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Ikea, gigante sueca de móveis, pede desculpas por comercial que faz piada com mulher solteira

26/10/2017 08h51

A Ikea, gigante de móveis de baixo custo sueca, pediu desculpas e retirou do ar um comercial de TV na China que gerou polêmica por ser "sexista".

A propaganda mostra uma mãe repreendendo a filha por ela não ter trazido para casa e apresentado à família "um namorado".

Mulheres solteiras com mais de 27 anos ainda são alvo de forte estigma na China. Apelidadas de "mulheres que sobraram", sofrem pressão de uma sociedade que prioriza e valoriza o matrimônio.

Embora a Ikea tenha retirado do ar o comercial de 25 segundos, o vídeo ainda pode ser encontrado na internet.

A propaganda tem início com uma cena tensa durante o jantar de uma família. Uma mulher jovem se vira para a mãe e tenta, de forma apreensiva, começar um diálogo: "mamãe...".

A mãe repousa os hashis (varetas utilizadas como talheres em países asiáticos) e responde: "Se você não trouxer um namorado para a casa da próxima vez, não me chame de mamãe!".

De repente, um homem bem vestido aparece à porta com um buquê. A filha o apresenta como seu namorado.

Os pais, radiantes, decidem, então, comprar produtos para casa na Ikea e o convidam para jantar.

O comercial termina com os pais alegremente enchendo a tigela de arroz do jovem com comida, enquanto a filha observa a cena perplexa.

"Isso é errado"

A propaganda, que foi ao ar nesta semana, gerou polêmica imediata, especialmente nas redes sociais.

Muitos acusaram-na de ser sexista.

"O comercial discrimina as mulheres solteiras. Se seus próprios familiares te reprovam por não ter namorado, que tipo de mensagem isso passa?", disse uma usuária do Weibo, uma popular rede social chinesa.

"Ainda que esse tipo de situação, de fato, aconteça em muitas famílias, não é adequado retratar isso num comercial; é errado", acrescentou outra.

A Ikea postou uma mensagem pedindo desculpas em chinês e inglês, lamentando ter passado "a ideia errada".

"Esse comercial de TV mostra como a Ikea ajuda os consumidores a, de forma prática e barata, converter uma sala de jantar típica em um local adequado para uma celebração. O objetivo foi encorajar consumidores a celebrar os momentos da vida cotidiana", informou a varejista.

A justificativa, porém, não convenceu os críticos.

Alguns consideraram irônico que a propaganda tenha sido feita por uma marca da Suécia, país elogiado pela igualdade de gênero.

"Vem de um país que valoriza o direito das mulheres, mesmo assim a Ikea veiculou esse tipo de comercial", criticou uma usuária.

Outra disse: "Uma marca internacional como a Ikea deveria trazer para a China as melhores coisas do mundo. Não deveria se inspirar nos aspectos ruins da China e levar isso para o mundo".

O assunto tem se tornado cada vez mais sensível nos últimos anos, à medida que mais mulheres chinesas rejeitam a noção tradicional de que devem casar muito jovens e ter filhos.

O Partido Comunista Chinês já encorajou às mulheres a se casarem cedo.

Há alguns anos, o próprio governo publicou, em seu site, artigos sobre as "mulheres que sobram", classificando-as como mulheres com mais de 27 anos que não se casaram, gerando uma série de reclamações.

No ano passado, um comercial chinês da marca de beleza japonesa SK-II abordou a questão das "mulheres que sobram", para combater o estigma. A propaganda foi recebida de forma positiva na China.