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Protestos e mortes: o que está por trás do agravamento da crise na Venezuela?

Christian Veron/Reuters
Imagem: Christian Veron/Reuters

20/04/2017 17h24

A crescente crise entre governo e oposição aumentou a tensão na Venezuela, que vem enfrentando protestos violentos nas últimas semanas.

Na quarta-feira, uma grande mobilização - chamada de "mãe de todas as manifestações" - convocada pelos opositores contra a gestão Nicolás Maduro teve confrontos que deixaram pelo menos duas pessoas mortas e mais de 50 feridas. Desde o início do mês, cinco mortes foram registradas, além de centenas de prisões.

A crise governamental é agravada pela situação econômica do país - em seu relatório mais recente, o FMI (Fundo Monetário Internacional afirmou que a Venezuela "continua imersa em uma profunda crise econômica", com o desemprego em alta e uma recessão que já dura três anos.

A seguir, a BBC Brasil responde a quatro perguntas sobre o que está por trás do agravamento da crise.

1. Por que a Venezuela está tão dividida?

A Venezuela está dividida entre os chamados chavistas - como são conhecidos os apoiadores das políticas socialistas do ex-presidente Hugo Chávez -, e os opositores, que esperam o fim dos 18 anos de poder do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV).

Depois da morte de Chávez, em 2013, Nicolás Maduro, também integrante do PSUV, foi eleito presidente com a promessa de dar continuidade às políticas do antecessor.

Os chavistas elogiam os dois por usarem as riquezas petrolíferas da Venezuela para reduzir a desigualdade e tirar muitos venezuelanos da pobreza.

Em contrapartida, a oposição diz que desde que o PSUV assumiu o poder, em 1999, o partido socialista corroeu as instituições democráticas e fez uma má administração da economia.

Já os chavistas acusam a oposição de ser elitista e de explorar os venezuelanos mais pobres para aumentar suas riquezas.

Eles também afirmam que os líderes da oposição trabalham em favor dos Estados Unidos, um país com o qual a Venezuela teve as relações estremecidas.

2. Por que a popularidade de Maduro está em queda?

Maduro não foi capaz de inspirar os chavistas da mesma forma que seu predecessor.

Além disso, o governo dele também foi afetado pela queda nos preços do petróleo - responsável por cerca de 95% do lucro com exportações e usado para financiar alguns dos generosos programas sociais do governo que, de acordo com dados oficiais, garantiram moradia a mais de um milhão de venezuelanos pobres.

A redução da receita com o petróleo forçou o governo a diminuir alguns programas sociais, o que levou à perda de apoio entre os principais aliados.

3. Se as divisões são antigas, o que provocou as novas tensões?

Uma série de eventos fez aumentar as tensões entre o governo e a oposição, levando a população a voltar a protestar nas ruas.

O principal deles foi em 29 de março, quando a Suprema Corte do país anunciou que estava assumindo os poderes da Assembleia Nacional, controlada pela oposição.

Segundo os opositores, a determinação ameaçava a divisão de poderes no país e aproxima a Venezuela de um governo unilateral liderado por Nicolás Maduro.

A corte afirma que a Assembleia Nacional ignorou decisões anteriores da Suprema Corte e estaria em desacato.

Embora a Suprema Corte tenha revertido sua decisão apenas três dias depois, a desconfiança com relação ao tribunal não diminuiu.

Outro fator que contribuiu para o descontentamento dos oposicionistas foi a decisão da Controladoria-Geral da Venezuela de determinar a cassação, por 15 anos, dos direitos políticos de Henrique Caprilles, um dos principais nomes da oposição no país.

Caprilles perdeu as eleições para Maduro em 2013, por uma pequena diferença de votos, e seria um provável candidato no pleito presidencial de 2018.

A inelegibilidade dele até 2032 tira da oposição um de seus líderes de maior visibilidade e experiência.

4. O que quer a oposição?

Os oposicionistas têm quatro demandas principais:

- A saída dos juízes da Suprema Corte que determinaram a perda dos direitos da Assembleia Nacional em 29 de março;

- A realização de eleições gerais ainda neste ano;

- A criação de um "canal humanitário" para permitir que medicamentos sejam importados para suprir a grave escassez na Venezuela;

- A libertação de todos os "presos políticos".