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É possível classificar a Vila Olímpica do Rio como a pior da história?

Thiago Guimarães - @thiaguima - da BBC Brasil em Londres

25/07/2016 18h21

Enquanto funcionários trabalham em regime de força-tarefa para resolver obras inacabadas na Vila Olímpica, os problemas verificados na abertura das acomodações da Rio-2016 ainda repercutem pelo mundo.

Delegações relataram problemas de acabamento e limpeza no complexo de apartamentos próximo ao Parque Olímpico da Barra, aberto aos competidores neste domingo.

No caso mais grave, a Austrália informou que não iria ocupar o alojamento enquanto problemas como banheiros entupidos, vazamentos e fiações expostas não fossem resolvidos.

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O anúncio gerou uma troca de farpas com o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), que ironizou as queixas australianas ao dizer que providenciaria um canguru para a delegação se sentir em casa. "Não precisamos de cangurus, precisamos de encanadores", rebateu um porta-voz da delegação.

Após a saia-justa olímpica, órgãos de imprensa revelaram que algumas delegações, como a de Brasil e EUA, bancaram serviços extras de funcionários temporários para finalizar as acomodações.

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O presidente do Comitê Organizador dos Jogos do Rio, Carlos Arthur Nuzman, minimizou a polêmica e disse que críticas e ajustes são "naturais".

"Outros organizadores de Jogos Olímpicos já tiveram situações semelhantes ou piores. Nossa missão é corrigir para ter jogos espetaculares", afirmou.

Pior vila da história?

Para Owen Gibson, correspondente-chefe de esportes do jornal britânico The Guardian, esse tipo de problema tende a ser amplificado pela imprensa, pois não há muito o que cobrir nos dias que antecedem a competição.

Ele lembra de casos aparentemente mais graves de problemas nas instalações dos atletas, como nos Jogos da Commonwealth (grupo das ex-colônias britânicas mais Reino Unido e Moçambique) em 2010, em Nova Déli, e nos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, na Rússia, em 2014.

As críticas às acomodações durante o torneio na Rússia motivaram até o uso em redes sociais, por jornalistas e atletas, da hashtag #sochiproblems (problemas de Sochi).

"Problemas assim são comuns porque essas acomodações tendem a ser as últimas obras. A questão-chave é em quanto tempo são resolvidos", afirmou Gibson à BBC Brasil.

Mesmo em Londres-2012, Olimpíada que foi tida como um sucesso, o jornalista lembra como um problema pontual de abastecimento de água nos cafés da Vila dos Atletas e o episódio de um treinador que passou três horas preso no trânsito ganharam manchetes à época.

Veterano de seis Olimpíadas, o jornalista Edgard Alves, colunista da Folha de S.Paulo, diz não lembrar de uma crítica tão dura às acomodações como as feitas pela delegação australiana no Rio.

Ele lembra, contudo, que a delegação da Austrália já havia criado uma rusga com a Prefeitura do Rio no começo do ano, após a chefe da missão, Kitty Chiller, dizer que atletas do país estavam proibidos de visitar favelas.

Na ocasião, o prefeito Paes classificou o Comitê Olímpico Australiano como uma "fonte de agressões" contra a cidade.