A volta da tradição católica que promete perdão dos pecados ao atravessar porta de igreja
É uma tradição católica que começou em 1294: todos os anos, sempre no mês de agosto, quem atravessa a porta principal da Basílica de Santa Maria de Collemaggio em Áquila, na região dos Abruzos, Itália, recebe da Igreja a indulgência plenária - ou seja, o perdão dos pecados.
Esse salvo-conduto para o Paraíso na histórica catedral, entretanto, havia sido interrompido em 2009, quando, em 6 de abril daquele ano, um terremoto de magnitude 6,7 teve seu epicentro justamente na cidade.
A tragédia deixou 309 mortos, cerca de 1 mil feridos, 15 desaparecidos e centenas de edifícios parcial ou totalmente destruídos. Entre esses edifícios, a histórica basílica. Que, logo em seguida, começou a ser recuperada, em obras que foram concluídas em dezembro de 2017.
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Neste agosto, portanto, conforme informa o Vaticano, pela primeira vez desde o terremoto de 2009, o chamado Perdão Celestino "retorna em toda a sua dimensão histórica e espiritual".
Até o dia 29 de agosto, os fiéis podem atravessar a chamada "porta santa" da Basílica de Santa Maria de Collemaggio e, assim, serem perdoados de seus pecados.
Para Massimo Alesii, porta-voz do Comitê do Perdão Celestino, a volta ao nascedouro da tradição representa "um momento de renascimento" para os devotos.
Perdão celestino foi o primeiro jubileu da história
Considerado o primeiro Jubileu da História, o "Perdão Celestino" foi criado a partir de uma bula papal promulgada pelo papa Celestino 5º, em 1294.
De acordo com registros do Vaticano, Celestino 5º se tornou o 192º papa da história da Igreja depois de um tumultuado conclave, que chegou a ser interrompido por conta da peste negra e acabou elegendo um novo pontífice apenas dois anos depois de seu início.
E o escolhido foi alguém de fora do Vaticano, no caso o religioso Pietro da Morrone, um beneditino que vivia como ermitão. Com o resultado do conclave, uma comitiva formada por três bispos foi designada a encontrar o asceta e dar a ele a notícia.
Encontraram-no no maciço de Maiella, nos Apeninos, no eremitério de Santo Onófrio. Informado da eleição para o cargo, Pietro aceitou a incumbência divina, assumiu o nome de Celestino V e resolveu ser coroado papa não em Roma, mas em Áquila.
E, conforme a historiografia oficial, foi montado em um burro que ele adentrou a cidade em 29 de agosto de 1294. Nobres, cardeais e, segundo o Vaticano, uma multidão de 200 mil fiéis se apinharam para aplaudir o novo papa e rezar com ele.
Seu primeiro ato foi uma bula, ou seja, um documento papal, concedendo o perdão dos pecados a quem passasse por aquelas portas.
O Perdão Celestino é considerado patrimônio imaterial da Itália desde 2011. E avança o processo para que seja reconhecido pela Unesco como patrimônio imaterial da Humanidade - de acordo com o Vaticano, a candidatura deve ser homologada em 2019.
Comemoração a cada 25 anos
Segundo os registros do Vaticano, o Perdão Celestino foi a antecipação de uma celebração que se tornaria frequente na Igreja Católica: o Jubileu.
Trata-se de uma comemoração católica que em geral ocorre a cada 25 anos - os chamados "ano santos" - e são momentos em que a indulgência plena é concedida àqueles que, com fé, cruzam por portas de igrejas de todo o mundo.
Há duas explicações para o nome. A primeira diz que a palavra jubileu vem do hebraico yovel, referindo-se ao carneiro, animal cujo chifre, transformado em corneta, seria utilizado para anunciar o período festivo.
Outra interpretação afirma que yovel significa "trazer de volta", numa alusão a essa chamada, com o perdão, a todo o rebanho cristão.
O primeiro Jubileu da história foi instituído por bula papal de Bonifácio 8º em 1300, ou seja, seis anos após a edição inicial do Perdão Celestino.
Segundo levantamento realizado, a pedido da BBC News Brasil, pelo teólogo e filósofo Fernando Altemeyer Júnior, professor de Ciências da Religião da PUC-SP, nesse formato já foram realizados 28 jubileus católicos.
Nem sempre isso ocorreu com regularidade. O primeiro foi em 1300; o segundo, apenas 50 anos depois, em 1350. Depois, em 1390 - portanto, 40 anos mais tarde.
Mesmo quando o evento engrenou em uma lógica de 25 em 25 anos, houve falhas. Não foi realizado Jubileu em 1800 nem em 1850.
E é facultado aos papas o direito de decretar jubileus extraordinários. Como João Paulo 2º fez em 1984, por exemplo. E como Francisco fez em 2015.
Na inauguração deste último, inclusive, um fato inédito ficou na história da Igreja: pela primeira vez dois papas católicos participaram juntos de um evento.
Toda a cerimônia foi conduzida por Francisco, e o papa emérito Bento 16 - que renunciou ao cargo em fevereiro de 2013 - foi o convidado de honra.
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