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Trump isenta Brasil de sobretaxas sobre aço e alumínio até maio

Ricardo Senra - @ricksenra - Da BBC Brasil em Washington

23/03/2018 19h46

Dias depois de criar pânico entre produtores brasileiros com o anúncio de duras sobretaxas nas importações de aço e alumínio pelos EUA, Donald Trump assinou um novo decreto que isenta Argentina, Austrália, Brasil, União Europeia e Coreia do Sul da nova regra.

O presidente americano havia anunciado novas alíquotas de 25% sobre o aço e de 10% sobre o alumínio que são comprados pelos EUA de outros países.

A decisão teve repercussão imediata em Brasília e na embaixada brasileira em Washington, já que os EUA são os maiores compradores do aço produzido no Brasil, em um mercado que movimenta US$ 2,6 bilhões (ou R$ 8,6 bilhões).

O anúncio gerou também forte mobilização de representantes do mercado, que vêm se reunindo nos últimos meses com autoridades brasileiras e americanas na tentativa de reverter a regra.

A Casa Branca diz que o Departamento de Comércio decidirá até maio se as exceções ao Brasil e demais países ainda podem ameaçar a indústria do aço dos EUA.

Por enquanto, as taxas voltam a ser de 0,9%, para o aço e 2% para o alumínio.

"O presidente mantém ampla autoridade para modificar as tarifas, inclusive removendo as suspensões ou suspendendo outros países. Qualquer país que não esteja suspenso no momento continua sendo bem-vindo para discutir uma possível suspensão com os Estados Unidos, com base em um compromisso mútuo de abordar o excesso de capacidade e produção de aço e alumínio em todo o mundo", informou a Casa Branca após o anúncio.

Canadá e México já haviam sido excluídos do pacote de sobretaxas, anunciado em 1º de março por Donald Trump, em Washington.

Agora, com as novas exceções, Rússia, Turquia e Japão serão os países mais afetados pela medida.

O principal alvo da retórica do presidente, porém, tem sido a China, contra quem Trump vem impondo tarifas bilionárias sobre parcela significativa das exportações aos EUA.A ameaça de retaliação chinesa começa a configurar uma guerra comercial.

Aço x carvão

Ainda na defesa das exportações brasileiras, há poucas semanas, uma força-tarefa brasileira formada por empresários, políticos e lobistas, junto ao ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Jorge de Lima, e à embaixada brasileira nos EUA, participou de uma série de reuniões em Washington.

Na época, após reunião com o secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, o ministro do Comércio disse a jornalistas que não havia recebido nenhum indicativo do governo americano sobre a revisão nas taxas.

De lá para cá, o carvão que o Brasil compra dos EUA foi um dos elementos de barganha durante a negociação pelo fim das sobretaxas sobre o aço brasileiro.

O carvão americano é um dos principais motores da indústria siderúrgica brasileira - se a produção nacional cai, o que aconteceria com as sobretaxas, as importações do produto vindo dos Estados Unidos também caem.

'Aço barato'

Em abril do ano passado, o presidente americano deu início à discussão, quando afirmou que a indústria do aço dos EUA teria sido "sitiada" durante décadas por concorrentes estrangeiros "que ganharam a vida tirando proveito" de leis de comércio desfavoráveis aos americanos.

Segundo o presidente, a concorrência gerou demissões em massa e inundou os EUA com "aço barato".

Para reverter o cenário, Trump acionou a chamada seção 232, um dispositivo criado nos anos 1960 por John F. Kennedy para permitir ao presidente investigar se importações de alguns setores podem ameaçar a segurança nacional - seja pelo risco de desabastecimento ou pelo impacto econômico de uma concorrência desleal.

Em 54 anos, segundo dados oficiais, a seção 232 foi utilizada 26 vezes - e apenas cinco delas resultaram em alguma resolução presidencial (a última foi em 2001, com George W. Bush, e não teve efeitos práticos).

Os produtores brasileiros se defendem, afirmando que a produção anual de aço no Brasil é equivalente a 14 dias de produção na China.

Para se diferenciar dos chineses, os brasileiros argumentam que a indústria brasileira compra produtos americanos produzidos a partir do aço exportado pelo Brasil, como carros, maquinário pesado e locomotivas, fazendo o dinheiro circular.

A decisão também havia despertado forte reação entre outros vendedores de aço para os EUA, como Canadá e União Europeia.