das regiões mais atingidas foi o Vale dos Sinos, na região metropolitana da capital.
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