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Como o conflito Israel-Palestina está dividindo Obama, Trump e Netanyahu

AP
Imagem: AP

28/12/2016 21h39

O debate sobre o conflito entre Israel e Palestina voltou a ganhar força nos últimos dias após líderes mundiais trocarem farpas, sejam em discursos oficiais ou em tuítes.

As tensões diplomáticas recomeçaram na semana passada, quando o Conselho de Segurança da ONU condenou e considerou ilegais os assentamentos israelenses em território palestino. A decisão foi fruto de uma abstenção inédita dos Estados Unidos, que não usaram seu poder de veto.

A partir daí, o conflito vem aprofundando ainda mais as diferenças entre a administração do presidente americano Barack Obama, do presidente eleito Donald Trump e do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.

Nesta quarta-feira, o secretário de Estado John Kerry disse que a perspectiva de um acordo de paz entre Israel e Palestina estava sob grave risco.

Ele também reforçou que a condenação da ONU aos assentamentos israelenses ilegais estava alinhada com os valores americanos.

"A solucão dos dois Estados é o único caminho para se alcançar uma paz permanente entre israelenses e palestinos. É a única maneira de se garantir o futuro de Israel como um Estado judeu e democrático. Mas esse futuro agora está ameaçado", disse Kerry.

Ele afirmou ainda que a coalizão de Netanyahu "é guiada por uma agenda pautada por elementos extremos" e que as decisões políticas do premiê estão levando as discussões para a direção de apenas um Estado.

'Desdém'

O posicionamento de Kerry foi criticado por Netanyahu, que afirmou que o discurso do secretário havia sido "desbalanceado" e "obsessivamente focado" nos assentamentos.

Segundo ele, o entrave está na recusa dos palestinos de reconhecer o direito de Israel de existir, o que Kerry se negaria a ver.

Trump também se manifestou, dizendo no Twitter que não iria permitir que Israel fosse tratada com "tamanho desdém e desrespeito". "Aguente firme, Israel. O dia 20 de janeiro vai chegar logo!", tuitou.

O premiê israelense respondeu o tuíte: "Presidente eleito Trump, obrigado pela sua carinhosa amizade e seu apoio a Israel".

Futuro

Para o analista de política internacional da BBC, Paul Adams, os últimos desdobramentos têm potencial para dar o tom de como serão as relações diplomáticas entre os envolvidos no conflito.

"Barack Obama começou seu governo com uma série de medidas para colocar fim ao impasse árabe-israelense. Não funcionou e, rapidamente, uma sucessão de revoltas no mundo árabe e guerras deram ao presidente outras preocupações."

Segundo Adams, aos 45 minutos do segundo tempo do governo Obama, surgiram novas medidas diplomáticas, que irritaram o premiê israelense.

"Mas será que elas podem ditar o futuro da diplomacia? A França está organizando uma conferência em janeiro para tentar fechar um acordo de paz. E há indicações que as decisões tomadas lá podem servir de base para outra resolução da ONU, a ser aprovada antes de 20 de janeiro, quando Obama deixa o cargo."

"No entanto, Trump já deixou claro que ele não tem nenhuma intenção de pressionar Israel."

Condenação na ONU

Aprovada na semana passada por 14 votos a zero, com apenas uma abstenção (a dos EUA), a resolução da ONU exige que Israel imediatamente "cesse todas as atividades de assentamento no território palestino ocupado, incluindo na Jerusalém Oriental".

Enquanto Netanyahu reagiu afirmando que "não vai tolerar os termos da decisão", o porta-voz do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, disse que a resolução foi um "grande golpe para a política israelense".

Na avaliação da correspondente da BBC, Barbara Plett, a decisão reflete um consenso internacional de que o crescimento dos assentamentos de Israel se tornou uma ameaça à viabilidade de um Estado palestino em um eventual acordo de paz no futuro.

A questão é uma das mais controversas entre israelenses e palestinos. Cerca de 500 mil judeus vivem em aproximadamente 140 assentamentos construídos desde a ocupação de Israel, em 1967, na Cisjordânia e na Jerusalém Oriental.

Os assentamentos são considerados ilegais de acordo com leis internacionais, embora Israel conteste esta visão.