5 lugares do mundo que sofrem com o excesso de turistas
Nas últimas semanas, autoridades na Tailândia e nas Filipinas decidiram fechar alguns dos seus principais - e mais populares - destinos turísticos.
Primeiro, o governo tailandês alegou que Maya Bay precisava de uma "pausa forçada" dos turistas que ocupavam o local todos os dias desde que suas paradisíacas paisagens apareceram no filme A Praia, de 2000.
Em seguida, o presidente filipino Rodrigo Duterte anunciou que a Ilha de Boracay ficará fechada por alguns meses - nas palavras dele, ela se tornou uma "fossa" superlotada.
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E esses não são os únicos destinos que estão vendo o excesso de turistas como um problema. Diversas cidades europeias, incluindo Veneza (Itália) e Dubrovnik (Croácia), acumulam reclamações de moradores após terem sido inundadas por visitantes, algo que também aconteceu na Ilha de Skye, na Escócia.
Em 2017, Barcelona abriu diversos processos contra acomodações oferecidas por meio do site Airbnb argumentando que isso estaria aumentando os custos de aluguel para os próprios moradores - era mais interessante financeiramente para o dono manter o imóvel à disposição de turistas do que alugá-lo permanentemente para quem efetivamente vivia na cidade.
Outros lugares aumentaram taxas para visitantes para proteger seus territórios. Ruanda, por exemplo, cobra US$ 1,5 mil (R$ 5,1 mil) por dia por uma autorização para observar os gorilas.
Aqui nós listamos cinco destinos ao redor do mundo que estão buscando maneiras de lidar com a alta popularidade de seus pontos turísticos.
1) Tailândia: Maya Bay finalmente consegue um descanso
Em março, as autoridades tailandesas anunciaram que estavam suspendendo as atividades turísticas de Maya Bay, a praia mais famosa do país, para dar a ela uma breve pausa.
A isolada ilha de águas transparentes, areia branca e falésias calcárias ganhou fama após Leonardo DiCaprio ter gravado ali cenas para o filme A Praia. Desde então, a média de visitantes do local passou para algo entre 4 mil e 5 mil por dia.
Especialistas afirmam que 77% dos corais de Maya Bay estão em sério risco de desaparecer - grande parte por causa dos prejuízos causados pelas âncoras dos barcos.
E a breve pausa de quatro meses planejada para esse ano (de junho a setembro) não será capaz de corrigir isso. Ou seja, seria tarde demais para salvar Maya Bay?
O cientista marinho Thon Thamrongnawasawat, que trabalha em Bangkok, acredita que não. "Se a gente achasse que era tarde demais, não faria nada", afirmou à BBC. "Nós fechamos uma ilha, a Koh Yoong, três anos atrás e os corais estão crescendo bem lá de novo. Nós vamos fazer a mesma coisa em Maya Bay e tentar transplantar alguns corais para lá nesse tempo."
A Tailândia já havia fechado dezenas de locais de mergulho em 2011. Koh Yoong, nas Ilhas Phi Phi, e Koh Tachai, nas Ilhas Similan, estão isoladas dos turistas desde meados de 2016.
Elizabeth Becker, autora do livro "Overbooked: The Exploding Business of Travel and Tourism" (em tradução livre, "Overbook: A Explosão dos Negócios de Viagens e Turismo") diz concordar com o fechamento das ilhas.
"Eu acho que faz sentido. No entanto, há muita pressão econômica na Tailândia, especialmente durante esses tempos políticos tão difíceis. O turismo tem sido crucial para o desenvolvimento econômico do país, então os donos de negócios e autoridades tailandesas estão com medo de que isso represente um prejuízo para a economia local", explicou.
Thamrongnawasawat afirma que esse é o motivo pelo qual levou tanto tempo para o governo tomar alguma atitude com relação a Maya Bay. "Se você está em um país onde 22% do PIB vem do turismo, você entende o quão difícil era tomar alguma medida nesse sentido. A maioria das pessoas não achava que isso pudesse acontecer."
Quando Maya Bay reabrir, as regras para visitação vão mudar - o número de turistas por dia será limitado em 2 mil. Barcos também não poderão mais cruzar o recife mais raso. E a ilha ficará fechada novamente por quatro meses no ano que vem.
No entanto, Worapoj Limlim, chefe do Parque Nacional da região, afirmou à publicação Phuket News que não sabe como fará para fiscalizar as novas regras e que poderá precisar de reforço das autoridades para "patrulhar" a ilha.
2) Itália: Cinque Terre testa tecnologia
Os turistas não se cansam de visitar as cinco pequenas cidades brilhantemente pintadas em penhascos no norte da Itália, conhecidas como Cinque Terre. A área, que tem cerca de 5 mil moradores, tornou-se um parque nacional em 1999 e agora recebe mais de 2 milhões de turistas por ano.
As pessoas viajam até lá para percorrer os caminhos pitorescos que ligam as cidades e os vinhedos. No entanto, ao longo dos anos, as passagens foram às ruínas devido à erosão e ao uso excessivo pelos turistas.
A rota mais popular da região entre Riomaggiore e Manarola está fechada desde setembro de 2012, depois que um grupo de turistas australianos ficou ferido em um deslizamento de terra. Outro turista acabou machucado em um caminho diferente no feriado de Páscoa neste ano, segundo o site La Nazione.
Desde então, as conversas sobre limitar o número de visitantes do local se intensificaram - mas nada aconteceu oficialmente ainda.
Recentemente, as autoridades do parque testaram um aplicativo que turistas podem baixar para ver o número de pessoas presentes em cada rota em tempo real. Quando um alerta vermelho aparece, é porque o caminho está cheio, e visitantes podem repensar se querem mesmo se juntar às multidões. No futuro, a ideia é tentar fazer também listas de espera virtuais.
Os turistas também podem comprar um Cartão Cinque Terre, que permite acesso aos trens e ao transporte público. Não é obrigatório, mas os rendimentos do cartão servem para financiar os reparos nas trilhas, entre outras coisas.
Richard Hammond, que é responsável pelo site GreenTraveller.com, afirmou à BBC que esse é o melhor momento para uma mudança.
"As pessoas estão ficando mais conscientes sobre como estão viajando e como estão vivendo. Por exemplo, há muito mais conscientização hoje em dia sobre o uso do plástico. O que mostra que esse é um momento mais propício para se propor mudanças. O caminho está aberto para governos e autoridades locais agirem, pois não terão tantas reações adversas", reforçou.
3) Peru: Machu Picchu aposta em períodos mais curtos de visitas
A antiga cidade inca de Machu Picchu, no Peru, é destino certo para muitos viajantes.
A famosa Trilha Inca permite que os visitantes caminhem até a cidade em meio a paisagens andinas e florestas nubladas, o que muitos dizem fazer da experiência algo ainda mais gratificante.
No entanto, muita gente viajando ao mesmo tempo com guias não regularizados acabou fazendo com que as rotas ficassem danificadas, com pilhas de lixo se acumulando e acampamentos se multiplicando sem qualquer controle.
Em 2005, o governo do Peru impôs um limite ao número de pessoas que poderiam visitar o local por temporada. E também determinou o fechamento da região todo mês de fevereiro para limpeza e manutenção.
Turistas se adaptaram às novas regras e passaram a reservar suas visitas com antecedência, e as empresas de turismo tiveram que obedecer às determinações para não perderem a autorização de explorarem o local.
No entanto, ainda há turistas inundando Machu Picchu, já que, para a maioria das pessoas, o local pode ser acessado por estradas.
No ano passado, as autoridades inauguraram um novo sistema na tentativa de limitar o número de pessoas na região: agora seria necessário comprar um ingresso para a manhã ou para a tarde em um esquema que controlava a quantidade de tíquetes vendidos.
No entanto, um ambientalista local disse à BBC que isso pode representar apenas uma solução imediatista e paliativa. A região é conhecida por ultrapassar o número de pessoas recomendado pela Unesco, que seria de 2,5 mil visitantes por dia.
4) Coreia do Sul: Jeju Island, o paraíso exótico superlotado
Você consegue adivinhar qual seria a rota de voo mais concorrida no mundo?
No ano passado, a vencedora foi aquela que liga a capital da Coreia do Sul, Seul, e Jeju Island, um destino turístico a 90 km de distância do continente. As pessoas vão para lá para apreciar as paisagens vulcânicas, as cachoeiras pitorescas e um parque de diversões erótico, popular entre os recém-casados em lua de mel.
Em 2017, quase 65 mil voos ligaram os dois aeroportos - seriam quase 180 por dia. Por ano, cerca de 15 milhões de turistas visitam a ilha, de acordo com o jornal South China Morning Post. O que significaria uma multidão para uma área de apenas 2 mil quilômetros quadrados.
Para Kang Won-bo, diretor de um grupo de manifestantes locais, há um problema ambiental em jogo ali.
"O ambiente de Jeju, que era intocado até pouco tempo atrás, agora tem sido danificado de maneira grave após ter se tornado um destino popular para turistas. Há muito lixo e engarrafamentos gigantescos."
Catherine Germier-Hamel, uma consultora em turismo sustentável que mora em Seul, afirma que o turismo nem sequer tem contribuído para a economia local.
"A ilha recebe muita gente pelos cruzeiros. Essas pessoas ficam apenas algumas horas ali e não contribuem efetivamente para a economia local", explicou.
Germier-Hamel diz que, ao redor do mundo, as pessoas tendem a medir o sucesso do turismo apenas em números de visitantes, e isso deveria mudar.
E a quantidade de carbono que todos esses voos acabam depositando na ilha?
Não parece que isso seja algo que vá mudar tão cedo: o governo da Coreia do Sul está considerando fazer outro aeroporto na ilha, já que está projetando o aumento do número de turistas para 45 milhões até 2035.
A Ilha de Jeju é popular principalmente entre os turistas chineses. O crescimento do mercado de viagens a partir China é visto, aliás, como a maior causa das tensões recentes na região.
No ano passado, a China chegou a proibir suas agências de viagens de vender pacotes para a Coréia do Sul em protesto contra a decisão de Seul de utilizar um sistema de defesa antimísseis americano para a segurança. Essa proibição, porém, acabou recentemente.
5. Colômbia: Caño Cristales cria novas regras
Caño Cristales é um rio que parece correr refletindo um espectro inteiro de cores. Graças às plantas aquáticas que ali habitam e que refletem a luz do sol, ele fica vermelho, rosa, verde e amarelo. Moradores dessa região da Colômbia chegaram até a apelidar o rio de "arco-íris líquido".
No passado, esse era o coração do território ocupado pelas guerrilhas das Farc, o que significa que o turismo ali era praticamente inexistente.
No entanto, recentemente - especialmente depois do acordo de paz selado em 2016 -, visitantes começaram a se aventurar mais a fundo no país e quiseram ver essa maravilha de perto, usando a pequena região de Macarena como local para hospedagem.
Ao contrário dos outros lugares citados nessa lista, Caño Cristales ainda não recebe milhões de turistas por ano (foram cerca de 16 mil em 2016), mas já enfrenta o desafio de conseguir equilibrar um fluxo desgovernado de turistas com um ecossistema extremamente delicado.
Há preocupações de que a presença de mais pessoas na área possa causar um aumento na poluição e danificar as preciosas plantas aquáticas do rio.
No entanto, para um destino turístico emergente, ele até que começou bem, inserindo uma série de regras: garrafas de plástico não são permitidas, assim como protetor solar ou repelente de insetos na água. Algumas áreas são proibidas para nado, e também não é permitido alimentar os peixes, nem fumar na região. Na chegada, os visitantes participam de um briefing para garantir que tudo isso esteja claro.
Henry Quevedo, presidente do conselho de turismo de Caño Cristales, explicou que o turismo ali ainda era um projeto local, com centenas de famílias assumindo as funções de guias turísticos. Agora, eles estão passando por treinamentos e aprendendo outras línguas para receberem melhor os turistas.
No entanto, ainda há preocupações ambientais diante da possibilidade do aumento do número de voos (os visitantes em geral chegam vindos de Bogotá) e da presença de vans, que levam as pessoas de Macarena até o rio.
Em dezembro, o acesso foi restrito para dar ao rio um descanso. Faber Ramos, coordenador do programa de ecoturismo, explicou ao site Semana Sostenible: "A presença humana pode prejudicar o processo de reprodução das plantas. Por isso nós decidimos implementar esse período de restrição".
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