O que o atentado em Manchester significa para a polícia e a Inteligência britânicas
Há três motivos pelos quais não havia sido perpetrado um ataque como o de Manchester desde 2005 no Reino Unido.
Primeiramente, porque um atentado dessa magnitude demanda conhecimento, o que é difícil de conseguir sem alguma ajuda. Além disso, exige muito planejamento e preparação, o que aumenta a chance de agências de inteligência descobrirem a operação e, por último, pelo fato de que as pessoas que cumprem os dois primeiros requisitos são bastante raras.
Há mais de uma década, a equipe de Assuntos Domésticos da BBC monitora todo e qualquer incidente terrorista, fracassado ou não, que chegou ao conhecimento público.
Basicamente, a maioria das pessoas que foram levadas à Justiça não seria capaz desse tipo de atentado. Muitas delas querem se tornar mártires e, por isso, falam em construir bombas.
No entanto, esses indivíduos não são inteligentes ou organizados o bastante para transformar suas fantasias em realidade ou ainda são pegos no meio do caminho por não saber esconder seus traços.
A maioria dos jihadistas desiste de um atentado a bomba nos primeiros estágios ao perceber que é muito difícil - eles podem morrer acidentalmente enquanto preparam o dispositivo.
Além disso, seu padrão de compras pode levantar suspeitas em uma farmácia local ou via internet, o que levaria a uma investigação da agência de inteligência britânica GCHQ.
Eles também podem pedir ajuda a alguém que, mesmo sem nenhuma das duas partes saber, já esteja no radar de outra agência de inteligência britância, a MI-5.
Outro caminho
Assim, como aponta o assassinato do soldado britânico Lee Rigby em 2013, quatro anos antes do ataque em Manchester, a maioria dos extremistas opta por um caminho diferente.
Automóveis e armas brancas viraram uma alternativa. Isso foi visto em 2014, quando um homem planejou um ataque a faca em Londres no dia da celebração anual do Armistício, que marca o fim da Primeira Guerra, e com o perpretado por Khalid Masood no Parlamento, em Londres, em março deste ano.
Mas enquanto facas e carros - e em menor proporção, armas de fogo - apareceram em planos terroristas recentes, ainda há pessoas que querem construir bombas para usar em lugares lotados.
Há pouco tempo, o irmão caçula do homem que planejou o ataque no Dia do Armistício se declarou culpado de tentar buscar orientação sobre como fazer uma bomba. Um de seus alvos em potencial era um show do cantor Elton John.
Considerando que a fabricação de bomba demanda conhecimento, a questão para os investigadores agora é: como o responsável pelo ataque em Manchester conseguiu esse artefato?
Há três possíveis explicações:
- Ele aprendeu com alguém como fabricá-la;
- Ele aprendeu a fabricá-la sozinho;
- Alguém lhe deu a bomba.
Explosivos sofisticados
Se ele foi ensinado a fazer a bomba, pode haver uma ligação com alguém que retornou do território sob controle do grupo autodenominado Estado Islâmico (EI) na Síria e no Iraque.
Os extremistas do EI construíram explosivos usando o tipo caseiro de estilhaços de metal encontrado no local da explosão na Manchester Arena. A al-Qaeda também já utilizou esse material.
É pouco provável que tenha sido alguém que voltou recentemente de um campo de treinamento da al-Qaeda no Paquistão ou no Afeganistão, já que se trata de uma viagem difícil de se fazer - mas essa hipótese não é descartada.
De qualquer maneira, são explosivos sofisticados, especialmente se feitos seguindo uma receita conhecida entre extremistas.
É algo que demanda engenharia. Às vezes, o processo de fabricar uma bomba não pode ser facilmente escondido. Por exemplo: os explosivos usados nos atentados a bomba de 2005 em Londres, que mataram 56 pessoas, continham um agente químico que clareou o cabelo de um dos fabricantes da bomba, e sua fumaça mata plantas.
Logo, se ele aprendeu sozinho, como conseguiu manter segredo?
Nesse caso, isso seria uma prova do quão difícil é ficar sabendo de uma ameaça se a pessoa está agindo completamente sozinha e tomando precauções bem planejadas para evitar ser descoberta.
Não é difícil achar receitas de bomba na internet - ainda que seja um crime ter esse tipo de informação -, mas muitas delas são inúteis.
Portanto, o extremista deve ter passado um bom tempo pensando e planejando isso - o que reduz a probabilidade de ele ter agido sozinho por completo.
O terceiro cenário é o pior possível porque significaria que há um técnico em fabricação de bombas à solta no Reino Unido. Seria alguém completamente fora do radar dos serviços de segurança, que encontrou uma maneira de chegar até possíveis recrutas sem se comprometer e que, portanto, poderia agir de novo.
Pistas importantes
É basicamente um caso de caça a um homem - apesar de no momento ninguém saber com certeza quem, se é que há alguém, está sendo caçado.
A polícia acredita que conhece a identidade do agressor - mas esse é um passo muito precoce. Em 2005, levou-se dias para confirmar a identidade dos extremistas responsáveis pelos ataques.
No momento, há uma enorme operação em andamento nos prédios da Inteligência britânica. Com a ajuda da GCHQ e agências internacionais, se necessário, investigadores da MI-5 vão examinar todo e qualquer item para construir uma imagem do agressor e daqueles ao seu redor.
Equipes de busca vão procurar endereços para fazer investigações e especialistas vão começar a difícil tarefa de reconstruir o explosivo através dos restos que ficaram no local.
Cientistas forenses fazem isso com qualquer bomba encontrada. Eles podem encontrar as origens da fórmula da bomba ou detalhes sobre sua técnica de fabricação, peças fundamentais que podem dar novas pistas para encontrar possíveis extremistas.
Isso pode levar meses, mas a polícia estará em uma corrida para descobrir se é o caso de um "lobo solitário" ou de um ataque de um grupo.
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