Eleição movida por debate 'tóxico' nas redes sociais expõe 'fraturas' na democracia brasileira, diz Financial Times
Estampando uma foto de dois ônibus em chamas no Brasil, o jornal britânico Financial Times destacou em uma reportagem de página inteira que "o insaciável apetite pelas mídias sociais" suplantou a televisão, intoxicou o debate político e expôs as "fraturas da democracia" do país nestas eleições.
"A indignação popular está sendo ampliada por um debate eleitoral tóxico e muitas vezes inventado nas mídias sociais", afirma o FT, na edição desta sexta-feira.
Para o jornal, a recessão econômica e os escândalos de corrupção deixaram o país "mais vulnerável a um choque político radical do que talvez qualquer outra democracia no mundo".
O FT diz que o maior beneficiário da força das mídias sociais nas eleições é o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), comparado pela publicação como uma mistura dos presidentes Donald Trump e Rodrigo Duterte (Filipinas). "Apesar de ter quase três décadas na política, ele é visto por muitos eleitores como um outsider diante de um establishment político desacreditado", diz o jornal.
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Segundo a publicação, depois da mais profunda recessão do último século, o "respeito pelo governo sofreu um golpe e, ao mesmo tempo, um escândalo multimilionário de corrupção deixou desacreditada uma grande parcela da classe política".
O jornal destaca ainda que o principal adversário de Bolsonaro é Fernando Haddad, que pode ser visto como "uma figura relativamente moderada, apesar da retórica de seu partido estar indo para a esquerda". O FT diz que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva controla o partido da cela onde cumpre pena por corrupção e lavagem de dinheiro e lembra que o PT faz campanha aberta contra o Judiciário e há tempos tenta impor controle sobre a mídia.
Para o FT, tanto Bolsonaro quanto Haddad são populistas.
"Um segundo turno entre os dois populistas é visto como um pesadelo pelo mercado", diz o jornal, emendando que o mercado esperava que Geraldo Alckmin (PSDB) fosse um candidato mais forte - mas ele está atrás nas pesquisas, com 9% da intenção de votos.
O jornal lembra, contudo, que "nos últimos anos a democracia em países ocidentais tem sofrido uma crise profunda com partidos tradicionais murchando, outsiders vindo à tona e a confiança do público nas instituições caindo abruptamente".
Fake news
A publicação britânica associa o crescimento do uso de smartphones no Brasil à escalada do "amor dos brasileiros pelas mídias sociais" e diz que o apetite por esse tipo de plataforma só acalora o debate.
Também destaca o risco de proliferação de notícias falsas: "Brasileiros se mostram tão vulneráveis a notícias falsas quanto cidadãos em outros países".
Analistas ouvidos pela publicação destacaram que a plataforma mais influente desta eleição não é o Facebook nem o Twitter, mas o WhatsApp.
"Com grupos criptografados, o WhatsApp é mais difícil de monitorar e ainda muito eficiente em espalhar mensagens, sejam reais ou falsas."
"A tecnologia e as mídias sociais têm afetado o resultado das eleições no mundo. O Brasil tem sido rotulado de "o país do futuro" e sempre vai ser. O futuro pode ter finalmente chegado na forma de distopia", diz a última frase da reportagem.
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